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A tecnologia e o espetáculo das eleições majoritárias de 2022

Por Antônio Siemsen Munhoz

Como eram as coisas

Os partidos políticos podem pagar caro pelas trapalhadas que seus adeptos faziam quando estavam no poder. Os políticos usavam e abusavam dos chamados ao vale tudo. A verdade de ontem acabava transformada, no mesmo contexto, na mentira de hoje. E as mentiras de ontem se transformam em verdades. Assim disse Aldous Huxley em sua obra na qual ele chamou esta nova língua de – novilíngua – e este novo contexto como – o admirável mundo novo. Não havia ficção científica melhor para explicar como as coisas andavam lá no reino da Dinamarca (continuavam  podres). Parece que o povo novamente cansou, principalmente quando enxerga ao longe a possibilidade da volta do autoritarismo com seus grandes antolhos a impedir a visão da realidade periférica.

Como ficaram as coisas quando mudou o poder?

A primeira coisa foi a divulgação, aos quatro cantos, que todos nós vivíamos em um novo contexto no qual a corrupção havia sido enviada para as calendas gregas. Os pedidos das pessoas por uma passagem para Pasárgada aumentavam a olhos vistos. Lá todos são amigos do rei que a qualquer ofensa a um eleitor, por mínima que seja, desce de seu pedestal assumindo a defesa do que não tem defesa. Aqueles que ganharam tripudiaram sobre todos os derrotados. Cargos foram para as cucuias, detratores que antes vestiam roupas de carneiro, pareciam tal e qual o fantasma do chapeuzinho vermelho. Mas quem esperava mudanças chorava sobre o leite derramado e lamentavam por todos os espelhos que andaram quebrando por aí. Mas ninguém perde por esperar e uma nova eleição majoritária que estava chegando acelerando os benefícios que o poder costuma distribuir aos que não merecem. O troca-troca (economia corporativa) era geral.

Onde entra a tecnologia, ajudando quem já tem demais?

No admirável mundo novo, que ninguém ainda viu ou sequer sabe onde fica (esconderijo dos grandes mentirosos que contém políticos de todos os lados) é mais uma oportunidade de acessar, de forma altamente ampliada o festival de besteiras que assola o país, algo que já foi lembrado por um dos expoentes em todos os meios de comunicação de massa (Stanislaw Ponte Preta). Também é uma época em que mais uma vez, por paradoxal que possa parecer a tecnologia (nunca neutra como muitos propagam) se coloca à serviço do poder dominante, na sociedade do grande irmão, mostrado ao público pelo insigne ficcionista George Orwell). Como as tecnologias têm alto custo é claro que está reservada para o alto clero a sua propriedade e uso desenfreado. Elas são chamadas tecnologias exponenciais e atendem o canto da sereia que procura alegrar a tudo e a todos, carregando tantos novos náufragos quantos forem possíveis. Shows, espetáculos circenses tanto nas arquibancadas como nos picadeiros se sucedem para gáudio dos irônicos e que conclamam todos a participar . Surgem as faces inocentes, os sorrisos em profusão. Políticos antes circunspectos, agora distribuem santinhos.

Como as coisas vão ficar?

Alguns mais irônicos dizem, tudo como dantes no quartel de Abrantes, ou seja tentando se manter em um governo sem governo e que, por isso mesmo, quer continuar como governo. A tecnologia nos tornou prossumidores: aqueles que ao mesmo tempo consomem e produzem informações distribuídas a mancheias. Aí todo mundo pode falar o que quiser falar. As redes sociais mostram as mãos abanando chamando os mais diferentes tipos de problema. As FAKE News dominam verdades e mentiras, meias-verdades e meias-mentiras, e todo mundo denigre todo mundo. Políticos mais espertos oferecendo pão e circo trazem a alta tecnologia do metaverso, que promete que lá, algures, cada pessoa é aquilo que ela quer, dotando seus avatares de beleza ímpar.  Tudo é polarizado, cai nas redes sociais e tem crescimento exponencial com as pessoas pouco preocupadas com a veracidade dos fatos. Se as eleições de 2018 ofereceram com apoio americano e russo (em nosso contexto os políticos servem igualmente a santos e a diabos), o festival de besteiras, é fácil imaginar o que acontecerá por detrás das quatro paredes com as tecnologias dominantes na mão dos poderosos. Terá o público força para vencer este tropel de tecnologias?

Será que o circo irá vencer mais uma vez? Ou será que alguns poucos arautos irão conseguir trazer para o palco feericamente iluminado o uso da tecnologia para discussão dos aspectos éticos de sua utilização na divulgação de candidatos tais como: O João da Rosinha. O José da padaria da esquina. São nomes propositadamente exagerados, que beiram o ridículo ou nele mergulham profundamente. A polarização é o foco desejável para uma falsa polarização. Se duas notícias são mentirosas, qual será a maior delas? As pessoas vivem na estratosfera do bombardeio. A tecnologia faz a mídia tradicional se esconder para não desaparecer, envergonhada com o que é possível ouvir circulando por aí.

A tecnologia pode ou não estar do lado dos vencedores ou do lado dos perdedores, mas será sempre a grande vencedora, pela incrível possibilidade de disseminação que ganha uma notícia que segundos depois, já deu algumas voltas pelo mundo. As tecnologias trazem atreladas à tiracolo um grupo de enganadores regiamente pagos pelos partidos políticos, para não passarem por mentirosos, quando a verdade se revelar, quando um sem número de promessas começam a se revelar com uma quimera, proveniente de Medéia, aquela bruxa que sempre aparece nas horas erradas.

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