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Pandemia mostra que há muito o que aprender quando se trata de Amazonas, alerta professora da Ufam

Nesta terça-feira (8/9), o Amazonas atingiu a marca de 124.223 casos confirmados da covid-19. O número de mortes chegou a 3.855

Com mais de 3,8 mil mortes e mais de 120 mil pessoas contaminadas até o dia 8 deste mês de setembro, a Covid-19 ainda é um desafio para as autoridades do Estado do Amazonas. Mas apesar dos números alarmantes da atualidade no País e no mundo, com o tempo, a Covid vai se tornar mais uma gripe como as outras, que vêm e vão todos os anos.

O alerta é a professora e médica Heliana Nunes Feijó Leite, 65, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Cansada de cobrar medidas preventivas práticas e simples, como disponibilizar água e sabão, Heliana pede reflexões às autoridades do Estado, ela afirma que não dá para cobrar água e sabão da população num Estado onde dois milhões de habitantes não tem esgotamento sanitário e mais de 633 mil vivem sem água potável.

Radicada no município de Parintins desde março deste ano após a aposentadoria, onde mantém o olhar atento aos desdobramentos da pandemia, a médica e professora declara-se descrente de soluções compatíveis com a necessidade da saúde pública.

Segundo ela, há várias denúncias de pesquisadores que estão atuando na pandemia dando conta de que governos e prefeituras em todo o País fraudam até mesmo o álcool em gel e fazem testes falsos para ludibriar a população, dando a impressão da normalidade, indicando um futuro triste, com a prevalência dos que só querem manter seus lucros.

“Vamos ter uma vacina, sim, mas essa Covid, com o passar do tempo, vai ser igual a outras gripes, todos os anos vão fazer vacina com vírus circulantes, a única e grande preocupação é que os estudos não podem parar porque ele é de rápida mutação”, adverte.

Para ela, não adianta culpar o cidadão brasileiro que precisa sair de casa para buscar o sustento da família, até mesmo ficando horas em filas para receber o auxílio governamental. “A culpa maior está mais em cima, tem nomes, sobrenomes e cargos governamentais”, diz.
Desde o início da pandemia, ela chamava a atenção para os cuidados com o interior do Estado. Na época, ela já vislumbrava o grande número de mortes na zona rural superando o da capital. E botava a boca no trombone para alertar para a alta letalidade do Covid-19.

Atuando há mais de 40 anos no interior, desde que iniciou no programa Internato Rural da Faculdade de Medicina da UFAM, que faz parte do currículo de formação do estudante de Medicina daquela instituição, Heliana cobra a implementação de programas e projetos importantes para essa área ficaram guardados em gavetas.

Durante sete anos, no governo de Eduardo Braga, ela foi responsável pela área do interior da Secretaria de Estado da Saúde (Susam). Conseguiu realizar muitos projetos, mas um dos principais, que era implantar cinco leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos municípios polos de Parintins, Itacoatiara, Manacapuru, Tefé e Tabatinga, e dessa forma atender a todo o Estado, ainda não foi possível. Mas por conta da pandemia, foram criados leitos de Unidades de Cuidados Intermediários (UCIs) em todos os municípios, o que trouxe um alento para a manutenção da vida.

Sempre que pode, Heliana vai à orla acompanhada do marido, apreciar as águas do Rio Amazonas, que banham Parintins, a terra dos bumbás. Para ela, a imensidão das águas traz uma importante reflexão que ainda é atual no Estado. “Precisamos concentrar os recursos tecnológicos, de diagnóstico e tratamento no interior do Estado para dar o direito universal da saúde pública a todos amazonenses”, garante.

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