Garimpo avança no Rio Madeira e Greenpeace denuncia operação ilegal com mais de 500 balsas
Monitoramento revela aumento de 316% nas embarcações entre Rondônia e Amazonas, com atuação próxima a áreas protegidas e territórios indígenas
Um crime cometido em plena luz do dia. É assim que o Greenpeace descreve a cena registrada em julho no Rio Madeira, onde 542 balsas de garimpo ilegal foram flagradas em operação ativa, entre os estados do Amazonas e Rondônia. A denúncia, feita em parceria com a Frente de Povos Indígenas, expõe mais um capítulo da escalada de degradação ambiental na região amazônica.
O flagrante foi resultado de um sobrevoo realizado entre os dias 15 e 18 de julho, como parte do monitoramento contínuo feito pela organização ambiental. O número impressiona: representa um crescimento de 316% em relação ao levantamento anterior, feito em fevereiro deste ano, quando haviam sido identificadas 130 embarcações.
Licenças suspensas, operações mantidas
Segundo o Greenpeace, as dragas operam em total desacordo com a legislação ambiental. As licenças que permitiam esse tipo de atividade foram suspensas por decisão judicial, mas, mesmo assim, as embarcações seguem dragando o fundo do rio em busca de ouro — causando destruição, contaminação e ameaça a comunidades ribeirinhas e indígenas.

Grande parte das balsas está posicionada próxima a áreas protegidas, como a Reserva Extrativista Lago do Cuniã e a Terra Indígena Lago Jauari, reforçando os riscos de impactos socioambientais e a violação de direitos de povos originários.
“Nós lutamos por uma Amazônia livre de garimpo por tudo o que essa atividade representa: destruição ambiental, contaminação das águas por mercúrio, violações de direitos dos povos indígenas e trabalho análogo à escravidão”, alertou a organização.
Monitoramento independente e denúncia
A operação foi realizada com apoio do sistema próprio de vigilância do Greenpeace, o Papa Alpha, que combina monitoramento por satélite, inteligência geoespacial e sobrevoos regulares. O material já está sendo reunido para compor uma denúncia formal ao Ministério Público Federal, além de ser encaminhado às Secretarias de Meio Ambiente do Amazonas e de Rondônia.

Para o Greenpeace, esse tipo de ação mostra como o garimpo ilegal se expande com ousadia, confiando na impunidade e na fragilidade da fiscalização ambiental no país.
“Sem o nosso trabalho de campo, essa atividade criminosa poderia seguir avançando longe dos holofotes”, afirma a entidade.
Quando o ouro vale mais do que a vida
A denúncia também alerta para os riscos que o avanço do garimpo impõe à vida humana e à biodiversidade amazônica. “Quando o garimpo avança, pessoas, animais, floresta e rios são expostos a graves riscos”, diz o Greenpeace em comunicado, reforçando que o ouro jamais pode valer mais do que a vida.
Enquanto a organização segue coletando dados e pressionando por ação institucional, também convoca a sociedade a se engajar na luta contra o garimpo ilegal. “Seguimos, como sempre, mostrando o que a luta coletiva é capaz de fazer”, conclui.
Fotos: Greenpeace Brasil