Amazônia vive alívio com queda nas queimadas, mas alerta permanece sobre clima extremo e garimpo
Agosto registra menor número de focos de incêndio da série histórica; área queimada cai 70% no ano, mas cheia em 2025 ainda castiga mais de 40 municípios e MPF recomenda banir mercúrio do garimpo em toda a região
Os novos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam um respiro para a floresta: o mês de agosto registrou o menor número de focos de queimadas da série histórica, iniciada em 1998. Entre janeiro e julho de 2025, a área queimada na Amazônia caiu 70% em relação a 2024, segundo levantamento da Agência Brasil, sinalizando o efeito combinado de maior fiscalização e mudanças climáticas momentaneamente favoráveis.
Apesar do avanço, a região ainda concentrou 28,3% dos focos de fogo no acumulado do ano, evidenciando que a pressão sobre a floresta continua. Especialistas alertam que a redução não pode ser interpretada como vitória definitiva: o fogo se desloca com intensidade crescente para o Cerrado, bioma vizinho que vive um processo de savanização acelerada.
Contrastes: cheia em 2025 e seca histórica em 2024
Os números positivos chegam em um momento de fortes contrastes climáticos. Em 2024, a Amazônia sofreu uma das secas mais severas de sua história recente, com rios em níveis críticos e isolamento de comunidades inteiras. Já em 2025, o desafio tem sido o inverso: a cheia prolongada do Rio Negro e de seus afluentes segue impactando mais de 40 municípios, com prejuízos à agricultura familiar, ao transporte fluvial e à vida cotidiana de ribeirinhos.
Esses extremos, de seca e inundação, reforçam os alertas da comunidade científica sobre a instabilidade climática associada ao desmatamento e ao aquecimento global.
Além do fogo, outro fator de pressão mobiliza órgãos de controle. O Ministério Público Federal (MPF) recomendou a adoção de medidas para banir o uso de mercúrio em atividades de garimpo em toda a Amazônia. O metal pesado, largamente utilizado na extração ilegal de ouro, contamina rios, peixes e populações tradicionais, colocando em risco a saúde pública e a biodiversidade aquática.
A recomendação reacende o debate sobre a urgência de políticas de transição econômica para a região, capazes de substituir práticas predatórias por cadeias produtivas sustentáveis, que valorizem os serviços ambientais da floresta.
O futuro em disputa
Se por um lado os indicadores recentes revelam que é possível reduzir o fogo com esforço conjunto de fiscalização e políticas públicas, por outro lado o cenário climático e a permanência de atividades ilegais, como o garimpo com mercúrio, mostram que a Amazônia continua em estado de vulnerabilidade.
Com a COP30 marcada para novembro em Belém, a expectativa é que o Brasil apresente resultados concretos e compromissos claros para transformar essa trégua momentânea em um caminho duradouro de preservação. O futuro da floresta, de seus povos e da estabilidade climática global depende das escolhas feitas agora.