DESTAQUEECONOMIA

Governo sugere que empresários apresentem propostas para financiar e promover a bioeconomia no Amazonas

Depois de abrir a discussão sobre bioeconomia, com o presidente do Cieam, Wilson Périco, Valor Amazônico traz a visão do governo estadual sobre a matriz econômica apontada como sucessora do modelo ZFM

Ana Celia Ossame

A implementação da bioeconomia como grande motor do desenvolvimento não só da Amazônia, mas do Brasil, é uma tarefa que exige investimentos cada vez maiores em ciência, tecnologia e inovação, além de projetos detalhados de como fazer e financiar as propostas.

A afirmativa é secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado (Sedecti), Tatiana Schor, ao explicar que compartilha da mesma opinião do presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco e do professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Márcio Holland, manifestada em artigo publicado em jornal de circulação nacional, defendendo a implantação da bioeconomia como alternativa para o desenvolvimento econômico brasileiro.

Até esse ponto, a bioeconomia é ponto convergente no discurso da classe empresarial e do poder público sobre o modelo de desenvolvimento sustentável que deve e precisa ser implantado no Amazonas.

Mas para a secretária, que é doutora em Ciência Ambiental, de modo geral, embora a proposta defendida por Wilson Périco “esteja no caminho certo, é preciso de mais convergência e mais detalhamento do que se quer”. Segundo ela, “falta muita coisa de estrutura de base para ter a bioeconomia como projeto de desenvolvimento, especialmente conhecimento da realidade da região amazônica”.

Segundo Tatiana Schor, da parte do Governo do Estado, a bioeconomia está contemplada no Plano Plurianual da Sedecti, construindo o que chama de narrativa para o trabalho, e já vem sendo executada desde o ano passado. Da parte dos empresários sobre a questão, ela sugere que “eles precisam definir, delinear, detalhar o que querem, não ficar só na fala”, argumenta.

A secretária pondera, no entanto, que não existe solução que caia do céu e que é preciso ter investimento. “Temos muita produção de tecnologia nas universidades, mas ainda não temos a validação desses conhecimentos”, afirma, citando os esforços do Estado nesse sentido.

Estudos insuficientes

Ao explicar que a Sedecti construiu uma matriz com 28 produtos da sociobiodiversidade, considerados estratégicos, com macroprocessos que contemplam do extrativista até o pesquisador da Universidade que vai se debruçar estudando o produto e também os microprocessos para saber como se estrutura de fato essas cadeias de produção, como por exemplo, a castanha do Brasil, Tatiana diz faltar mais estudos.

Falta estudos suficientes para se conhecer a cadeia produtiva, que é complexa e diversa, afirma a secretária da Sedecti

No caso da castanha, por exemplo, embora seja produto tradicional da região amazônica, que é exportado, não se tem ainda a clareza do quanto, onde e nem como se produz no Estado pela falta de estudos suficientes para se conhecer a cadeia produtiva, que é complexa e diversa.

Como exemplo, cita que no Rio Unini, um dos afluentes do Rio Negro, nove comunidades executam três tipos de coleta diferentes da castanha. Em algumas comunidades, eles têm que passar um mês dentro da floresta para colher o produto, exigindo um tipo de organização que precisa de recursos, apoio e diversas estratégias de planejamento para essa atividade.

“O governo, enquanto Secretaria de Ciência e Tecnologia quer saber onde estão os pontos cegos, onde não temos informação, pesquisa, onde precisa de inovação que não é só em nanotecnologia, mas em gestão e governança, logística, na cadeia de produtos da floresta para poder agir”, explica.

Parque científico

Entre os esforços feitos pelo governo do Estado, Tatiana Schor, cita a implantação do Parque Científico e Tecnológico (PCT) do Alto Solimões, que já formou no município de Benjamin Constant 50 doutores e 128 mestres. “Esse potencial de capital humano já instalado, de excelente qualidade, mas o que fazemos? “, questiona ela, para responder em seguida: Foram obtidos recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) de R$ 4,5 bilhões para estruturar os laboratórios para Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA) capacitarem pessoas no local, mas há problemas básicos, como a precariedade dos serviços de informática no interior do Estado.

Tatiana defende que a base de qualquer matriz econômica deve ser o conhecimento da natureza. Por isso, o desafio posto é transformar o potencial da natureza em ativos. “Acho que assumir a real não é tão fácil como criar um discurso bonito. Sem investir de fato na educação de base de qualidade é muito difícil desenvolver em qualquer sentido”, argumenta.

Escola de negócios

Outra iniciativa do governo estadual definida por ela de “pé no chão” é a Rainforest Social Business School, a primeira Escola de Negócios da Floresta Amazônica no Brasil, coordenada pela UEA, que está com edital aberto, em todos os municípios do interior para quem quer um montar um negócio. Tatiana Schor aponta o projeto, que desenvolvido em parceria com a Alemanha, como sendo uma iniciativa prática para construir uma bioeconomia.

A secretária destaca a necessidade de viabilizar os macros e micros processos dos produtos para mapear a bioeconomia e garantir um mercado estruturado e justo, sem concentração de riqueza, cuja dinâmica econômica não aumente as desigualdades. Para ela, tem que haver uma “pegada social justa”, o que ainda está longe de ser alcançado pela complexidade dos processos.

Leia também a matéria com o presidente do Cieam, Wilson Périco, no link https://valoramazonico.com/2020/11/26/empresario-da-zfm-defende-promocao-da-bioeconomia-como-saida-para-o-desenvolvimento-da-amazonia/.

Pular para o conteúdo