SAÚDE

Prematuro de cinco meses faz viagem de nove horas pelo rio Solimões, em incubadora improvisada, e sobrevive

Com as UTIs aéreas mobilizados no transporte dos pacientes com Covid-19, o bebê foi levado de Amaturá para Tabatinga, em incubadora improvisada pela equipe médica, em ambulancha

O nascimento de um bebê no quinto mês de gestação, na madrugada do último dia 31 de maio mudou a rotina do hospital Frei Roberto de São Saverino, único do município de Amaturá, município da região do Alto Solimões, distante 1.205 quilômetros de Manaus. Dedicados a cuidar, quase que exclusivamente de pacientes com Civid-19, nos últimos dois meses, a equipe de saúde se mobilizou para socorrer uma jovem em trabalho de parto, e principalmente, salvar a vida do prematuro.

Como o hospital não dispõe de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto ou neonatal e as UTI aéreas disponibilizadas pelo governo do Estado estão sendo bastante demandas por conta da transferência de pacientes graves de Covid-19, a equipe médica não mediu esforços para transferir o bebe para Tabatinga, município Polo da região do Alto Solimões, que dispõe de rede de saúde mais completa.

Orientados pelo médico neonatologista do hospital de Tabatinga, o médico Alex Amorim, a enfermeira Aline Paz, enfermeiro e técnicos de enfermagem do hospital, improvisaram uma incubadora e respirador, utilizando uma caixa de isopor e copo descartável, para que o bebê tivesse chance de suportar a viagem de nove horas de ambulancha, subindo o rio Solimões até Tabatinga.

Mãe, equipe médica e paciente, além do piloto, deixaram o porto de Amaturá às 3h. Durante todo trajeto, além dos cuidados profissionais, muitas orações garantiram que o pequenino chegasse com vida ao porto de Tabatinga onde uma ambulância esperava para levá-lo para UTI Neonatal.

O prefeito de Amaturá, Joaquim Francisco da Silva Corado (MDB), que participou da mobilização, destaca a dedicação da equipe médica para salvar a vida do bebê. “Quando vejo todo o esforço da secretária, do médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem e até o motorista, incansáveis para salvar a vida dessa criança, apesar de todas as dificuldades enfrentadas não desistiram. Chegaram a Tabatinga com ele em vida. Agradeço a Deus que me deu a oportunidade de participar dessa maratona pela vida. Valeu a pena eu ser prefeito! Agradeço a cada um desses excepcionais técnicos pela coragem e o esforço de todos”, disse Joaquim Corado.

De acordo com o prefeito, esse não foi o primeiro caso que exigiu uma ação extraordinária da equipe médica do hospital de Amaturá. Um dia antes do nascimento do bebê no quinto mês de gravidez, uma outra criança indígena nasceu prematura e também precisou ser transferida para o hospital de Tabatinga. Segundo ele, também neste caso, foi preciso improvisar uma incubadora na ambulancha para fazer a transferência por conta da sobrecarga das UTIs aéreas no transporte dos pacientes do novo coronavírus.

Até o fechamento desta matéria, nesta quarta-feira (3/6) o bebê, que é filho de pai indígena da etnia Tukano e mãe peruana naturalizada brasileira, que ainda não tem nome, permanecia internado, com quadro de saúde estável.

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