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Livro sobre Colégio Militar reacende debate sobre educação, desigualdades e modelos de gestão no Amazonas

Obra do coronel Rudinei Costa Caldas exalta trajetória do CMPM III, mas reacende discussão sobre impacto das escolas militarizadas em territórios vulneráveis

O lançamento do livro A escola que reescreveu vidas, nesta sexta-feira (05/12), às 15h, no 3º Colégio Militar da Polícia Militar do Amazonas (CMPM III), reabre um debate que há décadas atravessa a educação pública: quais são os reais efeitos — e limites — do modelo militarizado em escolas situadas em áreas de vulnerabilidade social?

A obra, assinada pelo coronel da reserva Rudinei Costa Caldas, reúne relatos de professores, militares e ex-alunos que viveram o cotidiano da unidade localizada no Tarumã, bairro que convive com índices elevados de violência e evasão escolar. O livro celebra trajetórias de superação e atribui ao ambiente disciplinado uma série de conquistas acadêmicas e pessoais.

Entre conquistas reais e problemas que persistem

Ao narrar sua passagem pelas escolas militares, Caldas descreve um cenário em que estudantes de séries avançadas apresentavam dificuldades básicas de leitura e escrita. A equipe implementou reforço escolar, reorganizou rotinas e adotou estratégias de acompanhamento que, segundo o autor, transformaram o desempenho da unidade.

Os resultados são expressivos: medalhas internacionais de matemática, destaque na OBMEP e avanços acadêmicos que alimentam o orgulho institucional. No entanto, essas conquistas também revelam um elemento pouco discutido na educação amazonense: por que modelos de excelência surgem apenas em escolas militarizadas, e não nas centenas de unidades civis da rede estadual?

O modelo militarizado e suas contradições

Ao destacar histórias vitoriosas, o livro cumpre seu papel de valorizar a comunidade escolar, mas também alimenta uma narrativa comum: a de que a militarização seria a razão fundamental para o sucesso. Essa percepção simplifica uma realidade mais complexa. Colégios militares operam com condições que a maioria das escolas públicas não possui — investimentos robustos, equipes maiores, autonomia administrativa e um processo de seleção interna que naturalmente reduz conflitos e facilita indicadores positivos.

O disciplinamento rígido, marca desse modelo, organiza a rotina e eleva a performance no curto prazo, mas também pode ocultar fragilidades pedagógicas que persistem mesmo em ambientes controlados. Isso evidencia que a excelência não depende da farda, e sim de condições estruturais que deveriam estar disponíveis para toda a rede.

Exceção que expõe a desigualdade

O CMPM III funciona como uma ilha de estabilidade em meio a um sistema escolar marcado por carências crônicas. Infraestrutura insuficiente, rotatividade de professores e ausência de políticas pedagógicas permanentes ainda moldam o cotidiano de grande parte das escolas civis. Se o CMPM III “reescreveu vidas”, como afirma o autor, é porque recebeu investimentos e atenção diferenciada — justamente o que falta ao restante da rede.

O livro, portanto, reforça um paradoxo: ao mesmo tempo que exalta conquistas legítimas, expõe o abandono estrutural das escolas civis, que não dispõem de recursos capazes de produzir os mesmos resultados.

Memória afetiva e disputas de narrativa

Natural de Benjamin Constant, formado em Educação e Contabilidade, Rudinei Caldas estreia na literatura trazendo vínculos profundos com sua trajetória educacional. O orgulho pelos ex-alunos que se tornaram médicos, advogados, fisioterapeutas e militares aparece como fio condutor de sua obra.

Mas, para além das memórias, A escola que reescreveu vidas provoca uma reflexão necessária: quais escolhas políticas moldam a educação no Amazonas? Por que algumas escolas recebem condições excepcionais enquanto a maioria luta para garantir o básico?

O livro está à venda na Amazon por R$ 49,90 e chega em um momento crucial, quando o debate sobre militarização, equidade e futuro da educação pública volta ao centro da agenda nacional.

Fotos: Arquivo e Divulgação

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