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Projeto altera realidade socioeconômica de catadores de resíduos recicláveis em Manaus

A iniciativa vai beneficiar muitas famílias de cincos bairros periféricos com profissionalização e geração de renda

A reciclagem é uma atividade que contribui para a melhoria da qualidade do meio ambiente urbano, evitando que resíduos sólidos sejam jogados em igarapés e, posteriormente, cheguem aos rios e oceanos. Além dos benefícios ambientais e econômicos, a reciclagem gera cidadania. Um projeto da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), em parceria com a Innova, tira da “invisibilidade” catadores e catadoras de Manaus, destacando o papel que eles cumprem para a sociedade.

O projeto gera renda para diversas famílias em bairros periféricos, por meio da implementação da cadeia produtiva do plástico. É uma proposta que começa com o mapeamento e profissionalização de catadoras e catadores, que vivem em situação de vulnerabilidade social nos bairros Coroado, Jorge Teixeira, Monte das Oliveiras, Redenção e Parque das Tribos. A ação está sendo realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) e Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam).

A coordenadora do Programa Cidades Sustentáveis da FAS, Paula Gabriel, explica que a atividade vai acontecer no Projeto de Restauração Ecológica e Urbanização Sustentável da Amazônia, mais conhecido como Projeto Reusa, situado no rip-rap do Igarapé do Gigante, no bairro da Redenção, zona centro-oeste de Manaus. No local, todo plástico coletado passa pelo processo de reciclagem: coleta, triagem da matéria-prima, moagem do poliestireno e segue para a venda. Segundo Paula, toda a matéria-prima transformada será comprada pela Innova para a fabricação do ECO-PS®, primeiro Poliestireno com até 30% de matéria-prima pós-consumo em sua composição. 

Foto: Divulgação/FAS

Paula explica que a parceria, além de atender uma demanda do setor privado, beneficiará a cidade diminuindo os níveis de poluição urbana e gerando renda para os catadores e catadores, e suas famílias por meio dessa tecnologia social. 

“Mais do que trabalhadores de reciclagem, eles irão se tornar ‘agentes de transformação socioambiental’. Com a pandemia, a situação de catadores e catadoras ficou mais difícil do que era. Além deles não terem uma renda fixa, o trabalho que fazem não é reconhecido pela sociedade. Muitos sofrem preconceito e até são marginalizados. Foi a partir disso que pensamos em várias alternativas de geração de renda que pudessem ‘casar’ com a cadeia de resíduos sólidos, que já estava no nosso ‘radar’ de execução. Da necessidade deles, da intenção de tornar invisibilidade em protagonismo, da necessidade de atender uma demanda da Innova e de transformar Manaus numa cidade mais sustentável, surgiu esse projeto. Queremos que eles sejam agentes de transformação socioambiental em seus bairros, que sejam valorizados e que mudem a realidade socioeconômica das periferias e do meio ambiente urbano”, explicou Paula. 

Resina de poliestireno sustentável 

A Innova, por ser a primeira petroquímica da Região Norte que opera de forma sustentável – cada gota d’água consumida nos processos produtivos retorna pura ao meio ambiente -, viu a necessidade de inovar no segmento de produção de matéria-prima reciclada. Neste ano, foi lançado de forma pioneira no Brasil, o primeiro poliestireno (PS), ECO-PS®, com até 30% de material pós-consumo (reciclado). O produto  é produzido no Amazonas mediante a parceria com a FAS e todos os catadores e catadoras que vão atuar no projeto. 

Segundo Selmo Leisgold da Innova, o ECO-PS®, além de trazer resultados impactantes para o meio ambiente e para economia circular, traz mudanças de paradigmas para a cidade de Manaus e para catadoras, e catadores em vulnerabilidade social.

“É importante entender que o projeto do ECO-PS® é algo inédito não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Faz um especial sentido que esteja nascendo no Amazonas e em ação conjunta com a FAS. A geração de trabalho através da coleta seletiva cria um círculo virtuoso de trabalho para populações carentes na cidade de Manaus. Do ponto de vista ambiental, estamos falando de uma mudança de paradigma que pode ser definida de forma clara e simples: aquilo que era considerado lixo agora se torna matéria-prima e retorna à cadeia produtiva”, afirmou Leisgold. 

Trabalhadores invisíveis 

O assistente social da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), Paulo Lineker, afirma que é preciso trazer à tona a relevância e o protagonismo desses trabalhadores para a sociedade, mostrando a importância da coleta seletiva para o meio ambiente e para cidade. Segundo ele, somente em Manaus existem 150 associações de catadores, sendo que oito estão vinculadas à Ancat e são compostas por homens e mulheres, entre 25 e 60 anos, que vivem em vulnerabilidade social na cidade.

Paulo explica que, além da falta de renda, de emprego e de Educação, outras adversidades são enfrentadas por esses trabalhadores: a marginalização e o preconceito. 

“Esse grupo social sofre com o desprezo da sociedade, apesar dessa atividade ser reconhecida como categoria profissional na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). Muitos deles são marginalizados e são invisíveis. Muitas pessoas têm medo, não chegam perto achando que são ‘ladrões’ e, com isso, se cria um estereótipo equivocado. Acreditamos que esse projeto, além de fechar a cadeia com o poliestireno, vai gerar renda para esses catadores e também mostrar o protagonismo que eles devem ter quando se fala em reciclagem”, contou Lineker.

Tecnologia social 

O Parque das Tribos, bairro da periferia de Manaus que abriga aproximadamente 30 etnias indígenas, será um dos pontos de coleta do plástico que será reciclado. De acordo com uma das lideranças indígenas do povo Witoto, que mora no local,  Vanda Ortega, o projeto vai transformar a realidade social do lugar por meio da sustentabilidade e cidadania, além de unir mulheres e jovens que sofrem com a falta de políticas públicas. 

“Esse projeto é fundamental para nós porque, além de impactar economicamente a nossa comunidade, vai gerar uma renda para a maioria de nossas famílias que vivem fora do mercado de trabalho, assumindo um compromisso com a proteção do meio ambiente. O que para nós é muito importante, já que temos uma relação intrínseca de nossas vivências com a mãe natureza, com a proteção dos nossos rios. Então, esse projeto só vem para fortalecer a nossa luta, fortalecer as nossas famílias, a comunidade Parque das Tribos. Mulheres e jovens que fazem parte de atividades e projetos como esses da sociedade civil, das organizações não-governamentais, estão garantido a sobrevivência das nossas comunidades e potencializado as nossas lutas”, afirmou Vanda. 

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