CACHO DE UVASDESTAQUE

Você conhece a uva do seu vinho?

Por Humberto Amorim

“Me diz como degustas teus vinhos, e eu te direi se vou te fazer companhia.”

Aposto que vocês, meus queridos leitores e leitoras, enófilos de carteirinha que não perdem oportunidades para saborear os Sucos da Bíblia de várias uvas, ainda não pararam pra pensar sobre o número de variedades dessa frutinha que existem por aí. Pra começo de conversa é importante saber que são duas as principais famílias de uvas: as espécies não viníferas e as viníferas. As não viníferas ou uvas americanas, são aquelas que compramos no supermercado pra saborear “in natura”, na forma de suco de uva ou vinhos de garrafão, também conhecidos como vinho de mesa.

Aqui no Brasil a uva não vinífera mais cultivada é a Isabel. Sobre as uvas viníferas, é delas que se produzem os vinhos finos que tanto amamos degustar. Existem cerca de 5 mil variedades espalhadas pelo nosso planeta. E, os dois países no mundo que mais tem uvas diferentes são Portugal e Itália.

Logicamente as uvas mais famosas e mais plantadas no mundo são a Cabernet Sauvignon e a Merlot . Os países que mais produzem vinhos são na atualidade Itália, França e Espanha. No maravilhoso mundo do vinho toda uva famosa tem uma história que a define.

Querem exemplos? Então tá. La vão alguns. Cabernet Sauvignon é chamada de “rainha das uvas”. Francamente, não me lembro agora o nome de algum país produtor que não produza excelentes vinhos desta casta; a Carmenére que foi “Merlot” por muitos anos no Chile, tem uma história fascinante sobre a descoberta da sua verdadeira identidade; sobre a Syrah ou Shiraz ( uva com dois nomes), essa é uma casta que tem sua origem cercada de lendas e mistérios. Têm alguns que dizem que ela veio do Irã depois da tomada do poder pelo Aiatolá Khomeini que decretou a Lei Seca no país que vigora até hoje. Tem um monte de gente que discorda e diz que quem trouxe as sementes para França foram os cruzados na idade média; a Zinfandel, a joia da Califórnia, foi declarada prima legitima da italianíssima Primitivo. Os vinhos dessas duas são inesquecíveis; a francesa Merlot vinha se tornando, pouco a pouco, a uva emblemática do Brasil, mas de repente tem gente dizendo que perdeu o posto pra Tannat; a Malbec deixou de ser francesa para se tornar símbolo dos vinhos argentinos, da mesma forma a Tannat perdeu sua cidadania francesa para se tornar a uva orgulho do Uruguai, e acaba de ganhar para o Brasil medalha internacional de reconhecimento de qualidade; sobre a delicada Pinot Noir uns afirmam que nenhuma outra se iguala a francesa, muitos discordam dizendo que a Pinot Noir americana é inigualável, e ainda tem gente que bate o pé e afirma que a potência da Pinot Noir da Nova Zelândia a torna mais fina e complexa; a fabulosa Sangiovese, é a estrela da viticultura italiana. Era cultivada pelos etruscos que habitavam a Toscana no primeiro milênio antes de Cristo. Os romanos também cultivaram essa casta. Já pensou? O famoso Chianti tem nessa uva o seu principal ingrediente. Acho tudo isso uma delícia.

Já ouviu falar nas uvas de laboratório? As uvas apátridas? Muitas uvas têm origem imprecisa e não se sabe quando ou onde surgiram, esse certamente não é o caso da genuína Pinotage que tem tudo a ver com a África do Sul, e foi gerada por meio do cruzamento entre duas variedades francesas, a Pinot Noir e a Hermitage. Procura saber a história dessa uva que teve seus primeiros vinhos produzidos em 1941, e ficará encantado. Eu fiquei. Pra mim a uva de laboratório mais famosa é a Alicante Bouschet. Ela resultou do cruzamento das uvas Grenache e Petit Bouschet . Foi criada por Henri Bouschet na cidade de Alicante na Espanha em 1885. Essa casta ainda é pouco conhecida no Brasil. Interessante é que ela cresceu e se desenvolveu na Espanha onde ficou famosa, depois foi levada para Portugal, onde, na Região do Alentejo, encontrou o seu “terroir ideal”. Hoje em dia, assumiu a cidadania portuguesa, e faz muito sucesso. Uma curiosidade sobre o cultivo dessa uva. Em lugares mais frios, mais acidez. Em lugares mais quentes menos acidez. Vai entender.

Antes que eu me esqueça, acho bom mencionar que em Portugal são cultivados mais de 250 tipos de uvas nativas, e na Itália mais de mil variedades são cultivadas em 300 mil vinícolas. Tá pra ti?

Entendeu agora porque ser fiel a uma ou duas uvas é perda de tempo e novas experiências?

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