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Geração Z: você sabe o que é isto?

Conheça a geração Z antes que o alfabeto acabe e você perca o trem que vai para Pasárgada.

Por Antonio Siemsen Munhoz

Largada para Pasárgada

Pasárgada é bom lugar para morar. Nasceu nas bem traçadas linhas do poema – vou-me embora para Pasárgada – escrita pelo gênio de Manuel Bandeira. A única qualidade exigida é ser amigo do rei. Os amigos do rei têm tudo, até a proteção de sua polícia de segurança. Mas não se preocupem – lá está tudo como dantes no quartel de Abrantes. Todos irão viver em algum belo local, próximo à esplanada dos ministérios.

Quem compõe a geração Z?

Certamente pessoas mais jovens que nós. Seres humanos que carregam as esperanças de seus pais e avós de se tornarem homens de bem. Se tiverem sorte, um general posudo com suas estrelas presas ao peito. A pessoa mais velha irá fazer vinte e cinco anos (nela habitam somente aqueles nascidos entre 1995 e 2010). Seus componentes viveram sua curta vida sob a égide da sociedade do espetáculo. Aquela  anunciada por Guy Debord[i]  que continua válida até os dias atuais. Alguns de seus componentes ingressaram no mundo digital sob a pecha de serem imigrantes digitais. Todos que se cuidem. A geração alpha (reinício do alfabeto que engloba os nascidos após 2010) está chegando. Muitos dos (sobre)viventes das gerações atuais não sabem e nem querem saber como ela vai ser. O tempo é de incertezas. Tudo virou de ponta cabeça com a chegada da pandemia e da possibilidade de um tempo novo. Em tempos de vacas magras muitos preferem manter o silêncio e anonimato, conforme facilitado pelas características alienantes da sociedade atual.

E daí?

Continuemos nossa história. Alguns boatos chegaram aos ouvidos do rei. Ele soube que havia uma nova geração chegando. Ela tem alguns fofoqueiros e mentirosos. Tal e qual as gerações anteriores. Este fato lhe trouxe tranquilidade. Por decreto, foram autorizadas as  Fake News (notícias falseadas em partes ou em seu todo). Elas estão deixando todos de cabelos brancos. Principalmente quando as notícias são procedentes do gabinete do ódio, muito próximo da realeza. O rei balançou os ombros e disse: e daí? Tal e qual havia feito o presidente de uma republiqueta quando os mortos da pandemia ainda eram umas poucas 50.000 pessoas. De gripinha em gripinha a coisa acabou virando uma gripona – a maior de todas. Atualmente este número já dobrou. Quem sabe terá números maiores quando este arrazoado estiver sendo lido. Como viventes da sociedade do espetáculo é de se esperar que nesta sociedade viva uma geração multimídiatica. O seu nível de cognição é ótimo para coisas rápidas. Qualquer resposta que demore mais de dois minutos sem a solução é abandonada e esquecida. As travessuras dos filhos do rei iam e vinham de tropel. Como bom caudilho que se preze o rei descia a rampa do planalto. Precisava ouvir sobre os ecos do poder e trocar ideias com esta nova geração. De quebra aproveitaria para ameaçar quebrar os dentes de algum repórter enxerido e que queria mostrar as verdades da corte. Para os nativos digitais viver diferentes e variadas realidades ao mesmo tempo, se tornando ubíquo, é fichinha e está na ordem do dia. Eles querem mesmo é saber sobre: as wearable technologies (por enquanto item de luxo, mas por pouco tempo); sobre a virtual reality, sobre a augmented reality. Também gostavam muito dos robôs e zombavam do medo que todos tinham, deles. Eles os enxergam como companheiros dos rolezinhos. Só achavam que devia ter sido escolhido um manequim mais adequado (malhadores, surfistas e outros atletas com aspecto pansexual seriam bem-vindos). Também reclamavam da fala metálica. Ela devia ser alterada por algo mais melífluo. Esta geração vive em ambientes nos quais a informação é o principal alimento e as tecnologias os talheres que lhes permitem destrinchar as coisas.

Qual a utilidade enfim?

O destino destes vaticinados parece ser levar a raça humana a um nível de conhecimento e tecnologia nunca dantes observado. Se isso não fosse pouco, será seu destino fazer com que qualquer conhecimento esteja à disposição de todos. Inclusive daqueles que não tinham acesso ao ferramental. Agora as empresas do vale (lá onde se encontram Steve Jobs e Bill Gates) estão colocando redes sem fio disponíveis a todos, via satélite. Projetos tais como o UCA – Um Computador por Aluno devem virar uma realidade de mil faces, oferecidas com os mais diferentes objetivos. Um conhecimento é disseminado em segundos por uma nova geração de prossumidores (se alguém disse nanosegundos, não está errado, somente um pouco na frente de alguns dos leitores). Sobre seu comportamento futuro, mudamos o ditado – Nem Deus sabe. Mas ela está aí. Chegou para ficar. É diferente de tudo e nos foi dada para o presente e para o  futuro. A disrupção parece ser sua palavra de ordem. A intenção é desconstruir tudo que está ultrapassado. As pessoas são pragmáticas, indecifráveis apesar de conversadoras, sinceras ou tentando ser. As redes sociais dominam e os leva à vida em comunidades, vivendo uma geração icônica que que se mostra através de emoticons e emojis[ii]. Só resta esperar que estas boas expectativas venham a se tornar uma realidade no futuro próximo e que tudo o que foi reconstruído o tenha sido feita em nome de todos e para todos.


[i] DEBORD, Guy. The society of the spectacle (English Edition). Edition Bread and Circuses, 2010.

[ii]https://www.consumidormoderno.com.br/2017/09/22/caracteristicas-fundamentais-geracao-z/

Antonio Siemsen Munhoz é Doutor em Engenharia de Produção, Bacharel em Engenharia Civil, Especialista em Tecnologias Educacionais, Pós-graduado em Gestão Eletrônica de Documentos, com MBA em Design Thinking

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