Povos da Amazônia e bioeconomia devem estar no centro da COP30
Conferência em Belém é oportunidade histórica para transformar saberes tradicionais em políticas globais de sustentabilidade
A contagem regressiva para a COP30, que será realizada em Belém em 2025, coloca a Amazônia no epicentro das discussões climáticas mundiais. Muito além da diplomacia, o evento é visto como uma oportunidade histórica para reconhecer a bioeconomia amazônica e o protagonismo de povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas como agentes de soluções climáticas.
Se por décadas a floresta foi tratada como território vulnerável às pressões econômicas, a COP30 oferece a chance de reposicioná-la como laboratório vivo de sustentabilidade, onde saberes tradicionais, ciência moderna e inovação tecnológica podem convergir para desenhar novos modelos de desenvolvimento.
A bioeconomia não é apenas um conceito técnico: ela já acontece no cotidiano amazônico. Da coleta de sementes ao manejo comunitário da madeira certificada, passando pelo artesanato, gastronomia e fitoterápicos, a região gera riqueza a partir da floresta em pé. Estimativas recentes do Instituto Escolhas apontam que a bioeconomia pode movimentar R$ 40 bilhões por ano se houver investimento em cadeias produtivas locais e infraestrutura adequada.

Mais do que números, a valorização dessas práticas representa um reconhecimento cultural. Cada produto que sai da Amazônia carrega a marca da diversidade de povos que mantêm a floresta viva. A COP30 é, portanto, espaço para defender que essa identidade seja também motor da economia global.

Desafio da inclusão nas negociações
Apesar do discurso, o desafio está em garantir que indígenas e populações tradicionais não sejam apenas símbolos no evento, mas coprotagonistas das decisões. Líderes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) defendem a criação de mecanismos que assegurem participação efetiva nas mesas de negociação e acesso direto a fundos climáticos.
“Não falamos apenas em nome da Amazônia, mas do planeta. Nossa luta é pela continuidade da vida”, tem repetido a liderança indígena Sonia Guajajara em fóruns preparatórios.

Oportunidade para o Brasil e o mundo
A COP30 também será vitrine para que o Brasil apresente ao mundo sua capacidade de liderar agendas ambientais, conciliando preservação e desenvolvimento econômico. O sucesso do encontro dependerá de como o país transformará compromissos em ações concretas, especialmente no combate ao desmatamento, na valorização das cadeias da sociobiodiversidade e no financiamento de iniciativas locais.

Belém se prepara para receber mais de 40 mil pessoas, entre autoridades, pesquisadores e ativistas. Para além da visibilidade, a cidade e os estados da Amazônia enfrentam o desafio de traduzir a energia do evento em legado duradouro para a região.
Floresta como horizonte de futuro
A realização da COP30 em território amazônico é mais do que uma decisão geográfica. É um chamado ao mundo para ouvir a floresta e seus povos. Reconhecer a bioeconomia e o conhecimento tradicional como soluções climáticas é não apenas justo, mas necessário diante da crise global.