DESTAQUESAÚDE

Curso prepara profissionais da saúde para atuar no interior do Amazonas

Agentes comunitários de saúde (ACS) são contemplados com curso intensivo que ensina desde história do SUS até cuidados básicos sobre covid-19.

Investir na formação profissional é um dos caminhos percorridos para quem deseja se aperfeiçoar na carreira. Quando se tratam de agentes comunitários de saúde (ACS), a qualificação pode ser fundamental para fortalecer as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, além de estimular um olhar atento às questões ambientais. Com isso em mente, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) executaram um curso gratuito de capacitação para ACS de comunidades do interior do Amazonas. Com duração de 12 dias e uma dezena de alunos, a iniciativa ocorreu na comunidade Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Sustentável (RDS) do Rio Negro, com apoio da Embaixada da França e do projeto Todos pela Saúde, do Itaú Unibanco.

As aulas ocorreram ao ar livre, com obrigatoriedade do uso de máscaras e distanciamento, mas também com direito ao canto dos pássaros e ao barulho das chuvas de novembro. Além disso, os agentes também tiveram acesso à alojamento e alimentação, proporcionados pela FAS. Na abertura do curso, estiveram presentes a Superintendência da FAS, a Secretaria de  Estado de Meio Ambiente (Sema), a Secretaria Municipal de Saúde do município de Iranduba,  além da diretoria técnica do Cetam e do Consulado da França em Manaus.

É a primeira vez que a FAS e o Cetam executam juntos um curso voltado exclusivamente para a prática da profissão de agente comunitário de saúde. Segundo o coordenador do projeto SUS na Floresta da FAS, Luiz Castro, a formação pretende instrumentalizar melhor os ACS. “Em via de regra, os agentes de saúde tiveram poucas oportunidades de formação. Eles têm muito conhecimento prático, mas faltava uma metodologia nas visitas, na organização do tempo e no planejamento das ações, além dos conhecimentos técnicos sobre covid-19, imunização e a própria relação entre saúde e meio ambiente”, comentou Castro.

Aprender nunca é demais

A enfermeira e instrutora do Cetam, Steffany Prado, foi a responsável por ministrar as aulas. Para ela, o fato de ser pós-graduada em Docência para Enfermagem não a impediu de também aprender com os alunos. “Tenho a parte do conteúdo e da teoria, mas estou aprendendo muito com eles na questão prática. Agora eu consigo entender o que acontece e os desafios enfrentados por eles em cada comunidade”. Steffany também crê que educação e saúde são um elo inseparável. “Se houver educação, consequentemente haverá saúde. Por exemplo, se tiver uma orientação sobre a importância de não descartar o lixo em qualquer local, isso terá uma redução no número de doenças relacionadas”. 

Para o ACS Antonio Santos da Silva, participar de um curso intensivo como esse tem sido uma forma de se atualizar, já que está na profissão há pouco mais de 11 anos. “Com o curso eu aprendi que as formas de abordar as pessoas vão se atualizando com o passar do tempo e que também tem uma lei em que o ACS está amparado para que ele possa fazer o trabalho de forma correta, cumprindo seus direitos e deveres. Porque cada ano muda uma norma ou uma forma de abordagem, e nesses cursos a gente pode se manter atualizado”.

A experiência prática como ACS é algo que dona Dilce dos Santos Mendes coleciona com orgulho ao longo de 22 anos atuando na comunidade Saracá. Ela afirma que já participou de cursos voltados à profissão, mas que o atual tem proporcionado novos aprendizados. “Eu não sabia, por exemplo, que a função de ACS tinha vindo do nordeste, onde tiveram toda uma luta, e as mulheres é que eram a maioria. Aprendi também que no passado [antes de 1988] só tinha direito à saúde quem contribuía para a Previdência [Social], e as pessoas que não tinham emprego não tinham direito ao SUS, então conseguiram que todos tivessem direito à saúde, independente de raça, cor ou sexualidade”.

Desafios e soluções para a saúde ribeirinha

Para Luiz Castro, os desafios na saúde ribeirinha vão além de uma formação adequada, mas a FAS tem proporcionado ferramentas para combatê-los, juntamente com parceiros como a Embaixada da França e Cetam. “Além da questão basilar da formação, tem o transporte de urgência/emergência que a FAS captou ações para que as comunidades adquirissem ‘ambulanchas’ e  canoas com motor no estilo rabeta para os ACS, além de equipamentos de proteção e aparelhos médicos. Também há uma grande dificuldade de comunicação e em relação a isso a FAS atua com projetos de conectividade, com a instalação de pontos de telessaúde, facilitando a orientação e o trabalho dos ACS”, disse Castro.

Um dos resultados esperados pela FAS, segundo Luiz, é que o curso gere frutos. “O curso ajuda o ACS a enfrentar essa pandemia, mas também oferece um horizonte futuro de médio e longo prazo, incorporando conhecimentos que vão ser utilizados com ou sem pandemia, para se tornar mais preparado, seguro, eficiente e humanizado na sua atuação. O ACS é o agente da saúde que está mais próximo das pessoas e que, portanto, pode ajudar a prevenir doenças e acidentes e, quando acontecer, encaminhar rapidamente para uma solução no serviço especializado”.

Pular para o conteúdo