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PF afirma que área onde jornalista e indigenista desapareceram é região de criminalidade intensa

Autoridades confirmaram existência de ameaças a indigenista e apontam complexidade da operação de busca. Polícia Federal está trabalhando de forma ostensiva junto a outros órgãos

O gabinete de crise interinstitucional formado entre os órgãos de segurança estaduais e federais no Amazonas para a busca do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, desparecidos desde o último domingo (05.06), no Vale do Javari , município de Atalaia do Norte (a 1,2 mil quilômetros de Manaus), região de mata fechada no extremo oeste do Estado, tem conhecimento a respeito da criminalidade que opera em diversos níveis de ilegalidade na região.

“Trabalhamos em uma região bastante perigosa, onde há, sim, criminalidade intensa, isso é de domínio de todos os órgãos aqui: então, tráfico transnacional, talvez seja o mais forte em razão da faixa de fronteira com o Peru e Colômbia, mas sabemos também de garimpo ilegal, da ocorrência de exploração ilegal de madeira, pesca ilegal”, afirmou o superintendente do órgão, Eduardo Alexandre Fontes, durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira, na sede da instituição.

“Nós da Polícia Federal temos um inquérito já instaurado para apurar se há organizações criminosas que atuem nessa região, dedicadas ao tráfico de drogas e a outros crimes transfronteiriços”, completou Fontes.

Participaram da coletiva representantes da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, do Comando das Polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros, além de Exército e Marinha. As autoridades confirmaram que a operação de busca seguirá por prazo indeterminado. 

O superintendente ressaltou ainda que a Polícia Federal está trabalhando de forma ostensiva junto a outros órgãos, mas também desenvolve um trabalho de inteligência e investigativo para apurar se há crime no desaparecimento. Ele afirmou não descartar nenhuma linha investigativa: de desparecimento e de crime de homicídio.

As ameaças sofridas pelo indigenista Bruno Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), também já eram de conhecimento da PF há aproximadamente um mês. De acordo com Fontes, um inquérito chegou a ser instaurado, a Funai foi intimada, mas a investigação ainda depende de diligências.

Na última segunda-feira (06.06), o assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Yura Marubo, afirmou, também em entrevista coletiva, que não há nenhuma fiscalização efetiva na região do Vale do Javari e que já havia procurado as autoridades policiais competentes para tratar a respeito de ameaças sofridas pelos coordenadores da Univaja, mas não obteve nenhum retorno.

Até o momento, seis pessoas já foram ouvidas nas investigações, de acordo com o secretário de Segurança Pública, general Carlos Alberto Mansur, sendo cinco testemunhas e um suspeito, que ainda está detido, apesar de não terem encontrado nenhuma ligação dele com o caso do desparecimento.

“Esse suspeito, por enquanto, não tem nada a ver ainda, não fizemos a ligação dele com o fato. Nós intensificamos o policiamento na cidade e com o reforço do policiamento, encontramos uma pessoa que estava com munição 762, que é uma munição de uso restrito das Forças Armadas, chumbinho (munição para caça) e uma porção de droga. Ele ainda esta sendo ouvido, mas não há nenhum indício até agora”, explicou. A munição do armamento citado é para um fuzil utilizado pelo Exército em todas as suas tropas convencionais. 

O vice-almirante Ralph Dias, Comandante 9º Distrito naval da Marinha, responsável pela Amazônia Ocidental, afirmou que assim que tomou conhecimento do fato, porém, sem especificar a data, disponibilizou todos os meios possíveis existentes na capitania fluvial de Tabatinga para auxiliar nas buscas, além de um helicóptero enviado de Manaus para sobrevoar a região. As buscas acontecem em meio à cheia do rio Javari e seus afluentes, o que dificulta a operação, segundo ressaltou Dias.

O exército também opera com um helicóptero modelo Jaguar, com capacidade para transportar 18 passageiros, segundo informou o general Cláudio Henrique da Silva Plácido, Chefe do Centro Coordenação de Operações do Comando Militar da Amazônia (CMA), além de embarcações atuando em via fluvial, e rastreamento por via terrestre na BR-307, estrada que liga Atalaia do Norte a Benjamin Constant.  

Ao todo, operam na região 250 homens de todos os órgãos envolvidos. Estão sendo empregadas duas aeronaves, três drones, 16 embarcações e 20 viaturas de todas as instituições que integram o gabinete de crise. O superintendente da PF, Eduardo Alexandre Fontes, afirmou que considera o número suficiente.

Entre os integrantes enviados à região estão três mergulhadores especializados em águas barrentas e águas escuras, além de bombeiros do grupamento especializado em incêndios florestais e meio ambiente, segundo o Coronel Orleilso Ximenes Muniz, comandante geral do Corpo de Bombeiros.

“O componente enchente dificulta a operação. Muitas áreas que poderia ser varridas através de determinadas técnicas de busca são comprometidas com o alagadiço. No entanto, todos os recursos dos órgãos envolvidos estão conjugados para que possamos ter a solução o mais rápido possível”, disse.

A partir das informações iniciais, a Polícia Civil delimitou uma área de busca para basear a operação de busca, inclusive dos demais órgãos, segundo afirmou o delegado Alessandro Albino, diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), representante da Delegacia Geral na coletiva. Nesta quarta-feira, foi enviado mais um delegado, Guilherme Torres, do Departamento de Polícia do Interior (DPI), além de mais dois investigadores e uma perita.

Nenhuma das autoridades presentes esclareceu o porquê de utilizar helicópteros para auxiliar nas buscas somente a partir do segundo dia de operação. 

O Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas abriu um procedimento administrativo para acompanhar a questão e acionou a Marinha, a Polícia Federal (PF) e demais autoridades.

Além do MPF do Amazonas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que está monitorando as providências que estão sendo tomadas para localizar o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips.

Nesta quarta-feira (08.06), a Justiça Federal do Amazonas determinou que o governo Federal intensifique as buscas pelo indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Philips, colaborador do The Guardian, viabilizando helicópteros, embarcações e equipes de buscas necessárias. Na decisão, a juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe,  afirma que “o cerne da questão é a omissão do dever de fiscalizar as terras indígenas e proteger os povos indígenas isolados e de recente contato”.

Fotos: Divulgação

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