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Energia solar transforma comunidades quilombolas no Marajó e acende esperança de dignidade

Projeto pioneiro leva acesso inédito à eletricidade em áreas isoladas da Amazônia e amplia debate sobre justiça energética

Em meio às águas do arquipélago do Marajó, no Pará, comunidades quilombolas estão finalmente vivendo um direito básico que parecia distante: acesso contínuo à energia elétrica. Com a implantação de sistemas de energia solar, cerca de 1 milhão de pessoas estão sendo beneficiadas em áreas isoladas, onde o fornecimento tradicional nunca chegou de forma regular.

O projeto, parte do Programa Luz para Todos em parceria com cooperativas locais e o governo federal, representa um avanço na chamada justiça energética — conceito que defende acesso universal e sustentável à energia, especialmente para populações historicamente excluídas.

Sol que transforma vidas

A energia solar permite que famílias quilombolas passem a ter iluminação, conservação adequada de alimentos, acesso à tecnologia e mais segurança. “É uma revolução silenciosa, mas que transforma o cotidiano de quem sempre viveu à margem da estrutura pública”, destaca Maria Helena Almeida, liderança quilombola da comunidade de Itacoã, uma das contempladas no Marajó.

Com a instalação dos painéis fotovoltaicos, escolas passaram a ter iluminação adequada, postos de saúde podem conservar vacinas e pequenos comércios familiares, antes inviáveis, começaram a florescer.

Energia limpa e desenvolvimento sustentável

Além do impacto direto na qualidade de vida, o projeto impulsiona a geração de energia limpa, reduzindo a dependência de geradores a diesel — tradicionalmente usados em comunidades afastadas e considerados poluentes e de alto custo.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o modelo aplicado no Marajó já é visto como referência para a expansão em outras áreas da Amazônia Legal, com foco em comunidades tradicionais, indígenas e ribeirinhas. “Estamos inaugurando um modelo de acesso universal à energia sustentável, respeitando o modo de vida das populações amazônicas”, disse o ministro Alexandre Silveira, ao portal Valor Amazônico.

Desafios ainda existem

Especialistas alertam, no entanto, para a necessidade de manutenção adequada dos sistemas, formação de mão de obra local para pequenos reparos e garantia de políticas públicas de longo prazo. O Marajó lidera o ranking nacional de pobreza extrema e enfrentará, mesmo com o avanço da energia solar, desafios estruturais como acesso à água potável, educação e saúde.

Um primeiro passo promissor

Para a presidenta da Fundação Cultural Palmares, Rita dos Santos, a eletrificação solar é um primeiro passo importante no caminho da reparação histórica. “Não se trata apenas de eletricidade, mas de abrir portas para dignidade, educação, trabalho e cidadania no coração da Amazônia”, concluiu.

A transformação no Marajó é simbólica: energia limpa a partir do próprio sol, para iluminar o futuro de povos que sempre resistiram — e que agora começam a colher frutos concretos da inclusão.

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