REGIÃO AMAZÔNICA

Em Belém, professora promove ensaio fotográfico de formatura para estudantes ribeirinhos

Com mais de 16 anos de dedicação à educação, sendo o primeiro ano na educação pública e numa escola ribeirinha, a professora conta que já tinha programado a formatura desde o inicio do ano

O primeiro dia de aula, a professora atenciosa, os novos coleguinhas, as primeiras descobertas são alguns dos exemplos que compõem a memória escolar que uma criança vai adquirindo ao longo do seu crescimento. As celebrações de formaturas ganham destaque, porque é a consagração das conquistas em cada etapa de desenvolvimento. Mas na maioria das vezes, essas lembranças acabam sendo revividas somente no imaginário da mente humana. 

A turminha do Jardim II, da educação infantil, da Escola Municipal de Campo Nossa Senhora dos Navegantes, localizada no Rio Aurá, na Ilha de Várzea, foi surpreendida este ano pela professora Eliana do Socorro Marques e Silva, de 58 anos, que teve a iniciativa de fazer um lindo ensaio fotográfico para comemorar a primeira de muitas formaturas dos estudantes ribeirinhos. O registro foi realizado no último dia 12 de dezembro.

Com mais de 16 anos de dedicação à educação, sendo o primeiro ano na educação pública e numa escola ribeirinha, a professora conta que já tinha programado a formatura desde o inicio do ano e teve que transformar a festa de formatura em algo mais singelo, que ao mesmo tempo ficasse registrado em um álbum de recordações, tudo para respeitar o momento de pandemia que não permite aglomerações.  

“Quando iniciamos o ano de 2020, estava cheia de projetos para a educação infantil e a formatura era um deles, só que nos deparamos com uma pandemia  onde tivemos que parar com as aulas presenciais, mas continuamos com as aulas remotas, pela falta de acesso à internet na ilha, fazíamos a entrega das atividades nas residências das crianças. E aí, percebi que as crianças  sentiam muita falta da escola e queria proporcionar um momento especial e bem significativo, para que elas soubessem que são especiais e que a educação é um meio de transformação”, relata Eliana que mobilizou uma rede de solidariedade para realizar o ensaio. 

“Conversei com a coordenadora da escola professora Thamires e professor José e na hora concordaram com a ideia. A equipe da escola é maravilhosa e muito parceira, nos unimos para fazer o melhor para as crianças”, disse Eliana pontuando que cada um contribuiu com alguma coisa, seja com a beca e roupas para os alunos, a doação do kit festa, brindes e etc. Além da equipe da de educadores e profissionais da escola, a professora também buscou a colaboração de familiares e amigos. “Minha irmã, sobrinhas, vizinhos e amigos ajudaram bastante. O fotógrafo é amigo do meu filho e logo aceitou fazer as fotos. Foi assim que aconteceu a formatura do  ABC das crianças”, conta feliz com o resultado. 

O ensaio fotográfico ocorreu de forma natural buscando registrar momentos do cotidiano e dentro do contexto atual, como o caminho até a escola feito todos os dias pelos alunos por meio de suas canoas ou pela lancha escolar, a tradicional foto individual dos formandos, a nova rotina ao chegar na escola em tempos de pandemia e a singela festinha para celebrar a confraternização entre alunos e educadores. 

Um dos colaboradores, o estudante de Cinema e Audiovisual, Wenderson MacDovel Silva, fotógrafo, de 23 anos ficou super animado quando recebeu o convite para produzir o ensaio, principalmente por ser em uma ilha, o que fez lembrar do tempo que estudou em uma escola no interior de Abaetetuba, na comunidade de Itacupé.

“Fiquei encantado com todo o zelo e cuidado da professora Eliana com seus alunos. Foi incrível ver o carinho dos alunos com ela e logo me lembrei de uma das minhas professoras do ensino fundamental. Foi tudo muito emocionante! Sou sensível por natureza, acho que é essa coisa de trabalhar com arte, ninguém viu, mas por alguns momentos meus olhos se encheram de lágrimas, principalmente quando eu percebi que apesar da distância do centro, aquelas crianças estavam tendo a oportunidade de uma educação de qualidade, o que infelizmente não é a realidade de outros municípios. Sou muito grato por poder ter participado desse momento. Não tenho nenhuma foto com meus professores de infância, mas espero que um dia essas crianças possam olhar esses registros e se lembrarem da importância da boa atuação de professores como a Eliana e toda a equipe da escola”, relata Wenderson emocionado.

A agricultora rural, Ângela Cristina dos Santos Nascimento, de 32 anos, mãe do Jorge Salomão Nascimento dos Santos, de 5 anos, ficou muito feliz com a iniciativa da professora. “Achei muito legal, a professora ter pensando em registrar este momento e que vai ficar marcado para o meu filho. A professora sempre paciente teve todo o cuidado e carinho com as crianças. Como mãe, me sinto feliz, porque é um momento especial, muito importante para a gente ter algo para recordar quando eles tiverem mais crescidos. Meu filho adora a escola e a professora Eliana”, conta.

As fotos vão compor um álbum que será entregue as famílias das crianças. “Vê a felicidade no rostinho das crianças é algo que eu nunca vou esquecer. Foram respeitados todas as normas de biossegurança. Mas espero que 2021 seja um ano bem melhor e que possamos fazer novamente a formatura”, comenta a professora.

Educação de Campo  – Atualmente existem cinco escolas localizadas nas Ilhas Sul, do outro lado da baia de Guajará que atendem 550 alunos da educação infantil  até o 5º ano do ensino fundamental. São elas: Escola Municipal de Ensino Fundamental São Sebastião Quaresma, Milton Montes, e os anexos escolares Santo Antônio, Nazaré, Nossa Senhora dos Navegantes. As escolas do campo promovem educação reforçando a identidade cultural da região com ações de sustentabilidade.

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