Agricultura familiar sustentável avança no interior do Amazonas e ganha apoio de mercados verdes
Projetos e políticas públicas incentivam produtores a conciliarem renda e preservação ambiental em comunidades amazônicas
Por Dora Tupinambá (*)
No interior do Amazonas, a agricultura familiar começa a mostrar que é possível unir produção, geração de renda e preservação ambiental. Experiências apoiadas por programas estaduais e projetos nacionais apontam caminhos para um modelo de desenvolvimento mais sustentável, capaz de levar alimentos e insumos da floresta até os mercados urbanos.
Um exemplo recente veio da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), que adquiriu 71 toneladas de jerimum produzidas por agricultores familiares de quatro municípios do interior. A compra reforça o papel estratégico do Estado na garantia de mercado para pequenos produtores e demonstra que a produção sustentável pode abastecer políticas públicas e, ao mesmo tempo, fortalecer a economia local.

Projetos e comunidades
Além da ADS, outros programas têm estimulado a agricultura familiar no Amazonas. Em Anori, o governo estadual investiu R$ 75 mil na compra de alimentos como tambaqui, mamão, farinha, tucumã, banana, macaxeira e açaí, todos vindos da produção familiar local, para abastecer escolas e programas sociais.
Outro destaque é o projeto Mercados Verdes e Consumo Sustentável, iniciativa internacional que conectou cooperativas amazônicas a mercados privados e públicos, ampliando a visibilidade de produtos da sociobiodiversidade como açaí, castanha-do-Brasil e óleos vegetais. O programa mostrou resultados positivos ao incentivar certificações e ampliar canais de comercialização.

Nos assentamentos rurais, iniciativas como no Paciá, em Lábrea, revelam que sistemas agroflorestais — que integram árvores nativas, culturas agrícolas e criação de animais em áreas recuperadas — podem ser alternativa ao desmatamento, garantindo renda e preservando o solo.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, produtores ainda enfrentam desafios logísticos para levar a produção às cidades. O transporte fluvial caro, as estradas precárias e a falta de escala para atender grandes redes continuam limitando a expansão. Mas as comunidades mostram resiliência: ao investir em práticas sustentáveis, elas conquistam nichos de mercado que valorizam a origem e a qualidade ambiental dos produtos.

Com mais de 53 mil famílias já cadastradas no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) no Amazonas, segundo o IDAM, o potencial de crescimento é grande. Se bem estruturada, a agricultura familiar sustentável pode se tornar protagonista no abastecimento alimentar regional e em mercados verdes que buscam produtos amazônicos com identidade socioambiental.
O futuro que nasce da floresta
A agricultura familiar sustentável no Amazonas não é apenas uma estratégia de subsistência: é também uma resposta aos desafios globais de clima, alimentação e preservação. Ao transformar a floresta em aliada da produção, agricultores familiares mostram que desenvolvimento e conservação podem caminhar juntos.

Essa primeira onda de projetos e investimentos abre caminho para novas histórias a serem contadas — histórias que terão como protagonistas os agricultores e comunidades que, no dia a dia, cultivam alimentos e esperança em plena Amazônia.
(*) jornalista amazônida, fundadora do Valor Amazônico