DESTAQUEECONOMIA

Empresários de Rondônia demonstram viabilidade econômica da rota Manaus-Paita

Caminho até o Pacífico pelas hidrovias do Madeira e Solimões, no Brasil, seguindo até Iquitos e Yuirmaguas, no porto de Paita, em águas peruanas, reduzirá em até 30% o custo operacional das empresas do PIM

Dora Tupinambá

Inspirado pelo tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, então capital do Brasil, que viabilizou a independência financeira da Bolívia e a emancipação política do estado do Acre, anexado definitivamente ao território brasileiro, o empresário rondoniense Dário Lopes, do grupo BDX, estabeleceu uma rota hidroviária paralela para chegar ao mesmo destino, o oceano Pacífico. Desta vez, ele seguiu pela bacia do Solimões, na tríplice fronteira entre Brasil (na cidade amazonense de Tabatinga), Letícia (na Colômbia) e Santa Rosa (Peru) e de lá passou por Iquitos, Yuirmaguas e, enfim, estava em Paita, no Pacifico.

Operando na rota Porto Velho – Paita, a partir do porto alfandegado de Porto Velho, em Rondônia, no Rio Madeira, desde 2013, Dario Lopes comprovou a economicidade do caminho que é percorrido em menos tempo e gera uma economia de até 30%, em comparação com a rota tradicional para chegar a Ásia.

A opção usada pelo grupo BDX, de Dário Lopes, pela hidrovia do Madeira, passando por Itacoatiara e Tabatinga (AM), na hidrovia do Solimões, passando pelo porto de Paita no Peru (Pacífico), tem menos de 5 mil milhas a serem percorridas, diminuindo para, em média, 15 dias a viagem da Ásia até Manaus, em relação a rota pelo Atlântico.

Enquanto que o caminho percorrido, habitualmente, pelo empresariado brasileiro para chegar a Pacífico, entre o porto de Santos (SP), pelo canal do Panamá, leva mais de 20 dias, com uma extensão percorrida de quase de 6 mil milhas. A outra opção, saindo de Santos, seguindo pela Patagônia, na Argentina, apesar de encurtar a viagem em três dias, tem o complicador do ambiente hostil, por conta da temperatura extrema.

O empresário rondoniense, que mineiro de nascimento, destaca ainda que esse caminho promove a convergência de dois blocos de integração da América do Sul, Mercosul e Comunidade Andina, trazendo competitividade e soluções para a indústria e comércio paras as bacias do Atlântico e Pacífico.

Compartilhando experiência

Dario Lopes e seus parceiros empresariais brasileiros Cleomar José Betanin e Vitor Alves Reinaldo, e sócio peruano Jorge Romano Najar, querem agora, compartilhar a experiência bem-sucedida com os empresários amazonenses, entre eles, os que atuam no Polo Industrial de Manaus (PIM), que têm nos custos de logística, o maior empecilho para ampliar seus negócios.

“A eficiência econômica desta rota é indiscutível hoje, quando ainda operamos levando mercadorias para abastecer o mercado peruano e trazendo fertilizante, para os produtores de alimentos de Rondônia, imagine numa operação a partir de Manaus, que está no meio do caminho”, avalia Dario Lopes, deixando claro que não tem dúvidas de que o caminho até o Pacifico saindo pelo rio Madeira trará a emancipação econômica para o Amazonas e demais estados da Amazônia.

A chegada do grupo ocorre no momento de grande insegurança para o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) que precisa encontrar meios, ou melhor, um caminho, que traga redução nas despesas com o transporte dos insumos, reduzindo o tempo e o dinheiro investidos e aumente a competitividade dos produtos fabricados em Manaus.

A expertise dos empresários rondoniense vai ajudar instituições e empresários amazonenses a resolver uma equação que não fecha, embora boa parte dos dois segmentos já tivesse, na teoria, a convicção de que a interligação Manaus-Paita vai reproduzir o efeito político e econômico gerado para Brasil e Bolívia, quando da celebração do tratado de Petrópolis.

Para consultor Massami Miki, que promove a interlocução entre os empresários de Rondônia e as instituições governamentais e empresariais do Amazonas, o custo de logística, que sempre foi o principal gargalo para competitividade do modelo ZFM, está com os dias contados.

“A solução para tornar a indústria amazonense, mas competitiva, não está na recuperação da BR-319, essa rodovia é imprescindível para impulsionar o turismo, promover a integração nacional, mas não terá o efeito desejado nos custos de logística, a rota Manaus-Paita, sim.  Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), Cieam (Centro das Indústrias do Estado do Amazonas), Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) já algum tempo tem essa compreensão, entretanto, esse a caminho ainda não havia sido testado. Esse grupo já testou e sabe que é viável”, afirma.

Os empresários rondonienses, assim como fazem no mercado de Rondônia, já trazem produtos para o Amazonas, por meio do porto de Paita. Um dos clientes é a fazenda Progresso, em Rio Preto da Eva, município da Região Metropolitana de Manaus, que consome fosfato natural, trazido por Dario Lopes e seus sócios, diretamente do Peru.

O grupo que já se reuniu com os dirigentes do Cieam, na última quinta-feira (9/12), nesta segunda-feira (13/12), se reunirá com o comando da Suframa, numa conferência interinstitucional, que vai discutir o desenvolvimento da região amazônica.

Tratado de Petrópolis

Celebrado em 17 de novembro de 1903, o tratado estabeleceu definitivamente as fronteiras entre Brasil e Bolívia, compensando a anexação do Acre por meio da cessão de pequenos territórios próximos à foz do rio Abunã (“Triângulo de Abunã”) e na bacia do rio Paraguai, do pagamento da quantia de 2 milhões de libras esterlinas, o correspondente atualmente a aproximadamente 15 milhões de reais.

Como a Bolívia perdeu, após a guerra com o Chile, sua saída para o mar, dois artigos do Tratado de Petrópolis obrigaram o Brasil e a Bolívia a estabelecerem um tratado de comércio e navegação que permitisse à Bolívia usar os rios brasileiros para alcançar o oceano Atlântico. Além disso, a Bolívia poderia estabelecer alfândegas em Belém, Manaus, Corumbá e outros pontos da fronteira entre os dois países, assim como o Brasil poderia estabelecer aduanas (alfândegas) na fronteira com a Bolívia.

O Brasil assumiu também a obrigação de construir uma ferrovia (estrada de ferro Madeira-Mamoré) indo do porto de Santo Antônio, no Rio Madeira, até Guajará-Mirim, no Mamoré, com um ramal que atingisse o território boliviano.

O livro “O Tratado de Petrópolis – A diplomacia da guerra – Uma história da Madeira-Mamoré”, do historiador Francisco Matias, ajuda a compreender a geopolítica decorrente desse tratado e, de igual maneira, trará a compreensão dos efeitos econômicos que a rota Manaus-Paita, desbravada pelo empresário Dário Lopes, trará para o desenvolvimento do estado do Amazonas e demais da região amazônica.

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