Infraestrutura

Amazon Best entra em rota de colisão com o MPAM por alta no preço dos ingressos do Festival de Parintins

Empresa que detém a venda oficial dos bilhetes é alvo de pedido de suspensão do MP-AM, que aponta reajustes abusivos para 2026 e cobra transparência na formação dos valores.

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) ingressou com pedido de tutela cautelar de urgência para suspender a venda de ingressos do Festival Folclórico de Parintins 2026, comercializados pela Amazon Best Turismo e Eventos Ltda., empresa responsável pela bilheteria oficial da festa dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido. O órgão sustenta que os reajustes de preços são abusivos e que a empresa não apresentou justificativas econômicas que expliquem os aumentos para o próximo ano.

Segundo o MPAM, setores como arquibancadas e camarotes tiveram alta de até 200% em relação aos valores praticados na edição de 2025. O ingresso avulso para um único dia, por exemplo, subiu de R$ 500 para R$ 1.000, enquanto o passaporte para os três dias de festa passou de R$ 1.440 para R$ 3.000. A ação pede ainda multa diária de R$ 50 mil caso a empresa mantenha as vendas.

Valores fora da realidade

O pedido de suspensão foi formulado pelas promotoras de Justiça Sheyla Andrade dos Santos (81ª Prodecon) e Marina Campos Maciel (3ª Promotoria de Parintins). Elas afirmam que os reajustes desrespeitam o Código de Defesa do Consumidor, configurando prática abusiva.

“O aumento é desproporcional e não há qualquer demonstração pública de custos ou investimentos que justifiquem tamanha elevação dos preços”, aponta o documento encaminhado ao Judiciário.

As promotoras também chamam atenção para a falta de transparência e diálogo com o público, lembrando que o festival é um patrimônio cultural do Amazonas e deve prezar pelo acesso democrático. A preocupação é que o alto custo dos ingressos acabe excluindo moradores locais e torcedores tradicionais dos bois-bumbás, transformando o evento em um produto voltado apenas a turistas de maior poder aquisitivo.

Amazon Best defende modelo de comercialização

Em nota, a Amazon Best informou que a comercialização de ingressos e pacotes para o Festival de Parintins 2026 segue normas legais e contratuais, e que os valores refletem custos operacionais mais altos, além de melhorias na estrutura e segurança do Bumbódromo.

A empresa também destacou que o novo sistema de vendas — totalmente digital, com emissão de vouchers, controle por CPF e divisão entre inteira e meia-entrada — busca garantir segurança e evitar fraudes.

“O objetivo é proporcionar uma experiência organizada, transparente e acessível dentro das possibilidades de cada setor”, informou a Amazon Best.

Ainda segundo a empresa, parte dos valores arrecadados é destinada ao financiamento da logística de acesso, ao apoio técnico às agremiações e à infraestrutura de hospitalidade da ilha, o que justificaria a necessidade de reajuste. A Amazon Best declarou estar aberta ao diálogo com o MPAM e confiante de que poderá comprovar a legalidade dos preços praticados.

Acesso, cultura e economia em disputa

O impasse reacende o debate sobre o equilíbrio entre sustentabilidade econômica e acessibilidade cultural em grandes eventos da Amazônia. O Festival de Parintins movimenta milhões de reais em turismo, hotelaria, transporte e economia criativa, mas também é símbolo de identidade popular.

Para o MPAM, o risco é que o espetáculo se torne inviável para o público tradicional da ilha, enquanto, para a Amazon Best, conter os reajustes pode ameaçar a viabilidade financeira do evento e dos contratos com fornecedores e artistas.

O Judiciário deve analisar o pedido do MPAM nos próximos dias. Caso a decisão seja favorável ao órgão, a empresa terá de suspender as vendas imediatamente até apresentar comprovação detalhada da composição dos preços.

Um teste para a festa e para o modelo de gestão

O episódio marca um ponto de inflexão na relação entre poder público e iniciativa privada na organização do Festival de Parintins. À medida que o evento ganha projeção nacional e internacional, cresce também o desafio de garantir transparência, equilíbrio e acesso.

Para os torcedores de Caprichoso e Garantido, o debate vai além do preço: é sobre quem pode participar de uma das maiores celebrações culturais do país.

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