CIDADANIA

No Dia dos Povos Indígenas, complexo comunitário é inaugurado no Parque das Tribos

Resultado de uma parceria entre a FAS e a Embaixada da França, o Programa Reusa Parque das Tribos fortalecerá ações de educação, empreendedorismo, cultura e saúde no bairro

Nesta segunda-feira (19/04), data em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, os moradores do Parque das Tribos celebraram uma importante conquista que marca a trajetória de resistência e luta do bairro: a inauguração de um complexo comunitário, que ajudará a impulsionar a geração de renda e a cidadania, fortalecer a cultura indígena e auxiliar no combate à pandemia. 

Resultado de uma parceria entre a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e a Embaixada da França, o Programa de Restauração Ecológica e Urbanização Sustentável da Amazônia (Reusa) Parque das Tribos é formado por cinco obras estruturantes que começaram em 2020: Maloca dos Povos Indígenas Parque das Tribos, Casa das Mulheres, Casa de Saúde, restauração ecológica de um lago e a reforma da Escola Espaço Cultural.

A inauguração ocorreu cumprindo os protocolos sanitários e de segurança que o momento da pandemia da Covid-19 exige, com a participação de lideranças indígenas, gestores públicos, representantes da FAS e da Embaixada da França.

“A situação no Amazonas foi uma das razões pelas quais a França procurou a FAS para fazer um projeto para lutar contra a pandemia e ver as necessidades das populações da Amazônia. Nesse projeto, fizemos questão que o povo originário desta terra, que são os indígenas, fossem incluídos, porque estão sofrendo muito com a pandemia. A FAS, como sempre, incluiu esses povos e montou o projeto muito rapidamente. Nesse projeto, o importante era lutar contra a doença, ajudar a população a sobreviver e oferecer uma perspectiva para o futuro”, afirmou o cônsul honorário da França em Manaus, Dominique Chevé.

A cacica do Parque das Tribos, Lutana Kokama, destacou a importância dos novos espaços para a comunidade. “Hoje estamos recebendo essa maloca para fazer a nossa dança, a nossa cultura. A FAS trouxe esse benefício para que a gente pudesse ter de onde tirar para nos sustentar. Eu queria muito que fosse uma entrega com uma festa cultural, mas infelizmente, com esta pandemia, não podemos fazer muita aglomeração. Eu só tenho a agradecer a todos nesta manhã”, disse.

O Reusa

Considerado o primeiro bairro indígena de Manaus, o Parque das Tribos foi fundado em 2014 e, atualmente, é o lar de aproximadamente 700 famílias de 35 etnias distintas. Muitos, migraram de seus territórios em busca de melhores condições de vida na cidade. Alguns se mudam para estudar e depois voltam para as aldeias. Porém, no ambiente urbano, precisam enfrentar desafios como a falta de qualificação profissional, que facilita a exploração da mão de obra indígena, a discriminação e a luta para manter viva sua cultura, línguas e costumes. 

A infraestrutura do Reusa contribuirá para melhorar a qualidade de vida da população por meio de ações de educação, empreendedorismo, proteção social, empoderamento feminino, cultura e saúde. Um dos espaços de maior destaque é a Maloca dos Povos Indígenas Parque das Tribos, o Malocão, uma reivindicação antiga dos moradores que consiste em um espaço multiuso onde a comunidade poderá expor trabalhos artesanais, culinária indígena, danças e apresentações típicas, entre outras atividades, conforme explicou o superintendente geral da FAS, Virgilio Viana.

“Esse espaço servirá para o fomento ao turismo e à geração de renda, mas também para fortalecer e evidenciar a cultura das etnias que integram o bairro, celebrando sua identidade”, disse. 

Tradicionalmente feita de madeira e palha, a maloca é uma área comum de grande importância para as aldeias indígenas, onde são realizadas cerimônias religiosas, rituais e festividades. Cada tribo tem sua própria espécie de maloca, com características únicas que ajudam a distinguir um povo do outro. No Parque das Tribos, o espaço foi adaptado para a realidade urbana, com estruturas de ferro e aço. Jovens e adolescentes decoraram o Malocão com pinturas e grafismos que representam a diversidade indígena do bairro e suas histórias. 

Já a Casa das Mulheres é um espaço voltado para as mulheres indígenas, que receberá reuniões, ensaios de dança, troca de experiências de tradições de alimentação e medicina tradicional indígena, entre outras atividades. “Também será um espaço de proteção social para estas mulheres”, informou a supervisora da Agenda Cidades Sustentáveis da FAS, Cristine Rescarolli.

Saúde indígena

A líder indígena do povo Witoto e técnica de enfermagem, Vanda Ortega, eleita diretora da Casa de Saúde, celebrou a nova infraestrutura para a realização de atendimentos na comunidade.  Segundo ela, um regimento foi criado junto com os moradores e o espaço terá direção e coordenação composta por profissionais de saúde indígenas, funcionando de segunda a sexta-feira. 

“É um espaço muito importante, porque a comunidade não tinha espaço para atendimento de saúde. Então, ela vai dar esse suporte para as ações que chegam até a nossa comunidade e também garantir um lugar para os profissionais de saúde que já atuam dentro do Parque das Tribos. Ela é uma grande conquista para nós. O sonho maior é que tenha uma UBS (Unidade Básica de Saúde) indígena dentro do Parque das Tribos. Isso será uma luta, mas a gente já começa com essa Casa de Saúde que está sendo entregue hoje pela FAS. Estamos muito contentes com isso”, comemorou.

Todo o complexo comunitário será administrado pela Associação dos Moradores do Parque das Tribos, que também ficará responsável por algumas instalações. É a contrapartida da Associação na execução do projeto.

Transformação na periferia

A parceria entre a FAS e a Embaixada da França ainda viabilizará a instalação de infraestrutura comunitária em mais dois bairros situados na periferia de Manaus. É o caso do Monte das Oliveiras, na Zona Norte, que será beneficiado com a construção do Galpão do Bem, que acolherá moradores da comunidade em atividades culturais e educativas, tais como apresentações de teatro, aulas de reforço, fotografia, capoeira e costura.

O segundo bairro é a Redenção, na Zona Centro-Oeste, onde também é desenvolvido o Programa de Restauração Ecológica e Urbanização Sustentável na Amazônia (Reusa). A sede do projeto receberá melhorias e reparos em sua estrutura. O espaço beneficia mais de 30 famílias com ações de reciclagem, capacitação profissional, artesanato e conscientização ambiental. 

A iniciativa de estruturação das obras de tecnologia social surgiu por meio da Aliança Covid Amazônia, articulada pela FAS em conjunto com 122 parceiros – entre instituições, ONGs, empresas e prefeituras – para o enfrentamento da Covid-19.

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