DESTAQUEMEIO AMBIENTE

Não basta limpar o Rio Negro — é hora de sujar menos

Enquanto a prefeitura de Manaus remove 350 toneladas de lixo por mês do Rio Negro, o maior desafio está em mudar o comportamento da população e frear a poluição que ameaça o coração da Amazônia

O Rio Negro amanhece, todos os dias, com novos vestígios de um velho problema. Garrafas PET, sacolas plásticas, pneus, restos de móveis e até eletrodomésticos formam o retrato diário da falta de consciência ambiental de uma cidade que ainda não aprendeu a cuidar do que tem de mais precioso.

A Prefeitura de Manaus, por meio da Semulsp, faz a sua parte. As equipes de limpeza retiram das águas e margens do Rio Negro mais de 350 toneladas de lixo por mês, atuando em pontos como São Raimundo, Educandos, Manaus Moderna, Mirante Lúcia Almeida, Amarelinho e feira da Panair.
São toneladas que poderiam ser evitadas se cada morador tivesse a responsabilidade de dar destino correto aos seus resíduos.

Mesmo com a coleta domiciliar regular, a desarticulação de lixeiras viciadas e as ecobarreiras instaladas nos principais igarapés da cidade, o lixo continua chegando ao rio. Grande parte dele vem das calçadas, becos e terrenos baldios, onde o descarte irregular se tornou prática comum.
As chuvas fazem o resto: arrastam os resíduos até os igarapés e, de lá, para o leito do Rio Negro.

A situação expõe uma contradição grave — enquanto a Semulsp limpa diariamente, a população insiste em sujar. O resultado é um ciclo sem fim, que consome recursos públicos e destrói o equilíbrio ambiental.

“As pessoas ainda têm a falsa sensação de que, ao jogar algo fora, o problema deixa de ser delas. Mas na natureza nada desaparece — tudo se transforma e retorna, muitas vezes em forma de poluição, enchentes e doenças”, explica o educador ambiental Marcos Oliveira, da Semulsp. “Se quisermos preservar o Rio Negro, precisamos mudar o comportamento agora, antes que o prejuízo seja irreversível.”

Reciclar é um ato de cidadania

Manaus dispõe de 35 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) instalados em redes de supermercados, onde é possível descartar materiais recicláveis como garrafas PET, vidro, papel, papelão e alumínio.
A cidade também conta com coleta seletiva porta a porta e coleta agendada de grandes objetos, serviços gratuitos que ajudam a evitar o descarte irregular.

Ainda assim, poucos manauaras utilizam esses serviços. Falta conscientização, falta senso de pertencimento e, principalmente, falta a percepção de que o lixo que jogamos fora não desaparece — ele apenas muda de endereço.

A Amazônia no centro do debate

Às vésperas da COP 30, que colocará novamente a Amazônia sob os olhos do mundo, o desafio é claro: não basta limpar, é preciso mudar hábitos.
O combate à poluição dos rios e igarapés começa dentro de casa, nas pequenas escolhas diárias — separar o lixo, reciclar, reduzir o consumo de plásticos e respeitar o meio ambiente.

O Rio Negro, que banha a capital amazonense e sustenta a vida de milhares de famílias ribeirinhas, não pode continuar sendo o destino final de tudo o que a cidade descarta.
A limpeza é necessária, mas a verdadeira mudança virá quando cada cidadão compreender que o futuro da Amazônia depende das atitudes de agora.

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