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Morre Severiano Mário Porto, arquiteto que inovou no uso de materiais regionais em obras no Norte e Nordeste

São dele, os projetos arquitetônicos do campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Suframa, Pousada na Ilha de Silves e Centro de Proteção Ambiental de Balbina

Faleceu nesta quinta-feira (10/12) no Rio de Janeiro, aos 90 anos de idade, o arquiteto Severiano Mário Porto, vítima do Covid-19. Natural de Minas, ele cresceu no Rio de Janeiro e na década de 60 do século passado mudou-se para Manaus onde morou por 36 anos e ficou conhecido como “arquiteto da Amazônia” por construções inovadoras, usando materiais regionais em obras como o Estádio Vivaldo Lima (demolido), o Restaurante Chapéu de Palha (demolido), sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Pousada na Ilha de Silves, entre outros.

Sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus ( Suframa)

O conjunto de sua obra foi premiado na Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, em 1985, ano em que alcançou renome internacional, confirmado em 1987, quando foi homenageado como o homem do ano pela revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui.

Ao decidir morar no Amazonas, o arquiteto realizou pesquisas para usar os materiais locais nas edificações criadas por ele. Ele também foi professor de arquitetura e urbanismo na Faculdade de Tecnologia da Universidade do Amazonas, de 1972 a 1998. 

O primeiro edifício de destaque dessa outra vertente de sua obra foi o Restaurante Chapéu de Palha, criado em 1967 e depois demolido. Construído com estrutura de troncos de aquariquara, madeira típica da região, cobertura de palha de palmeira, piso e paredes de tijolos, o edifício se adaptava ao local e ao uso a que fora destinado, remetendo às construções populares e indígenas da área.

Da mesma forma, empregou os mesmos materiais na edificação da Pousada na Ilha de Silves, 1978/1983, um edifício de dois pavimentos, com um pátio excêntrico que dá à cobertura de duas águas um desenho assimétrico.

Centro de Proteção Ambiental de Balbina

Obras no Norte e Nordeste

De acordo com textos do site https://www.escritoriodearte.com/ no Centro de Proteção Ambiental de Balbina, 1983, a pesquisa de Severiano ganha ainda mais força e expressão: a ampla cobertura de cavacos de madeira de forma orgânica que recobre os blocos independentes e suas passarelas de interligação são um ícone de sua obra.

De acordo ainda com o site, a distribuição e integração do programa por meio da cobertura contínua presente em Balbina são as mesmas empregadas no campus da Universidade do Amazonas, 1970/1980, mas sem a ortogonalidade rígida de sua implantação e de seus edifícios, e a presença dos materiais industrializados que o caracterizam.

Prédio do Fórum Henoch Reis

Fora do Amazonas, o arquiteto desenvolve ainda dois edifícios dignos de destaque: a Escola de Música e Clube do Trabalhador do Sesi, 1978/1980, em Fortaleza, e a Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, em que utiliza na cobertura abóbadas em cerâmica armada calculadas pelo engenheiro uruguaio Eladio Dieste (1917 – 2000), cuja obra também é bastante valorizada a partir dos anos 1980.

A diversidade revelada pelo conjunto de sua obra e a capacidade de enfrentar diversos programas e sistemas construtivos com a mesma desenvoltura comprovam não só a versatilidade desse arquiteto, a importância de sua experiência pregressa no canteiro de obras como também o fato de que “normas estéticas, doutrinas, conceitos ou filiação a escolas e tendências, nunca foram a sua preocupação.

O sepultamento do corpo de Severiano Mário Porto será nesta sexta-feira (11/12), no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, às 13h.

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