Plástico invisível ameaça a saúde ribeirinha na Amazônia
Fragmentos microscópicos de plástico contaminam rios, peixes e até a água consumida por comunidades tradicionais, em um alerta silencioso para a saúde pública e o equilíbrio ambiental
Nas águas que sustentam a vida na Amazônia, partículas invisíveis começam a comprometer o futuro de quem delas depende. Estudos recentes conduzidos pela Fiocruz, Embrapa e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) apontam a presença generalizada de micro e nanoplásticos em rios e igarapés da região. Esses fragmentos, oriundos do descarte irregular e da degradação de resíduos, contaminam peixes, sedimentos e até a água potável consumida por comunidades ribeirinhas.
Menores que um grão de arroz, os microplásticos (menos de 5 mm) e os nanoplásticos (mil vezes menores) são ingeridos por peixes, moluscos e crustáceos, acumulando-se na cadeia alimentar. Nas populações humanas, estudos internacionais relacionam a presença dessas partículas a distúrbios hormonais, respiratórios e inflamações crônicas — embora os efeitos específicos na Amazônia ainda sejam pouco estudados.
Risco à segurança alimentar
A pesca artesanal, base da dieta ribeirinha, pode se tornar vetor silencioso de contaminação. A ingestão repetida de peixes com partículas plásticas representa ameaça especialmente a crianças e gestantes. Segundo a Fiocruz, os fragmentos podem carregar substâncias tóxicas como metais pesados e disruptores endócrinos, que afetam o sistema reprodutivo.
Falta de políticas e monitoramento
Apesar da gravidade do problema, não há programa estruturado de monitoramento de microplásticos na Amazônia. Iniciativas pontuais de ONGs e universidades tentam mapear pontos críticos, mas enfrentam dificuldades de logística e financiamento. Sem políticas de saneamento e gestão de resíduos eficazes, o problema tende a crescer junto com a urbanização e o consumo de plásticos descartáveis na região.
“O lixo que não vemos pode ser o mais perigoso”, resume a bióloga Carla Castro, pesquisadora da Fiocruz. “Precisamos tratar a poluição plástica como crise de saúde pública.”
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