COLUNASOreni BragaTURISMO

COVID-19 E A SOBREVIVÊNCIA DO TURISMO NACIONAL

por Oreni Braga

É do conhecimento de todos que os impactos causados pela pandemia do Coronavírus deixarão cicatrizes profundas nas indústrias turísticas, mundial e nacional. Os efeitos na cadeia produtiva do turismo no Brasil foram devastadores logo nos primeiros dias, e continuam contabilizando prejuízos incalculáveis.

No entanto, para que possamos entender melhor, vamos contextualizar os cenários: antes, durante e depois da COVID-19.

De acordo com as estatísticas do Ministério do Turismo, o Brasil recebeu, em 2018, 6,6 milhões de turistas, tendo como principal emissor o continente da América do Sul com 4,6 milhões (representando 61,2%), em segundo lugar a Europa, com 1,5 milhão (significando 22,1%), a  América do Norte enviou um pouco mais de 600 mil (um percentual de 10,4%) e a Ásia 255 mil (míseros 3,9%). Na América do Sul, a Argentina foi o principal emissor com 2,5 milhões representando 37,7%, seguido de Chile com 387.460 mil (ou seja, 5,9%) e Paraguai e Uruguai com um pouco mais de 350 mil, um percentual de 5,4% e 5,3%, respectivamente. Especificamente na Europa, os principais emissores foram: França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Espanha e Portugal. Já na Ásia, o Japão foi o principal com 63.708 mil, seguido da China que mandou 56.333 mil turistas. Uma informação muito importante é que, embora os sul-americanos sejam maioria, os europeus tem uma permanência média, três vezes maior, no Brasil e a moeda é muito mais cara, ou seja, o gasto médio é bem mais elevado.

Nessa esteira, é importante destacar que 58,8% desses turistas procuram o Brasil para Lazer, e 27,7% para visitar amigos e parentes. A principal motivação para lazer é Praia e Sol, representando 71,7%, totalizando 3,9 milhões de turistas, seguido de Natureza, Ecoturismo e Aventura, com 16,3%, um montante de 1,1 milhão.

No tocante ao Turismo Doméstico, em 2019 já estava ocorrendo um aumento significativo de viagens dentro do país, chegando à casa de 97 milhões de passageiros, quase 02 milhões a mais que em 2018, que foi de 95 milhões. As pesquisas da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC apontaram que só em dezembro de 2019, houve o registro de 09 milhões de passageiros, um crescimento de 3,2% em relação ao volume de 2018, no mesmo período. Como resultado disso, a hotelaria registrou em setembro do mesmo ano, um crescimento na ocupação de 5,7% em relação a 2018, de acordo com as informações do Hotel Invest e Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil – Fohb. Na 47ª Edição da ABAV Expo Internacional de Turismo e 52º Encontro Comercial Braztoa, que aconteceu em São Paulo, no mês de setembro de 2019, foi anunciado pelo então Presidente da ABAV Nacional (Associação Brasileira de Agências de Viagens), Geraldo Rocha, que a temporada de verão do ano teve um crescimento de 15% em relação à temporada anterior, expressando um sentimento de comemoração e de confiança no crescimento do segmento. Portanto as perspectivas para o setor, em 2020, eram as melhores possíveis.

Mas, os fatores externos não mandam recado. Instalam-se e obrigam o empresário e os governos a jogar um jogo de xadrez onde a peça do xeque mate está, quase sempre, nas mãos do inimigo. 

Surgiu o Coronavírus para contrariar todas as possibilidades de sucesso que o turismo brasileiro vislumbrava. Logo nos primeiros momentos, milhões de viagens; de reservas em hotéis, pousadas, resorts; enfim, milhões de assentos cancelados, de uma hora para a outra. As agências de viagem registraram somente no mês de março, 85% de cancelamento. As companhias aéreas ficaram literalmente no chão, com as suas aeronaves estacionadas, demandando manutenção sem voar. Os hotéis estão funcionando, em média, com 10% da sua capacidade de ocupação. Outros grandes como Bourbon Convention, Sheraton de Santos e L’Hotel da região paulista, todos em São Paulo, encerraram as suas atividades, temporariamente, de acordo com as informações do Vice-Presidente da ABIH/SP – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo, Fernando Guinato Filho. Segundo a ABIH/RJ, no Rio de Janeiro, 57 hotéis fecharam as suas portas, destaque para Fasano, Ìbis, Sheraton e Mercury. No Nordeste e Norte, muitos estão fechando, temporariamente, as suas portas, mas outros fecharão por definitivo. Quanto aos demais segmentos, todos foram afetados direta ou indiretamente.

Nessa toada, podemos analisar melhor onde o Brasil perdeu mais e por onde irá recomeçar.

Pois bem, ao analisarmos as informações do universo internacional, podemos afirmar que o fechamento das fronteiras da Argentina e do Chile foi um duro  golpe para o turismo brasileiro. A América do Sul ainda é a porta da esperança para o recomeço do Turismo Internacional, por conta de dois fatores. O primeiro é que, além de ser o principal emissor, as suas fronteiras estão mais próximas do Brasil, o que oferece maior segurança para um eventual retorno ao país de origem, caso ocorra um desconforto na viagem, seja por doença outra, ou por uma possível contaminação pelo próprio COVID-19. Creio que isso será mais difícil de ocorrer, diante de todos os cuidados que a humanidade passará a ter, a partir dessa pandemia.  E o segundo, a questão do acesso que, embora o aéreo seja o mais demandado, os sul-americanos, em especial o argentino, têm o hábito de vir conhecer o solo brasileiro, via terrestre. No período pós-pandemia, a privacidade do automóvel é mais segura.

No entanto, não podemos perder de vista que o Brasil estará baratíssimo para o europeu, americano e asiático, uma vez que o Real está cada vez mais desvalorizado diante do Euro e do Dólar. Isso pode ser um indicador para estimular esses turistas ao retorno. Todavia, vai depender muito das estratégias que serão adotadas internamente e externamente, no sentido de deixar o país saudável para visitação e evitar que a população brasileira seja, mais uma vez, vítima de uma contaminação em massa.

Mas, se prepare que o turismo no Brasil vai recomeçar mesmo é com o fluxo de brasileiros que vão querer sair do stress viajando dentro do país. Irão gastar o dinheiro que não foi gasto no shopping, no restaurante, etc., enquanto estavam de quarentena. Todo mundo economizou obrigado. Além disso, assim como é mais seguro para o latino-americano vir ao Brasil, o turista nacional terá mais liberdade para viajar dentro do país, uma vez que diante de qualquer eventualidade de doença, ele conta com o plano de saúde, ou pode ser atendido em um hospital de emergência, o que não poderá fazer com tanta facilidade no exterior.

Porém, não adianta demanda se a oferta não estiver preparada para esse momento. É preciso uma injeção de ânimo para o setor. Poucos são os empresários que tem reservas para retomar. A maioria é médio e pequeno porte. A mão amiga dos governos será fundamental para que a hotelaria, as companhias aéreas, as agências de viagem, os restauranteiros,  enfim,  todos possam se levantar, ficar de pé, sacudir a poeira e dá a volta por cima.     

Institucionalmente, é hora dos marqueteiros de plantão das Secretarias de Turismo do país começar a ser criativos e agressivos (no bom sentido), para convencer os milhões de brasileiros a conhecer seus Estados e seus Municípios.

Deus Salve o Brasil! Viva meu Brasil Brasileiro!


Oreni Braga é Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, Especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges.


Pular para o conteúdo