REGIÃO AMAZÔNICA

Com ingredientes da agricultura familiar, maniçoba vira merenda escolar no Marajó

Garantir que alimentação servida aos estudantes tenha um cardápio baseado nos hábitos alimentares locais e seja preparada com ingredientes produzidos pelos trabalhadores rurais do município é uma receita de sucesso garantido

Cerca de dois mil estudantes da rede municipal de Soure tiveram o prazer de saborear uma deliciosa maniçoba como merenda escolar nos últimos dias. A comida típica, entregue pelas escolas públicas das zonas rural e urbana do município marajoara na semana do Círio de Soure, só foi possível graças a agricultores locais assistidos pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), que fornecem alimentos para as escolas municipais por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Para o nutricionista da prefeitura de Soure, Sandro Penha, garantir que alimentação servida aos estudantes tenha um cardápio baseado nos hábitos alimentares locais e seja preparada com ingredientes produzidos pelos trabalhadores rurais do município é uma receita de sucesso garantido.

“A receptividade foi a melhor possível. A maniçoba faz parte da cultura alimentar do marajoara em todas as faixas etárias e, principalmente no Círio, é uma tradição cultural. Além disso, usar os produtos da agricultura familiar ajuda a manter os agricultores no sustento de suas famílias”, considera o nutricionista.

“Nós adoramos saber que a merenda escolar era maniçoba. Quando soubemos, meu esposo foi até a escola e pegou. Quando chegou em casa, meus filhos viram que era da escola e ficaram muito felizes.”, conta Glenda.

E o que é bom para os estudantes, também é bom para os agricultores e garante a organização dos trabalhadores e melhoria dos produtos. De acordo com Fernando Moura, chefe do escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em Soure, atualmente, cerca de 30% dos ingredientes da merenda escolar de Soure são provenientes da agricultura familiar.

“O nosso trabalho junto aos produtores locais da agricultura familiar, em relação a merenda escolar, já vem se desenvolvendo há mais de uma década. De 2016 para cá, tivemos importantes avanços em relação a questão organizacional dos produtores rurais locais através de reuniões, oficinas e capacitações para os próprios técnicos e colaboradores locais da Prefeitura Municipal a fim de que nós pudéssemos compreender melhor no que se refere alimentação escolar através da lei do Pnae e pudéssemos por em prática um plano no qual, gradualmente, nós atingiríamos o valor de até 30% dos ingredientes da alimentação escolar sendo fornecidos pela agricultura familiar”, destaca Fernando, que também ressalta a variedade e qualidade dos produtos.

“São os itens que são característicos da região, tais como o queijo do Marajó, a poupas de frutas da nossa região, muruci, acerola, linguiça marajoara. Entregamos pratos feitos com alto valor de qualidade como o x-búfalo e também da maniçoba tradicional do círio que é servida nas escolas para os alunos”, resume.

Para a presidente da associação, Bruna Péua, a conquista desse espaço para os produtores é resultado do esforço coletivo e um reconhecimento à dedicação de quem trabalha no campo.

“Fornecer itens da produção da agricultura familiar local para as escolas da nossa região é um avanço. A importância se contextualiza desde o acesso ao alimento como o respeito pela nossa diversidade cultural e alimentar. A mulher e o homem do campo se reconhecem de fato como sujeitos fundamentais, pois tudo aquilo que eles produzem fica na cidade e vai para a merenda escolar dos seus filhos. É importante para a geração de renda e principalmente para a fixação do homem no campo.”, revela Bruna.

Além da AAFCAM, com seus 52 associados, os itens da merenda escolar também são fornecidos por outros 26 trabalhadores da Associação dos Beneficiadores de Açaí de Soure e também pela Cooperativas de Produção e Comercialização Familiar do Nordeste do Pará.

*Com informações da Agência Pará

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