Brasil e Indonésia reforçam parceria estratégica e abrem novo caminho para a liderança amazônica no clima global
Acordo firmado durante visita de Lula a Jacarta aproxima as duas maiores potências tropicais do planeta em torno da preservação das florestas, da bioeconomia e da reforma da governança mundial
O comunicado conjunto assinado entre Brasil e Indonésia, nesta quinta-feira (23), vai além de um simples gesto diplomático: ele consolida uma aliança entre os dois maiores países tropicais do mundo, que compartilham desafios comuns — florestas ameaçadas, desigualdade social, pressão econômica e o papel de protagonistas no enfrentamento da crise climática.
Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Jacarta, os dois países reafirmaram o compromisso com a proteção das florestas tropicais, o combate à fome e à pobreza e a cooperação para uma nova arquitetura global que dê mais voz ao Sul Global.
O documento também reforça a sinergia entre as nações em temas estratégicos como transição energética, biocombustíveis, segurança alimentar e ciência ambiental, áreas em que Brasil e Indonésia são reconhecidos como potências emergentes.
Aliança tropical e bioeconomia sustentável
A aproximação entre Brasília e Jacarta reflete uma agenda ambiental em transformação. Brasil e Indonésia detêm as maiores florestas tropicais do planeta, que juntas armazenam bilhões de toneladas de carbono e são essenciais para equilibrar o clima global.
Ambos os países também enfrentam pressões semelhantes — desmatamento, mineração ilegal, exploração predatória e pobreza nas zonas florestais —, o que torna a cooperação entre eles estratégica.
“Fortalecer essa aliança é ampliar o peso político das florestas tropicais na diplomacia global. São países que podem negociar de igual para igual com o Norte Global”, avalia o economista ambiental amazonense Paulo Nunes, ouvido pelo Valor Amazônico.
O acordo sinaliza oportunidades de cooperação técnica em manejo sustentável, biotecnologia e economia de baixo carbono, temas centrais para o futuro da bioeconomia amazônica.
Na prática, significa a possibilidade de intercâmbio em ciência, inovação e tecnologia aplicada à floresta, fortalecendo a posição do Brasil como laboratório vivo de soluções climáticas.
Florestas tropicais e liderança climática
No campo ambiental, o documento destaca o apoio de ambos os países ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) — iniciativa que será lançada oficialmente na Cúpula do Clima de Belém, em 2025.
A proposta tem como meta criar mecanismos permanentes de financiamento para a conservação das florestas tropicais e a valorização das comunidades que vivem nelas.
Para analistas, a aliança Brasil–Indonésia fortalece o bloco das nações florestais — que inclui também o Congo — e reposiciona o Brasil como liderança global na pauta climática.
“As três grandes florestas tropicais do planeta — Amazônia, Bornéu e Congo — agora têm uma agenda comum. Isso é inédito e representa um contrapeso ao eixo das potências industriais”, observa a pesquisadora Lívia Barbosa, do Instituto Amazônico de Estudos Climáticos.
Reforma global e voz do Sul
No campo político, Brasil e Indonésia convergem na defesa de uma reforma urgente da governança internacional, com destaque para o Conselho de Segurança da ONU.
O objetivo é ampliar a representatividade dos países emergentes e construir uma ordem internacional mais equitativa e plural, capaz de refletir a nova geopolítica climática do século XXI.
O documento também expressa apoio ao cessar-fogo em Gaza, à reconstrução do território palestino e à solução de dois Estados, reafirmando a posição humanitária e mediadora que o Brasil vem adotando no cenário internacional.
A voz da Amazônia no mundo
Para a diplomacia brasileira, a cooperação com a Indonésia representa mais do que uma aliança econômica: é a afirmação de que a Amazônia tem papel central na redefinição das relações internacionais.
Ao lado da Indonésia e de outros países tropicais, o Brasil busca projetar a floresta como ativo político e econômico global — não apenas como território a ser protegido, mas como fonte de conhecimento, energia limpa e inovação.
O acordo sinaliza que a nova geopolítica do clima passa necessariamente pela Amazônia. E que, ao fortalecer parcerias no eixo Sul-Sul, o Brasil amplia sua influência diplomática e consolida um novo paradigma: a diplomacia das florestas.


