COLUNASOsíris M. Araújo da Silva

ZEE e o desenvolvimento sustentável da bioeconomia

Osíris M. Araújo da Silva (*)

A bioeconomia configura, inquestionavelmente, o eixo central para o desenvolvimento da Amazônia por meio da exploração sustentável dos recursos da biodiversidade, dentre estes o manejo dos recursos florestais, a produção de alimentos, biofármacos, biocosméticos, piscicultura de alta performance, o ecoturismo, a mineração. Impõe-se, todavia, estabelecer padrão de gestão calcado no conhecimento dos valores da terra, assim entendido o legado da natureza em harmonia secular com o ambiente graças a um processo evolutivo de milhões de anos.

Há décadas estudiosos e pesquisadores defendem uma revolução científica para proteger a floresta e da mesma forma levar desenvolvimento e riqueza para mais de 25 milhões de habitantes que se mantêm fiéis e crentes sobre o aproveitamento das riquezas amazônicas com responsabilidade ambiental. Bertha Becker entende, e defende a tese de que a economia é a solução essencial para a conservação do bioma. Ao que sustenta em diversos estudos de sua autoria, a Amazônia precisa de desenvolvimento econômico, não apenas de proteção ambiental.Não podemos ficar só com áreas protegidas. Primeiro porque a proteção já não protege mais e o desflorestamento continua. Só proteger não gera renda e trabalho, fundamental para a região e para o país. O que precisamos é produzir para preservar.”

Ferramentas como o Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE e o Manejo Florestal Sustentável (MFS) já oferecem respostas conclusivas às magnas questões subjacentes ao “onde”, ”o que” e “como” produzir com sustentabilidade na região. Necessário se torna levar em conta, adicionalmente, o “como” inserir necessidades de seus habitantes nesse processo. Solucionar tais desafios depende da adoção de políticas públicas voltadas a conciliar o atendimento das necessidades do homem, de sua sobrevivência, do seu bem-estar, da sua inserção no tecido social e econômico, como ente produtivo, e, simultaneamente, garantir o respeito à integridade do bioma.

Afinal, árvores não são mais importantes que seres humanos, nem animais selvagens superiores a populações autóctones. Dicotomias desafiadoras, que exigem iniciativas governamentais destinadas, de um lado, ao combate implacável da exploração florestal predatória, e, de outro, à garantia da integridade das áreas de conservação ambiental. Nesse sentido, torna-se fundamental priorizar projetos agropecuários e de manejo florestal sustentável aliados à exploração das vocações nativas “não madeiráveis” (açaí, castanhas, plantas medicinais, fruticultura, piscicultura, etc.).

Viabilizar esse complexo operacional depende de investimentos em P, D & I, no fortalecimento de nossos institutos de pesquisa públicos e privados, no fortalecimento da assistência técnica e extensão rural, no treinamento do produtor sobre técnicas preservacionistas e na modernização do efetivo militar de segurança. Segundo o Ministério do Meio Ambiente MME), o objetivo final do ZEE é dar sustentação orçamentário-financeira à elaboração de planos, programas e políticas e propor alternativas para a tomada de decisões, segundo o enfoque da compatibilização entre as atividades econômicas e o ambiente natural, assim como reunir esforços de sistematização de dados e informações para subsidiar o licenciamento ambiental e a ação governamental de controle do desmatamento.

O governo do Amazonas está apostando alto no cumprimento das diretrizes do governo federal. Recursos do Orçamento público já foram alocados de sorte a permitir a conclusão dos ZEEs das mesorregiões do Purus, do Madeira, em particular do Sul do Amazonas. O objetivo, segundo o secretário Jório Veiga, da Sedecti, “é acelerar a execução dos projetos nas sub-regiões que compõem o sul do Amazonas, alvo de pressões de desmatamentos e queimadas, considerando, adicionalmente, o forte ritmo que vem impulsionando o promissor agronegócio e os impactos exercidos sobre a geração de emprego e renda na ecoregião”.

*Osíris M. Araujo Silva é economista, consultor empresarial, escritor. Membro do Inst. Geográfico e Hist. do Amazonas, do GEEA do INPA e do CORECON-AM.

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