Lula considera precipitada aposentadoria de Barroso e diz que próxima indicação ao STF será “técnica e constitucional”
Em coletiva na Itália, presidente afirmou que não pretende indicar um amigo, mas um jurista gabaritado para cumprir a Constituição, reforçando compromisso com perfil técnico nas nomeações ao Supremo.
Durante entrevista coletiva em Roma, nesta segunda-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), de anunciar sua aposentadoria antecipadamente. Para Lula, o gesto foi “precipitado”, embora esperado em algum momento.
“Imaginava que ele iria se afastar, mas que iria demorar um pouco mais”, afirmou o presidente, ao responder a jornalistas após participar da abertura do Fórum Mundial da Alimentação, promovido pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).
Nova indicação ao STF
Questionado sobre o perfil do futuro ministro que ocupará a vaga deixada por Barroso, Lula foi categórico ao afirmar que não pretende escolher “um amigo”, mas alguém com “plena capacidade constitucional e técnica” para exercer a função.
“Quero uma pessoa, não sei se mulher ou homem, não sei se preto ou branco, mas quero uma pessoa que seja, antes de tudo, gabaritada para ser ministro da Suprema Corte”, declarou.
O presidente destacou que a escolha seguirá o mesmo critério das indicações anteriores, priorizando o compromisso com a Constituição e com a estabilidade institucional.
“Não quero um amigo, quero um ministro da Suprema Corte que terá como função específica cumprir a Constituição brasileira. É essa a qualidade que eu quero. É a única que eu quero. Foi assim com todos os ministros que indiquei até agora e vai continuar sendo assim”, acrescentou.
Transição no Supremo e bastidores políticos
A aposentadoria antecipada de Barroso abre uma nova disputa política em Brasília. O ministro, que assumiu a presidência do STF em 2023, tem 66 anos e poderia permanecer no cargo até os 75, idade limite para aposentadoria compulsória. Sua saída, anunciada com antecedência, surpreendeu parte do meio jurídico e reacendeu as articulações dentro do governo e do Senado Federal para a sucessão.
Com a nova indicação, Lula fará sua terceira escolha para o Supremo Tribunal Federal desde o início do atual mandato, consolidando influência sobre o perfil e a composição da Corte.
O presidente ainda não definiu nomes, mas sinalizou que pretende ouvir auxiliares, ministros e juristas antes de formalizar a decisão. A tendência, segundo interlocutores, é de que a escolha recaia sobre uma figura de reconhecida trajetória jurídica, capaz de dialogar com diferentes correntes do Judiciário e do Parlamento.
Barroso deixa legado e desafios
Durante sua passagem pelo STF, Luís Roberto Barroso ficou marcado por pautas institucionais e pela defesa do papel ativo da Corte na garantia dos direitos fundamentais. À frente do Supremo, liderou debates sobre democracia, liberdade de expressão e meio ambiente, e foi uma das vozes mais firmes na defesa da Justiça Eleitoral durante os ataques golpistas de 2022.
A saída do ministro ocorre em meio a um cenário de recomposição política do Judiciário, no qual o Palácio do Planalto busca manter equilíbrio entre diversidade, técnica e independência institucional.