Antonio Siemsen MunhozCOLUNAS

O que a informação significa para você?

Por Antônio Siemsen Munhoz

Situação atual

Tornou-se cansativo ouvir o bordão: a informação é o bem mais precioso das pessoas e empresas. Ele foi repetido centenas e milhares de vezes. Certamente o será muito mais no contexto de uma pandemia que faz com que seu valor cresça ainda mais. A informação nasce da coleta, armazenamento e recuperação de dados. Eles são transformados em informações. Estas, por sua vez, são transformadas em informações estruturadas. São elas que dão suporte aos processos de tomada de decisão. A continuidade do processo estará garantida enquanto existir alguém no outro lado da linha. É importante que as pessoas tenham conhecimento de sua importância e o quanto  cada um deve lutar para que seja atingido um patamar em que o que cada um recebe provenha de fonte confiável, seja mantida em sua integridade e com garantia de segurança. Assim se apresenta a informação fidedigna. Tudo isto envolve um processo informação obtido como resultado direto das interações que as pessoas fazem nas redes. Hoje elas são o ponto de encontro multicultural. Segundo Gates[1] o que lá é recolhido e armazenado permite povoar a estrada da informação e comprovar a afirmativa que digitalização será total englobando todas as informações criadas pelo homem como posto na visão de Nicholas Negroponte[2].   

Partindo da obtenção até a  disseminação das de informações

A informação é procurada e adquirida via pesquisas. A atividade é conhecida como mineração de dados ou data mining. Obtemos, como resultado, dados não estruturados armazenados em grandes séries históricas durante a atividade conhecida como data warehouse. A estruturação dos dados passa por grandes transformações quando sob o crivo da inteligência empresarial apresentada como BI – Business Intelligence. Esta fase criou uma nova e valorizada profissão: o analista de dados. É ele  que desenvolve a atividade de análise e transformação dos dados (Data Analisys). Após sua estruturação ela é recuperada e disseminada via pesquisa de dados (Data Query). Modernamente os termos Cloud computing (computação em nuvem) e BigData são inseridos no contexto aproximando as atividades de um futuro cada vez mais próximo. Neste momento será agregado ao ambiente um grupo de conhecimentos provenientes de uma ilustre convidada a IA – Inteligência Artificial. Ela coloca uma pergunta no ar: será ela que dará forma diferenciada à informação estruturada, como ela é utilizada nas atividades de tomada de decisão, com cuja posse são premiados os bons administradores? O aumento do cuidado em cada fase descrita poderá trazer resultados positivos na captura, armazenamento e recuperação das informações.

A reação das pessoas

Esta repetição pode cansar as pessoas e provocar reações indesejadas. A reação observada é natural. A pessoa passa a ouvir, ler e assistir vídeos sem mais prestar atenção aos ecos que são reproduzidos e multiplicados até perder seu significado com o distanciamento da fonte. A displicência na captação e compreensão da informação traz alguns inconvenientes: em termos escritos nos tornamos copiadores, tal e qual plagiadores de muitas viagens.  Em termos audíveis parecemos papagaios em arremedos sonoros, com sons distorcidos que acabam por dissolver significados. Em termos de imagem, deparamos com um impacto do visual cada vez mais bem cuidado que pode nos colocar longe do verdadeiro significado das coisas. Está tudo tal e qual vivêssemos na sociedade do espetáculo, conforme enunciada por Guy Debord (Sociedade do Espetáculo[3]), escritor marxista francês, cujos trabalhos são apoiados na obra de Lukakz e de seu ser social[4]. Uma sociedade na qual a fantasia toma lugar da realidade.

O processamento da informação

Parece que do momento em que ligamos nosso equipamento móvel, como sempre acontece no mundo da tecnologia, até o momento que o desligamos e o deixamos jazer em algum canto, não sabemos mais selecionar e muito menos guardar informações importantes. Cessa o blá, blá que martelou nossos sentidos, ele é apenas percebido como um ruído de fundo. Não sabemos mais diferenciar o que é realidade do que é fake news. Perdemos a capacidade de discernir, distraídos que fomos por tantos desvios que nos levam às profundas da grande rede (a caminho de se tornar a internet de todas as coisas, superando as já grandes expectativas em torno do uso desta nova tecnologia). É criada a web profunda (a zona de disseminação do obscurantismo na qual o cibercrime é a principal diversão) onde inocentes caixas podem ser transformadas em caixas de Pandora[5] O mal é mais permanente e duradouro. Desta forma, aceitamos passivos que ocorre ao nosso redor, sem saber realmente o que está acontecendo. Isto ocorre diuturnamente e está sujeito a um descarte não seletivo. Tudo é colocado como farinha do mesmo saco tanto com relação ao que é guardado como com relação ao que é descartado.  Fica com cores esmaecidas a pretensão que o armazenamento da informação é o bem mais precioso que alguém pode acumular. Esta vontade se deixa vencer quando o volume de informações deixa de ser algo ordenado e coordenado. Passamos a vivenciar uma navegação pelas águas revoltas dos erros que a humanidade cometeu e que provoca: a perca da informação estruturada, íntegra, confiável e verdadeira, auxiliar direta aos gestores e também para cada um de nós para tomada de decisões mais acertadas.

