COLUNASOreni Braga

DE QUEM É A AMAZÔNIA?

por Oreni Braga

Muita gente fica se perguntando por que o mundo se preocupa tanto com a Amazônia brasileira se a região é contemplada por outros países. Mas o que esse povo não percebe é que, embora a Amazônia Internacional seja composta por 9 países (Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana Inglesa, Guiana Francesa e Suriname), representando 7 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil abocanha 79% dessa extensão territorial, ou seja, 5 milhões e 500 mil quilômetros quadrados da maior Floresta Tropical do planeta, com apenas 9 estados que compõem a Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Amapá, Pará, parte do Mato Grosso, do Tocantins e do Maranhão).

É importante ressaltar que a Amazônia corresponde a 61% do território brasileiro, portanto não é a Amazônia que pertence ao Brasil, mas é o Brasil que pertence a Amazônia.

Se a Amazônia brasileira fosse um país, seria o sétimo maior do mundo em extensão territorial. O Brasil é o quarto.

Todavia, a questão não é o tamanho da região. A questão é que além de ser grande representa o principal bioma em biodiversidade do mundo abrigando a maior bacia hidrográfica e a maior floresta tropical do planeta, os quais oferecem riquezas incomensuráveis despertando cobiça e interesses escusos.

Somos sabedores de que cientistas e pesquisadores internacionais vivem na Amazônia e, muitos deles, são invasores escondidos por detrás de uma pseuda tese científica, com o intuito de pesquisar determinadas espécies e patentear nos seus países.

Esse interesse mundial já vem ocorrendo ao longo de várias décadas, mas a partir de 10 anos pra cá, várias personalidades internacionais começaram a demonstrar de forma incisiva que a região é patrimônio da humanidade.

Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos declarou que nós brasileiros estamos completamente enganados achando que a Amazônia é propriedade nossa.

Em 2008, o Príncipe Charles se manifestou a favor da Amazônia e disse que faltava incentivo para preservar a região e manter as pessoas em condições dignas. Em 2009, ele veio à Manaus para conhecer de perto a realidade e demonstrou interesse em contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Os países que compõem o G7 inseriram na pauta de assuntos a serem discutidos na última cúpula realizada em agosto de 2019, as queimadas na Amazônia.  O Presidente da França, Emmanuel Macron disse: “Nossa casa queima. Literalmente…”, se referindo as queimadas na Floresta Amazônica.  Macron defende conferir um status internacional para a Amazônia. O Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudeau, ressaltou: “Precisamos agir pela Amazônia e pelo nosso planeta. Nossos filhos e netos contam conosco”.

Recentemente, o ator Leonardo DiCaprio se manifestou condenando o desmatamento da Amazônia e criticando o governo central. Por certo ele não é e nem será o único a mandar recados para as autoridades brasileiras.

Diante da perceptível preocupação dessas lideranças políticas mundiais,  porque as autoridades brasileiras não tomam partido disso para firmar parcerias internacionais e implantar Programas de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, que possibilitem a manutenção da Floresta,  e ao mesmo tempo, propiciem a inclusão social, a qualidade de vida e a redução da pobreza na região, dando uma resposta para o mundo?

E no Brasil, como os brasileiros nos enxergam? A maioria desconhece completamente as nossas causas. Fomos discriminados há anos por sermos índios e vivermos na floresta. Até pouco tempo, o Sudeste e o Sul do país manifestava certa resistência em reconhecer a nossa cultura e a nossa gastronomia. O Sudeste milita de forma recorrente contra a Zona Franca de Manaus – ZFM, único modelo de desenvolvimento que tirou a região do colapso econômico e se mantém de forma sustentável até hoje.

Quando ocorrem os debates contra a ZFM, nenhum brasileiro de outra região do país, que se diz preocupado com a Amazônia, se manifesta em redes sociais ou em outros meios de comunicação para proteger os empregos de milhões de brasileiros que vivem aqui, mas se alguém queima um palito de fósforo e filma a fumaça e envia para a imprensa, surgem milhões de especialistas que combatem as queimadas na região, que são militantes ambientais, etc., etc.

Então quer dizer que a Amazônia só é do Brasil quando surgem notícias sobre queimadas? Muitos se manifestam sem conhecimento de causa. Outros são alienados políticos. Se o brasileiro quer mesmo reconhecer e defender com conhecimento de causa, de que a Amazônia é dele, deve urgentemente pegar um avião e desembarcar na capital internacional da Amazônia (Manaus) e permanecer pelo menos 15 dias para mergulhar um pouquinho na nossa realidade. Não se defende o que não se conhece!

Já as autoridades nacionais podiam emplacar no país, o quanto antes, uma campanha que apresente ao povo a importância da Amazônia para a Soberania Nacional e para a sobrevivência da pessoa humana.

Do contrário, logo estaremos diante de um grande impasse político mundial, com a tão falada internacionalização da Amazônia sendo uma realidade, e ai se concretizará aquele velho ditado: “Brasileiro só fecha a porta quando é roubado”. Aliás, esse furto já vem ocorrendo há muito tempo. Muita coisa nossa já é vista nas prateleiras do comércio e do entretenimento internacional, sem que o país receba um tostão por isso.

Só não vê quem não quer!


Oreni Braga é Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges.


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