Longa Mawé terá exibição em Manaus e celebra música amazônica e identidade regional
Filme de Jimmy Christian mergulha na ancestralidade do povo Saterê-Mawé e se destaca pela trilha sonora que traduz a força simbólica da Amazônia
A arte amazônica ganha destaque mais uma vez no cinema nacional com a exibição gratuita do longa-metragem Mawé, dirigido por Jimmy Christian, nesta terça-feira (7), às 18h30, no Teatro Gebes Medeiros, Centro de Manaus. A obra, filmada em resolução digital 4K, retrata a ancestralidade do povo Saterê-Mawé e sua relação com o mundo contemporâneo, tendo a música como fio condutor de memória e identidade.
Com cerca de 1h40 de duração, o filme acompanha a trajetória de um jovem indígena que, ao se recusar a cumprir o ritual de passagem com as formigas tucandeiras, é expulso da aldeia e parte para Manaus. Na capital, enfrenta os dilemas da vida urbana até reencontrar, no afeto e na arte, caminhos de reconciliação entre tradição e modernidade.

Trilha sonora como personagem
Um dos pontos altos da obra é sua trilha sonora original, que funciona não apenas como acompanhamento, mas como parte integrante da narrativa. Composta por artistas amazônidas de diferentes gerações, a seleção musical estabelece pontes entre a floresta, a cidade e o imaginário cultural da região.

Entre os destaques está Saterê-Mawé, faixa-tema composta por Marcos Terra-Nova, fruto de pesquisa cultural e de diálogo direto com o roteiro. Gravada com arranjos que resgatam a cadência dos rituais tradicionais, a música se transformou em um tributo sonoro à resistência e à espiritualidade do povo originário.
Além de Terra-Nova, a trilha reúne bandas e artistas locais, como Os Tucumanus, Banda Chá de Flores, Pacato Plutão, Banda Espantalho e Carlos Gomes, criando um panorama da produção musical amazônica contemporânea. O videoclipe da faixa-tema, editado por Castro Jr., reforça essa proposta ao unir imagens do filme com a força simbólica da música.
“A Amazônia é potência estética, espiritual e sonora. A música não está só para embalar a história — ela é parte da história”, destacou o diretor Jimmy Christian.
Pertencimento e afirmação no cinema
Mawé traz no elenco nomes como Alice Toledo, Afrânio Pires, Bruno Castro, Laura Castello, Rômulo Moreira e o próprio diretor, além de participações indígenas, reforçando o compromisso de valorização da identidade regional. A produção foi realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo (2023), em parceria com a Laxunga Produções e a Picote Produções, e contou com uma equipe formada majoritariamente por profissionais amazônidas.

A pré-estreia no Teatro Amazonas, já realizada, teve lotação expressiva e simbolizou o impacto coletivo da obra. Agora, a exibição no Gebes Medeiros amplia o acesso gratuito e fortalece a circulação do audiovisual local.
“Ver a casa cheia é reflexo da força coletiva que construiu este filme. É uma noite de celebração e de afirmação do nosso lugar no cinema brasileiro”, afirmou Christian.
Um cinema de resistência
Ao colocar no centro da tela a vivência Saterê-Mawé, o longa reafirma o papel do cinema como instrumento de memória, denúncia e afirmação cultural. A obra não se limita a retratar um rito ancestral, mas questiona os conflitos entre tradição, religião, política e urbanidade.

Em Mawé, o som é tão protagonista quanto a imagem: transforma-se em voz de uma Amazônia que insiste em existir com dignidade, identidade e poesia. A exibição gratuita desta terça-feira é, portanto, mais do que entretenimento — é um convite à reflexão sobre a potência cultural da floresta e a urgência de preservá-la, em todos os sentidos.
Fotos: Divulgação