Uma herança nada saudável

Todos somos supérstites do tempo de uma pandemia que corrompe e rompe com a informação em frangalhos, embaçando os significados que dela poderiam ser obtidos . Se antes tudo estava perdido, imagine agora que a luta pela sobrevivência ultrapassa qualquer contenção que a ética possa recomendar. Passamos por águas quase estáticas, ocupadas por uma infinidade sargaços que dificultam a navegação. Qualquer navegação se torna uma atividade insossa da qual pouca coisa pode ser aproveitada. Esta navegação em águas paradas parece pagar os erros  que a humanidade cometeu. A partir daqui se perde a certeza de que a informação pode ser o bem mais precioso para empresas e para pessoas, por lhes dar a habilidade e competência de apresentar elevada competividade. Não vamos questionar a sua neutralidade, a sua presença é cada vez mais ausente. Não existe mais ingenuidade que permita considerar que ainda existem pessoas que façam o bem, sem olhar a quem e desejem para todos, toda a felicidade do mundo. Isto foi em um passado que ocorreu somente na visão de Cândido[6]. Herói defensor do otimismo acima de tudo. Um simplista que saiu da pena de Voltaire[7] quando este escreveu um conto sátiro, de sentido irônico, que refletia o otimismo de Leibniz[8] (filósofo que deixou muitos alunos sofredores por detrás de seu rastro, ao criar trabalhos matemáticos que exigiam e ainda exigem muito de todos: o cálculo diferencial e integral). Ele fazia isto através de Pangloss[9].

Uma decisão a tomar

O que fazer com o desvirtuamento da informação? Abandonar o campo de luta ou lutar para que ela volte a ser fidedigna? Será que devemos seguir aqueles que querem largar tudo e chutar o pau da barraca? Será que devemos continuar apenas como leitores, observadores e ouvintes, relatando desgraças alheias e que nos atingem por tabela? Devemos quedar estáticos sentados na beira do caminho como pessoas que não reagem e aceitam a realidade como ela lhes chegam? Os questionamentos se multiplicam. Antes de tomar qualquer atitude o mais certo, nem sempre o caminho escolhido, é ocupar o lugar na arena e lutar contra os leões. Assim faremos como os cristãos que não concordavam com o que pensava Nero[10], o imperador romano. Um louco que colocou fogo em sua própria moradia e na moradia de cada um de seus concidadãos. A reconstrução e superação das dificuldades sempre foi uma das competências e habilidades que parecem estar encravadas no DNA do ser humano. É hora de dar valor e respeito ao que nos colocou Charles Darwin[11]  que garante: não ser o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas aquele que se adapta às mudanças”. E as mudanças para um novo tempo somente poderão ganhar força se suportadas por um volume de informações que nos descortine o futuro das ações que, daqui para a frente deverão ser tomadas pelo ser humano. Você é a melhor pessoa para, no término da leitura deste texto, responder se vale a pena lutar e o quanto lutar para continuar obtendo informações fidedignas. As orientações dos seus atos para tanto estão disseminadas na grande rede.

Antonio Siemsen Munhoz, Doutor em engenharia da produção, professor universitário e pesquisador de tecnologias do Centro Universitário Uninter, ESE – Escola Superior de Educação.


[1] GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo: Cia das letras, 1995.

[2] NEGROPONTE Nicholas. São Paulo: Cia das letras, 1995.

[3] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro:  Contraponto. 1ª edição, 2007.

[4] ESCURRA, Mariá Fernanda. A ontologia de Lukács e a restauração da crítica ontológica em Marx Mario Duayer Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Online. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/rk/v16n1/v16n1a03.pdf. Acessado em março 2021.

[5] Caixa a qual uma vez aberta, jogaria no ambiente todos os males do mundo.

[6] Herói defensor do otimismo acima de tudo, colocado a lume pela pena de Voltaire.

[7] VOLTAIRE. Cândido, ou o otimismo. Rio de Janeiro: editora Penguim, 2012.

[8] A leitura da obra de Perkins permite conhecer melhor sua linha filosófica e pode ser lida em PERKINS Franklin. Compreender Leibniz. Rio de Janeiro: editora Vozes, 2009)

[9] O mentor de Cândido no mundo do otimismo

[10] Imperador Romano que ateou fogo na cidade de Roma que carrega a crença de que, enquanto Roma ardia em chamas, ele tocava sua lira e compunha.

[11] Naturalista, geólogo e biólogo britânico que deixou como herança uma obra de inestimável valor: o origem das espécies utilizada para explicar a vida e a diversidade na Terra. DARWIN, Charles. Origem das espécies e a seleção natural. São Paulo: editora Madras, 2011.

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