Documentários amazônicos no Festival Close e nas ruas de Manaus
Produções que celebram diversidade, cultura e resistência na Amazônia ganham as telas do 2º Close – Festival de Cinema LGBTQIAPN+ e circulam gratuitamente pela cidade durante o Mês do Orgulho
Duas produções audiovisuais com DNA amazônico, realizadas pelo KUMA Espaço de Criação, estreiam na Mostra Manuela Otto de Documentários e concorrem ao prêmio de Melhor Documentário no 2º Close – Festival de Cinema LGBTQIAPN+ de Manaus. As obras — “Márcia Antonelli: Das Palavras à Sobrevivência” e “Comida de Caboclo” (co-produção KUMA + FLORESTA) — não apenas ganham as telas do festival, mas também serão exibidas gratuitamente em escolas, universidades e espaços culturais da capital amazonense durante todo o mês de junho, como parte das atividades do Mês do Orgulho LGBTQIAPN+.
As produções trazem para o centro da cena narrativas de resistência, memória e diversidade, reafirmando que a Amazônia é também território de vozes dissidentes e de afirmação cultural.
Para Mariellen Kuma, gestora do KUMA Espaço de Criação, o audiovisual é uma ferramenta política, social e cultural.

“Esses filmes são um estímulo e um espelho. Mostram que é possível fazer cinema com nossos corpos, nossos recursos e nossas urgências. Para o cinema dissidente, representam uma contribuição concreta para descentralizar a produção e circulação audiovisual no Brasil. A mensagem que essa presença no Close transmite é clara: nossas histórias não cabem mais nas margens. Elas estão no centro da transformação cultural que queremos viver”, afirma Mariellen.
O documentário “Márcia Antonelli: Das Palavras à Sobrevivência” — Literatura como resistência, de 15 minutos mergulha na trajetória de vida e luta da escritora trans amazonense Márcia Antonelli, referência na literatura marginal e na cena cultural de Manaus.
Com mais de quatro décadas dedicadas à escrita, Márcia sobrevive da venda de seus livros nas ruas do centro histórico da cidade. Professora, editora da revista underground Sirrose e autora de uma literatura provocativa e libertária, ela se reinventou durante a pandemia, passando a vender seus livros em formato digital para apoiadores.
O filme é um retrato sensível e poético de quem transformou a palavra em instrumento de resistência, sobrevivência e existência.
“Comida de Caboclo” — Sabores que contam histórias
Idealizado por Dante Abner e co-produzido pelo KUMA e pela FLORESTA Gastronomia Cultural, “Comida de Caboclo” é uma websérie documental que celebra os saberes alimentares da Amazônia.
O episódio “Heranças à Beira do Rio Negro”, selecionado para o Close, acompanha Dante e sua avó, Maria Luiza, em um reencontro com memórias, afetos e tradições construídas à beira do rio.
A produção também dá voz a personagens como Clarinda Sateré, João Paulo Barreto, Elizete Tikuna e Rosa Malagueta, que, por meio da culinária, compartilham saberes ancestrais, histórias de resistência e reflexões sobre identidade e território.
Dante — homem trans, preto, gastrônomo, artista e pessoa com deficiência visual — conduz as conversas que acontecem enquanto cozinham pratos tradicionais, mostrando como o ato de cozinhar também é um gesto político e cultural.
Exibições abertas e gratuitas
Além das exibições no Close, os documentários percorrerão escolas, universidades e espaços culturais de Manaus, ampliando o acesso à produção audiovisual amazônica e promovendo debates sobre diversidade, identidade, memória e resistência.
Amazônia no centro da tela e da transformação
Com essas produções, o KUMA Espaço de Criação reafirma que a Amazônia é palco de narrativas LGBTQIAPN+, de corpos dissidentes e de expressões culturais que rompem silêncios históricos.
As estreias no Close e as exibições públicas durante o mês de junho são mais que eventos culturais — são afirmações de que as histórias da Amazônia diversa, plural e resistente estão no centro da transformação social e cultural que pulsa na região e no país.