COLUNASOreni Braga

A DECADÊNCIA DO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS

por Oreni Braga

O Centro Histórico de Manaus é constituído de alta qualidade representativa, por conta de seus elementos emblemáticos como o Teatro Amazonas, Palácio da Justiça, Palácio Rio Negro, entre outros, os quais são verdadeiras evocações dos tempos áureos da borracha.

Atrelado a essa herança histórica e patrimonial, o comércio de importados, nas décadas de 80 a 90, se concentrou naquele eixo central estimulando a chegada de outros segmentos econômicos como a hotelaria, as agências de viagem, os edifícios comerciais e habitacionais, as casas de câmbio, entre outros negócios voltados para a gastronomia e lazer.

Durante esse período, o centro da cidade de Manaus era o point para fazer compras, ir ao cinema, ao teatro, lanchar, enfim tudo estava concentrado naquele espaço histórico, afinal as novidades de consumo chegavam primeiro ali. Muita gente que visitava Manaus fazia questão de se hospedar nos hotéis do centro para conhecer os prédios históricos e fazer compras de importados.

Pois é, em um passe de mágica o governo Collor matou a galinha dos ovos de ouro de Manaus. Abriu as importações para o resto do país e as importadoras que faturavam com a clientela nacional e local, mantendo aquele Centro Histórico vivo e dinâmico, sentiram o golpe. E olha minha gente, isso foi em 1990. De lá pra cá nada mais aconteceu. Manaus parou no tempo!

Diante desse cenário sombrio, os investimentos privados começaram a se espalhar para outros cantos da cidade com a construção de shoppings, supermercados, bancos, condomínios comerciais e habitacionais, hotéis e serviços em geral, esvaziando aquele que outrora foi o melhor local para se resolver tudo. Lembra que no Natal ou nos períodos de festas, todo mundo se dirigia para o Centro da Cidade? Era uma loucura total. Eu mesma só comprava na Importadora Belmiros e na Mesbla. No centro, é claro!

Meus amigos quando visitavam Manaus, eu recomendava sempre os hotéis Líder, Cristal, Lord, entre outros. Eles amavam ficar hospedados no meio das importadoras e perto dos prédios históricos. Hoje já não mais!

Porque hoje já não mais? Porque o Centro Histórico de Manaus está abandonado, descaracterizado e mal aproveitado. Uma lástima!

Abandonado porque nunca mais recebeu os cuidados necessários para se manter iluminado, limpo, sem a presença de usuários de droga, mendigos e vendedores ambulantes que dentre outros produtos, vendem bebidas alcoólicas na sarjeta.

Descaracterizado porque os prédios antigos e abandonados estão ocupados por vândalos e peregrinos de outros estados e países, os quais, atualmente, representam o perfil dos verdadeiros habitantes daquela região central.

Mal aproveitado porque não há uma política pública por parte da gestão municipal que possa transformar aqueles prédios abandonados em um Projeto Minha Casa Minha Vida – Centro Histórico, oferecendo oportunidade para que os trabalhadores da Zona Leste que trabalham naquela área e que pagam aluguel onde moram, possam ter sua casa própria perto do seu trabalho, sem precisar pagar transporte público. Desonera o bolso do cidadão e desafoga o sistema de transporte e repovoa o local.

A Cidade de Barcelona fez isso. Como política de Reabilitação Urbana procurou manter a população mais carente no Centro Histórico assegurando a manutenção dos valores históricos e culturais.

Isso é uma política que deve ser adotada o quanto antes pelo novo gestor municipal, visto que Manaus tornou-se uma cidade-estado, e o acelerado crescimento do êxodo rural e do processo de imigrantes, permitiram que muitas dessas famílias, não encontrando assistência social para se acomodar na cidade, se deslocassem para o centro histórico em busca de casas e prédios abandonados para se acomodar.

Infelizmente, por conta de todo esse contexto, a hotelaria naquele local vem sofrendo há anos, com a falta de segurança para seus hóspedes e funcionários, com a presença de mendigos nas portas dos hotéis, com o acúmulo de lixo nas ruas, enfim com o descaso da gestão pública. Então, como pode ser uma cidade turística?

Manaus é a 8ª. cidade mais rica do país, no entanto o seu Centro Histórico vive essa dura realidade. A capital amazonense precisa de alguém que a administre com braço de ferro e punho de aço para desapropriar os prédios abandonados e transformar em residências dignas; criar um programa de assistência social para a retirada dessas pessoas do local e acomodá-las em espaços acolhedores; restaurar o centro em um local agradável, turístico, humanizado e repovoado. Caso contrário,  o problema se agravará!


Oreni Braga é Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges.


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