“Os Avós” rompe silêncio do Norte e coloca o cinema amazonense na disputa do Festival de Gramado
Dirigido por Ana Lígia Pimentel, documentário retrata ancestralidade precoce na Amazônia e marca presença histórica na principal mostra competitiva do cinema nacional
Pela primeira vez em mais de quatro décadas, um longa-metragem documental produzido no Amazonas integra a mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado — um dos mais prestigiados do país. O filme “Os Avós”, dirigido pela cineasta Ana Lígia Pimentel, foi selecionado para concorrer na categoria longas documentais da 53ª edição do festival, que acontece entre os dias 13 e 23 de agosto de 2025, no Rio Grande do Sul.
O feito rompe um hiato de mais de 40 anos sem representantes do Amazonas na mostra principal e marca uma conquista histórica para o audiovisual nortista. Filmado em Manaus, em comunidades ribeirinhas e no Parque das Tribos — o maior bairro indígena urbanizado do Brasil — o documentário lança um olhar sensível e inédito sobre o fenômeno da ancestralidade precoce, retratando homens e mulheres de 30 a 35 anos que já exercem o papel de avós.

Um retrato íntimo e poético da juventude ancestral
Com cerca de 90 minutos, “Os Avós” é uma obra imersiva, construída por meio da observação e da escuta. A câmera percorre paisagens amazônicas, corpos e silêncios, costurando fragmentos de vida em um retrato coletivo de tempo, memória e permanência. A trilha sonora sutil se soma à fotografia naturalista e à edição cuidadosa para criar uma atmosfera de intimidade e reflexão.
A direção e montagem são de Ana Lígia, com consultoria da premiada montadora Jordana Berg, integrante da Academia do Oscar. A narração da atriz e escritora Maria Ribeiro adiciona camadas de profundidade e emoção ao relato, ampliando o impacto narrativo da obra.
“O filme parte de uma inquietação pessoal que virou uma busca coletiva. É sobre ciclos de vida que começam cedo demais, mas também sobre afeto, resistência e a beleza de continuar. Representar o Amazonas nesse festival é uma responsabilidade, mas também um presente”, afirma Ana Lígia.

Uma conquista para o audiovisual da Amazônia
A seleção de “Os Avós” sinaliza uma nova fase para o cinema amazonense, ainda sub-representado nos grandes circuitos de festivais nacionais. O reconhecimento em Gramado também aponta para o amadurecimento de uma geração de cineastas da região que, com poucos recursos, têm contado histórias potentes a partir de seus próprios territórios.
O documentário entra para a história como o primeiro longa documental do Amazonas a disputar um Kikito — troféu concedido aos vencedores do festival — e representa não apenas uma vitória artística, mas também um chamado à descentralização da produção audiovisual no Brasil.
Com estreia marcada para agosto, “Os Avós” carrega, em sua essência, a força da oralidade, da coletividade e da floresta. É uma obra que desafia narrativas hegemônicas e nos lembra que ser avô ou avó, na Amazônia, é também um ato de reinvenção — precoce, sim, mas cheio de potência.