Projeto Raízes aposta na bioeconomia e regularização fundiária para transformar assentamentos na Amazônia
Parceria entre BNDES e INCRA investe R$ 6 milhões em modelo inovador que alia produção sustentável, educação rural e recuperação ambiental
Um novo modelo de desenvolvimento sustentável está ganhando forma na Amazônia Legal. O Projeto Raízes, resultado de uma parceria estratégica entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), visa transformar assentamentos rurais em polos de produção verde, unindo regularização fundiária, infraestrutura social, educação, recuperação ambiental e bioeconomia.
Com investimento inicial de R$ 6 milhões, o Raízes foi lançado em quatro assentamentos no estado do Amapá, mas a meta é expandir a iniciativa para outras regiões da Amazônia Legal, promovendo impacto social e ambiental em áreas historicamente esquecidas pelo poder público.
O projeto aposta em um pacote completo de ações para mudar a realidade dos assentamentos, com manejo florestal sustentável comunitário, adensamento e agroindustrialização sustentável, educação básica e profissionalizante e apoio a governança comunitária.
O desafio da regularização fundiária
A Amazônia Legal concentra aproximadamente 120 milhões de hectares de terras públicas federais, dos quais 43 milhões seguem sem destinação definida. Parte significativa dessas áreas está ocupada por assentamentos informais, sem regularização fundiária, sem acesso a infraestrutura básica e expostos à insegurança jurídica.
O Raízes nasce como resposta a essa lacuna histórica, articulando direitos fundiários com geração de renda sustentável. “É um modelo que reconhece o direito à terra e associa isso à recuperação ambiental e inclusão econômica”, afirma a direção do BNDES.
Resultados inspiradores já comprovados
Iniciativas anteriores servem de base para o Raízes. O Projeto Raízes do Purus, implementado desde 2013 pela OPAN, mostrou como o manejo sustentável do pirarucu entre povos indígenas como Paumari, Deni, Apurinã e Jamamadi gerou resultados expressivos: aumento de mais de 600% no estoque pesqueiro, recuperação de 13 mil hectares de áreas degradadas e segurança alimentar para as comunidades.
Esse modelo inspirador reforça a convicção de que produção e conservação podem caminhar juntas, respeitando as vocações locais e promovendo desenvolvimento com floresta em pé.
Núcleos da bioeconomia
Se bem-sucedido, o Raízes tem potencial para se expandir em escala, consolidando assentamentos como núcleos de bioeconomia amazônica, onde famílias rurais geram renda com produtos florestais, reduzem a pressão por desmatamento e ajudam a combater conflitos fundiários.
O projeto também serve de plataforma de experimentação para políticas públicas inovadoras, com potencial de atrair parcerias da iniciativa privada e de organismos internacionais.
Com a expectativa de ampliação para outros estados a partir de 2026, o Raízes pode consolidar um modelo replicável em toda a Amazônia Legal, transformando áreas hoje marginalizadas em exemplos internacionais de desenvolvimento rural sustentável.