COLUNASOsíris M. Araújo da Silva

2º. AgroLab Amazônia

Osíris M. Araújo da Silva

Impulsionado pela conjuntura desafiadora e excepcional da pandemia do covid-19, e estimulado pelo êxito obtido na primeira edição do evento, em 2020, o Sebrae Rondônia realizou, no período de 14 a 16 de setembro, o 2º. Agrolab Amazônia. O evento – um dos mais abrangentes e profundos das últimas décadas – contou com a parceria dos Sebrae Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima e Tocantins), na perspectiva de continuar sendo a maior feira do agronegócio da região, realizada em um ambiente 100% digital em plataforma 3D gamificada.

Compartilharam-se conhecimentos e experiências de campo via palestras e debates sobre extensa variedade de temas, como Produtos amazônicos com apelo global, Farinha de Bragança, queijo do Marajó, cacau do Pará. Fóruns sobre Regularização Fundiária, Metodologia para Aplicação de Políticas Públicas na Amazônia – Estudo de caso ZDS Abunã-Madeira, Programas Floresta Mais, Recuperação Verde, Cidades Empreendedoras, Energia Limpa (solar fotovoltaica), que mais cresce em todo o mundo; Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), em franca expansão no Brasil; SebraeTec, propondo ações em Rondônia sobre bovinocultura de alta performance, Cooperativismo e associativismo na Amazônia, Turismo. O evento gerou, paralelamente, considerável número de negócios virtuais.

De grande repercussão e afluência, os fóruns Bioeconomia para sustentabilidade (visão com foco na inovação) e o Fórum do Futuro: Amazônia como parte da solução, que contou com a participação dos ex-ministros da Agricultura, Alysson Paulinelli, e da Fazenda, Paulo Haddad. A propósito, Paulinelli, fundador da Embrapa, não alimenta dúvidas de que a grande expectativa para o desenvolvimento regional recai sobre a bioeconomia. O Brasil, afirmou, é um país tropical, uma estufa a céu aberto com mais de 8,5 milhões de km2. Só na Amazônia, acrescentou, temos todas as fontes biológicas para atender a demanda mundial de produtos da microbiologia capaz de assegurar a independência de produtos quimicamente sintetizados.

O desafio maior do evento: após a conquista do Cerrado, quando chegará a vez da Amazônia? Correlação direta no tocante à necessidade de políticas alternativas de desenvolvimento para a região, a serem discutidas no curtíssimo prazo, ampla e pragmaticamente. A hipótese é promover, via exploração sustentável da bioeconomia, maior integração de nossa economia ao agronegócio, que hoje representa 26,6% do PIB do Brasil. Posição, aliás, que levou o setor primário a se tornar a mola propulsora de nossa economia face aos avanços de tecnologias de ponta e das transformações digitais com ganhos de eficiência dos processos produtivos e de produtividade.

Enquanto isso, em nome de interesses multinacionais inconfessos, propagam-se ações de “defesa” da Amazônia, quase sempre distorcidas ante suas idiossincrasias geopolíticas, patrocinadas, em proporção significativa por “paraquedistas” que desconhecem a região, e sequer leram um livro dos verdadeiros amazonólogos, os que construíram a base teórica e doutrinária da ciência amazônica. Dentre os quais, por questão de justiça merecem destaque: Arthur Reis, Ferreira de Castro, Cosme Ferreira, Bertha Becker, Samuel Benchimol, Djalma Batista, Thiago de Mello, Armando Mendes, Leandro Tocantins, Márcio Souza, Marilene Correa, Alfredo Homma.

Evidentemente, a região exige muito mais do que simples atos de boa vontade ou proposições infundadas; na verdade, clama por soluções autóctones assumidas pelo governo, organizações multilaterais, órgãos representativos da sociedade civil e por todos os que defendem o patrimônio bioeconômico da região e buscam respostas quanto ao “que precisamos para coibir em definitivo as ocupações ilegais, apoiar a produção sustentável e manter a floresta em pé”. Hemingway, ao início de “Por Quem os Sinos Dobram? ”, responde à questão citando um poema de John Donne, poeta inglês do século 17: “Eles dobram por ti”. Os sinos precisam dobrar em favor da Amazônia, pois a hora é mais do que chegada. Produzir, conservar, desenvolver, por conseguinte, a palavra de ordem!

*Economista e escritor

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