DESTAQUETURISMO

Novo Airão aposta na “cidade fantasma” como atrativo para potencializar atividade turística

Além do Parque Nacional de Anavilhanas, o prefeito Frederico Paes Júnior, aposta que as ruínas da Velho Airão vão encantar e seduzir brasileiros e estrangeiros que visitam o município

O município de Novo Airão, localizado à margem direita do Rio Negro, a 115 quilômetros de distância de Manaus, busca a potencialização da atividade turística como instrumento de desenvolvimento econômico. Uma das linhas de ação é o fato de o município ter a história fortemente ligada ao Velho Airão, uma cidade fantasma da qual parte de seus colonizadores são originários.

O prefeito de Novo Airão, Frederico Paes Júnior (PSC), avalia que as ruínas e o processo de abandono da cidade despertam a curiosidade e o imaginário de brasileiros e estrangeiros que visitam Airão em busca de respostas. “Interesse que reforça a vocação turística do município. Vamos agir na busca para estruturar as condições de acesso e visitação desse potencial econômico adormecido”.  

A secretária Municipal de Indústria, Comercio e Turismo, Suzianne Fonseca de Oliveira, explica que se trata de um importante patrimônio histórico-cultural para o município de Novo Airão. “É um dos principais atrativos do Parque Estadual Setor Norte. O lugar é visitado por turistas nacionais e internacionais o ano todo”.

Velho Airão, como é chamado pelos moradores de Novo Airão, é um povoado quase desabitado no Amazonas. Antes era denominado apenas de Airão, fundado no ano de 1694. Sendo a primeira povoação às margens do Rio Negro. Mais antiga que a primeira capital do Amazonas, Barcelos e Manaus. Era o local da antiga sede do município de Novo Airão.

 De acordo com o historiador Victor Leonardi (1998), “na confluência do Rio Jaú com o Negro existem ruínas de uma pequena cidade chamada Airão, antiga Santo Elias do Jaú, fundada por missionários em 1694. Depois veio o processo de arruinamento definitivo do Airão, após rápido e não sustentável crescimento econômico gerado nos seringais entre 1880 e 1914. A velha cidade de Airão é hoje uma cidade morta às margens do rio Negro, 250 quilômetros a noroeste de Manaus.”

A vila foi, no passado, uma das mais importantes no médio Rio Negro, desde a época dos colonizadores portugueses até a Segunda Guerra Mundial, quando os aliados encontravam sua maior fonte de borracha para a fabricação de pneus e materiais cirúrgicos no látex da Amazônia.

Decadência

Airão concentrava toda a produção de borracha do alto Rio Negro, do Rio Jaú e seus afluentes e do Rio Branco, trazendo a produção de vilarejos próximos à Boa Vista (Roraima). Com o fim da guerra, os ingleses passaram a comprar látex de sua colônia na Malásia. Os produtores amazonenses não estavam preparados para isso e como Airão era um ponto de captação e distribuição, a cidade faliu.

Com a decadência do ciclo da borracha, seus moradores passaram a abandoná-la, até ser deixada pelo último morador em 1985. Boa parte de sua população mudou-se para vilarejos mais próximos à capital do estado, Manaus, mas a maioria (108 pessoas) foi transferida para a vila de Itapeaçu, que passou a se chamar Novo Airão.

Lenda das formigas

Com o abandono da cidade surgiu a lenda das formigas. Um político da época divulgou que a população estava sendo atacada por formigas e pediu ajuda para mudar a sede do município. Verdade ou mentira, o fato é que a partir de 1950 a população começou a ser transferida para onde hoje é Novo Airão.

A partir de 1985, a Marinha do Brasil começou a usar a cidade abandonada como alvo para treino de tiros de seus navios até o ano de 2005, quando a cidade foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Mas apenas em 2010 técnicos do IPHAN começaram a levantar dados no lugar.

Desde 2005 cerca de sete famílias retornaram ao lugar, fazendo suas casas em volta das ruínas e auxiliando na condução dos turistas que visitam o antigo vilarejo. Entre os moradores, há uma pessoa que ganhou notoriedade, trata-se de Shigeru Nakayama, um japonês que chegou ao Brasil na década de 1960 junto com o grande fluxo migratório japonês.

Chegou em Airão Velho em 2001, encontrou ruínas e o matagal tomando conta do patrimônio. Decidiu limpar a área para restaurar a história do local. Com o decorrer do tempo, Nakayama passou a ser conhecido como guardião da cidade fantasma. “A extração do látex (borracha nativa) era o que movimentava a economia entrou em declínio. Com o fim das atividades as pessoas iniciaram o processo de abandono. Os últimos a saírem foram os Bezerra, família lusitana que ocupou a administração do município e comercializava a borracha”.

Hoje, apesar do processo de deterioração, ainda se vê uma série de imponentes ruínas caindo aos pedaços, que antes serviram como igreja, escola, casas coloniais, cemitério e prédios municipais. Abandonada, a cidade tornou-se apenas ruínas, com a vegetação ameaçando encobrir todo o local que, antes, guardava uma cidade próspera, que aguarda iniciativas que superem os fantasmas do abandono e devolvam a glória do passado. 

Parque de Anavilhanas

Um labirinto de ilhas, lagos e rios de águas negras compõem o Parque Nacional de Anavilhanas, oferecendo experiências únicas sobre a floresta amazônica. A Unidade de Conservação (UC) foi criada em 1981 como Estação Ecológica (ESEC), tornando-se Parque Nacional somente em 2008. A parte fluvial do parque com mais de 400 ilhas e 60 lagos, aproximadamente 130 km de extensão e em média 20 km de largura, representa 60% da unidade, enquanto a porção de terra firme representa 40%, em um total de 350.469,8 ha (3.504,70 km2).

O Parque Nacional de Anavilhanas fica aberto o ano todo, mas as experiências são diferentes de acordo com as estações. Na seca (setembro a janeiro) é possível desfrutar de belas praias de areias brancas. Na cheia (fevereiro a agosto) é o melhor momento para percorrer as trilhas aquáticas de igapó.

Mas há atrativos que podem ser encontrados em qualquer época do ano, como a visita ao Flutuante dos Botos, observação da rica flora e fauna, passeios de barco por um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo, trilhas terrestres e visitas às comunidades ribeirinhas.

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