Designers indígenas rompem fronteiras e transformam a moda em arma de resistência da Amazônia
Sioduhi Waíkhᵾn, Rebeca Ferreira e outros talentos levam identidade amazônica para passarelas globais com propósito e ancestralidade
A moda indígena da Amazônia deixou de ser resistência silenciosa e virou voz ativa em passarelas internacionais. Em Paris, Milão e nas prévias da COP30 em Belém, nomes como Sioduhi Waíkhᵾn, do povo Tikuna, e Rebeca Ferreira, descendente do povo Sateré-Mawé, mostram ao mundo que a floresta também cria, desenha, produz e gera riqueza sem destruir seu próprio corpo.
As coleções nascem da terra, das águas e da memória ancestral. Tecidos feitos com fibras naturais, pigmentos de sementes e grafismos inspirados nos rios e nos animais compõem peças únicas, que não seguem tendências passageiras, mas contam histórias de pertencimento, espiritualidade e resistência.
“Quando desfilamos nossas criações, mostramos que nossa cultura é viva e contemporânea. Não somos figuras de museu. Somos designers, artistas, empreendedores e guardiões da floresta”, afirma Sioduhi, que há dois anos se apresenta em eventos de moda consciente na Europa e já tem parcerias com marcas sustentáveis na França.
Moda que respeita territórios e empodera comunidades
O crescimento da moda indígena amazônica vai além da estética: é ferramenta de autonomia econômica e fortalecimento territorial. Cada peça vendida ajuda a financiar projetos comunitários, contribui para manter jovens em suas aldeias e preserva práticas tradicionais que por décadas foram criminalizadas.
Segundo levantamento do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), mais de 60 grupos de mulheres indígenas da Amazônia brasileira atuam hoje com produção têxtil e moda autoral, envolvendo mais de 3.000 famílias em cadeias produtivas sustentáveis.
Rebeca Ferreira é um exemplo disso. Moradora da comunidade Vila Nova, no baixo Rio Andirá, ela organiza oficinas de tingimento natural com mulheres da região. “Nossa moda é circular. Tudo que sai da floresta volta para ela em forma de proteção. Cada roupa vendida paga um curso para nossas meninas, garante remédio e sustento. Moda também é política de sobrevivência”, explica.
O novo futuro da moda nasce na Amazônia
A crescente valorização da moda indígena não é moda passageira — é parte do movimento global por práticas éticas e sustentáveis. E a Amazônia, com seu poder criativo ancestral, caminha para ser referência em design regenerativo.
Movimentos como o Coletivo Manas da Floresta, o Ateliê Tikuna Vivará, e a plataforma internacional Indigenous Fashion Collective ganham espaço em eventos como o Fashion Revolution Brasil, a Semana da Moda de Paris Éthique e a pré-COP30 em Belém, prevista para novembro de 2025.
A floresta tem voz, tem estilo e tem futuro. E pela primeira vez, quem veste o mundo com as cores da Amazônia é quem sempre soube cuidar dela.
O Valor Amazônico seguirá dando visibilidade a quem cria moda com propósito e respeito.