AMAZONASMEIO AMBIENTE

Garimpeiros deixam para trás pertences pessoais e equipamentos

Em embarcações rústicas no Rio Madeira, interior do AM, garimpeiros tinham quartos e até cozinhas. Alimentos e brinquedos de crianças foram esquecidos na fuga

Garimpeiros que abandonaram as balsas usadas para explorar ouro no Rio Madeira, no interior do Amazonas, deixaram para trás pertences pessoais e equipamentos na fuga. Eles abandonaram as dragas por causa da operação da Polícia Federal e Forças Armadas na região de Autazes. Na ação realizada no fim de semana, três pessoas foram presas e 131 balsas apreendidas ou destruídas.

No entanto, um mapeamento indicou cerca de 350 balsas na região, muitas abandonadas às margens dos rios.

Em uma balsa maior encontrada pelos agentes, havia duas dragas que podiam funcionar simultaneamente. Também é notável a espessura da tubulação usada no Rio Madeira, que é mais larga justamente para conseguir sugar mais o leito do rio.

A embarcação é muita rústica, mas os garimpeiros buscavam ter algum conforto. Uma alavanca movimentava a tubulação e o acelerador do motor e podiam ser controlados pelo garimpeiro, que permanecia sentado.

Na parte de baixo das embarcações fica o ambiente de trabalho e, em cima, a moradia. Em uma balsa, por exemplo, há quatro quartos – dois deles divididos por lençóis. E um indicativo de que uma família morava no local é o brinquedo de alguma criança que foi deixado para trás.

Nos fundos, há uma pequena cozinha, com alimentos como farinha, arroz, macarrão e até comida na panela. Em lugares assim, um isopor é usado como geladeira.

Outra balsa ancorada junto com a primeira é menor e tem apenas uma draga, mas com praticamente a mesma estrutura. Nela, até carne e poupa de fruta foram deixadas.

Na parte de cima, o cenário de quem saiu às pressas: um caderno com anotações, com nomes e valores em dívidas de quem vive nesse comércio ilegal.

Os peritos da Polícia Federal fizeram a coleta de materiais utilizados pelos garimpeiros nas balsas. Eles concretaram a esteira onde o ouro fica retido.

A operação teve o objetivo de reprimir a prática ilegal de extração de ouro. O foco foi a destruição de tudo que é usado nesse processo, principalmente das dragas que filtram a areia do rio para a separação do minério.

De acordo com a polícia federal, as balsas que operam no rio madeira podem custar de R$ 100 mil a R$ 1 milhão, cada uma.

A operação concentrou-se em Autazes, onde fileiras de balsas filtravam o rio na semana passada, e em Nova Olinda do Norte, para onde os garimpeiros foram após o anúncio da fiscalização.

Nas comunidades do Rosarinho e Remanso, os peritos da Policial Federal conversaram com os moradores e fizeram coletaram fios de cabelo ou pelos das pernas das pessoas, recolheram água e até peixes para uma pesquisa inédita.

As amostras coletavas vão passar por análises para identificar se há a contaminação por mercúrio e qual o nível de concentração desse metal pesado, tóxico e nocivo à saúde das pessoas e de todo o ecossistema que vive nas águas do Madeira.

A Polícia Federal já sabe que, na maioria dos casos quem está na balsa, atuando na prática ilegal, não é o proprietário da draga. O garimpeiro que muitas vezes opera o maquinário nem fica com o ouro. Segundo a investigação, durante a abordagem, os policiais identificaram que várias balsas pertenciam à mesma pessoa.

Reunião em Brasília

Uma comitiva formada por prefeitos do interior do Amazonas e garimpeiros viajam a Brasília na tarde desta terça-feira (30/11). O objetivo é discutir a situação do garimpo ilegal e da exploração de ouro no Rio Madeira.

Os garimpeiros querem que prefeitos da região intercedam junto às autoridades para evitar que seja feita no município uma operação contra a exploração ilegal de ouro, como a realizada na região de Autazes no fim de semana.

Da redação, Ruthiene Bindá, Rede Amazônica

Foto: Divulgação

Pular para o conteúdo