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Editora Valer lança neste sábado, durante live, a obra “Cidade Mítica, de Bernadete Andrade

Lançada 14 anos após a morte da desenhista e professora de Artes da Ufam, a obra é fruto da tese de doutorado dela, na qual busca o resgate da memória indígena esquecida e enterrada na cidade

Ana Celia Ossame

Uma obra que transforma os escombros ou ruínas em memória viva. Assim a Editora Valer define a “A Cidade Mítica-– uma poética das ruínas ou a cidade vista pelo imaginário do artista”, da pintora, desenhista e professora de artes Bernadete Andrade (1953-2007), a ser lançada neste sábado (21/8), com direito a live e uma conversa franca a partir das 10h, na rede social Facebook.

Fruto da tese de doutoramento da artista, defendido há 19 anos, a obra póstuma, é tão atual por trazer o mito, a realidade, a Filosofia, a Arte, a ciência e a poesia, sobretudo, na visão dessa grande artista amazonense, que a compôs, diz a coordenadora editorial da Valer, Neiza Teixeira.

Com a proposta de recriar e reconhecer o cenário amazônico para trazer de volta a memória viva sobre a História e ancestralidade de Manaus, deixando sua última pesquisa para o deleite de novas gerações de manauaras, a obra de Berna, como era chamada a artista, “procura recolher cinzas e fragmentos de um tempo perdido e que explora, por meio da poética visual, o que ainda podemos encontrar da riqueza mítica imaginária, que a cidade, em seu processo de evolução, vai abandonando. Uma verdadeira poética das ruínas”.

Lançamento

O lançamento será feito pela rede social Facebook, com a com a participação do artista e mestre em comunicação pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Gabriel de Andrade, filho de Bernadete, da professora da UFAM, Magela Andrade, irmã da artista, do escritor João Paes Loureiro, da escritora Priscila Pinto, da professora Socorro Jatobá, da escritora Lúcia Rocha e da jornalista Mirna Feitoza.

A mediação desse bate-papo será por conta da doutora em Filosofia e coordenadora editorial da Editora Valer, Neiza Teixeira.

Magela afirma que a publicação do livro de Bernadete, pela Editora Valer, é uma forma não só de trazer de volta a pesquisadora, mas estabelecer um diálogo com a história, urbanismo e arquitetura tão necessário nos dias de hoje.

“Trata-se de uma etnometodologia reflexiva de trabalhos de campo que também se espraia para uma minuciosa análise na esfera da Antropologia, Sociologia e Filosofia”, disse Magela, destacando que a partir dessa obra, Berna passará a “transitar” no meio acadêmico e nas salas de aula, como fonte de informação e inspiração.

Gabriel chama a atenção para a atualidade da pesquisa de Bernadete por despertar a atenção para a Amazônia soterrada, especialmente das pessoas indígenas que construíram essa cidade, mas não tiveram seus nomes lembrados nas ruas, praças e monumentos.

“O trabalho dela chama atenção para o apagamento na história oficial, principalmente da memória indígena existentes debaixo da terra, fazendo o que movimentos como o ‘Vidas Negras Importam’ fazem hoje”, afirmou Gabriel.

Para ele, além de trazer à tona mistérios sobre a cidade, a obra de Bernadete Andrade também rompeu com paradigmas dos cânones da academia, saindo um pouco da técnica para trazer a subjetividade, especialmente quando explica os motivos a que a levaram a buscar essas memórias.

“Ela contou que quando era criança viveu uma experiência que mudou a vida dela, quando seu avô foi enfeitiçado pela cobra grande. Isso foi o grande marco que a levou a buscar essa Amazônia flagelada e esquecida”, pontuou Gabriel.

Histórico

Nascida em Barreirinha (AM), em 1953, Bernadete teve o primeiro contato com a Arte na Escola Técnica Federal do Amazonas (ETFA), por intermédio do professor de desenho Moacir Andrade, no curso de Edificações. Passou a estudar desenho artístico na Pinacoteca de Manaus (Biblioteca Pública) com os mestres Álvaro Páscoa e Manoel Borges.

Estudou desenho e pintura, na Pinacoteca do Estado do Amazonas, e pintura e paisagismo, no Núcleo Companheiros da América, entre 1973 e 1974. Em 1982, concluiu o curso de Filosofia da Universidade do Amazonas (UA). No mesmo ano, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a fazer um curso sobre a cor, com Abelardo Zaluar, no MAM/RJ, e estudar gravura em metal e monotipia, no ateliê do Sesc Tijuca.

Ingressou na Escola de Belas Artes da UFRJ, e, em 1984, ganhou, da Universidade do Amazonas (UA), uma bolsa de estudos para dar continuidade aos seus estudos no Rio de Janeiro. Além de pintar, criou cenários para espetáculos, bem como bonecos para teatro.

Em 1988, ingressou na Universidade do Amazonas (UA) como professora de Artes do curso de Educação Artística. Foi integrante da geração de artistas amazonenses surgida na década de 80. Em 2004, assumiu a Superintendência Regional do IPHAN.

“Nesses 14 anos de saudade e neste dia 21, aniversário da Berna, o mais belo presente foi a publicação de sua tese de doutoramento, uma iniciativa da Editora Valer que enche toda a nossa família de gratidão”, escreveu Magela, em uma rede social.

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