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Inpa apresenta tecnologia social para tratamento de esgoto sanitário em comunidades ribeirinhas da Amazônia

“Fossa Alta Comunitária” foi desenvolvida pelo pesquisador do Instituto Mamirauá, doutor em saneamento João Paulo Borges Pedro e será apresentada em live pelo Inpa, no dia 31 de março

A falta de tratamento de esgoto é comum nas comunidades ribeirinhas da Amazônia, trazendo consequências para o meio ambiente e para a saúde das pessoas. Para tratar as águas residuárias de vasos sanitários em comunidades ribeirinhas alagáveis, foi desenvolvida a “Fossa Alta Comunitária”. A tecnologia social será apresentada em live do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) na próxima quinta-feira (31/03). O evento é gratuito, com transmissão, às 9h (horário de Manaus), pelo canal do Inpa no Youtube/INPA.

O esgotamento sanitário é um desafio para as comunidades rurais na Amazônia devido a diferentes fatores, como o ciclo sazonal das cheias e vazantes, o deslizamento de encostas e, em muitos casos, o acesso exclusivamente hidroviário.

Para oferecer às famílias ribeirinhas um sanitário para uso com dignidade, privacidade, conforto, e que combata os problemas de saúde relacionados à falta de saneamento, o pesquisador do Instituto Mamirauá, doutor em saneamento João Paulo Borges Pedro, desenvolveu a Fossa Alta Comunitária (FAC), uma tecnologia adaptada especificamente para áreas alagáveis da região, sendo uma importante barreira entre os patógenos do esgoto e os moradores.

O funcionamento do sistema de tratamento será compartilhado na Live “Fossa Alta Comunitária: Uma tecnologia social para o saneamento na Amazônia”. Os interessados podem se inscrever no endereço: https://www.even3.com.br/LiveInpaFossaAltaComunitaria ou acessar diretamente o evento clicando aqui. Os inscritos receberão declaração de participação de três horas.

“Trata-se de uma experiência bem-sucedida de aplicação de uma tecnologia social, em região amazônica, para a solução do problema de saneamento de esgoto doméstico em áreas remotas”, destacou a coordenadora de Tecnologia Social do Inpa e mediadora da Live, Denise Gutierrez.

 Como funciona

A Fossa Alta Comunitária é composta por um tanque séptico circular de fibra de vidro ou polietileno, um filtro anaeróbio circular de polietileno, com meio filtrante formado por cacos de tijolo, um sumidouro circular e uma base elevada em concreto.

Em termos de funcionamento, as águas residuais do vaso sanitário são direcionadas para o tanque séptico, onde passam pelo processo de decantação, sedimentação e digestão anaeróbia. Em seguida o efluente pré-tratado é direcionado para o filtro anaeróbio de fluxo ascendente, passando por processos de retenção de partículas e ação metabólica de microrganismos presentes no biofilme do meio suporte. Após esse tratamento o efluente já clarificado é direcionado para um sumidouro.

Além do tratamento, João Paulo explica que há a instalação de sanitários nas residências, incluindo caixa d’água de 300 litros, caixa de descarga, vaso sanitário, pia com torneira e estrutura de madeira. As famílias ainda podem escolher o melhor arranjo quanto à altura da superestrutura (‘casinha’), acesso por rampa ou escada, sanitário dentro ou fora de casa, possuir ou não portas e janelas com telas de mosquiteiros, cores de pintura interna e externa, e instalação de chuveiro.

O sistema pode tratar o esgoto de até quatro residências ao mesmo tempo, reduzindo assim o custo do orçamento per capita (por pessoa). O próprio Instituto Mamirauá é quem identifica e faz o diálogo com as comunidades beneficiárias. O custo de cada sistema fica entre R$ 10 mil e R$ 12 mil.

Comunidades beneficiadas

A Fossa Alta Comunitária foi instalada em duas localidades, ambas em área de várzea, totalizando o atendimento de 253 moradores. A primeira delas é na Comunidade Santa Maria, município de Tefé-AM. Foram instalados três unidades, contemplando seis famílias ou 23 moradores. Com as instalações, a comunidade passou de 0% para 20% de cobertura de tratamento de esgoto.

A segunda comunidade atendida foi São Raimundo do Jarauá em Alvarães-AM. Foram instalados duas unidades: uma na escola e outra unidade no centro comunitário. Na escola, a tecnologia beneficiou 54 alunos e seis colaboradores, cobrindo 100% da demanda de tratamento de águas de vaso sanitário. No centro comunitário, a fossa foi instalada 100% da comunidade, com capacidade para atender os 170 moradores.

Entre os benefícios da tecnologia, João Paulo destaca o conforto e a comodidade para os moradores, que não necessitam mais ir ao mato fazerem suas necessidades, principalmente à noite ou na chuva. “Os comunitários conseguem relacionar a presença do sanitário com a diminuição de doenças relacionadas à falta de saneamento, principalmente com as crianças, e se sentem mais seguros por não mais se exporem a animais perigosos comuns nas áreas rurais da Amazônia, como cobras, onças, jacarés, insetos, quando iam fazer suas necessidades ao ar livre”, completa.

Tecnologia certificada

Em 2021, a Fossa Alta Comunitária recebeu a certificação da plataforma Transforma! Rede de Tecnologias Sociais, da Fundação Banco do Brasil (FBB), e pode ser consultada em https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/fossa-alta-comunitaria. Mais detalhes serão compartilhados pelo pesquisador na Live.

Minibiografia

Doutor em Saneamento pela UFMG. Mestre em engenharia ambiental pela UFSC. Atualmente é pesquisador do Instituto Mamirauá, na região do médio Rio Solimões, onde atua há doze anos com pesquisa em Saneamento em comunidades rurais na Amazônia, notadamente em áreas alagáveis.

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