Educação antirracista ganha força no Tocantins com o projeto Poder Afro
Lançado este ano, o programa já impacta mais de 60 mil estudantes do Ensino Médio e será expandido para o Ensino Fundamental em 2024
A luta contra o racismo e a valorização da cultura afro-brasileira ganharam novos capítulos no Tocantins com o lançamento do Projeto Poder Afro, promovido pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Educação (Seduc). Com um investimento de R$ 20 milhões, o projeto foi implementado em 325 escolas estaduais de Ensino Médio e já alcançou cerca de 60 mil estudantes e cinco mil professores. A iniciativa será expandida para o Ensino Fundamental no próximo ano.
O Poder Afro oferece o material didático “Minha África Brasileira e Povos Indígenas”, distribuído para apoiar o ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena. Nas escolas, o projeto tem fomentado ações como eventos culturais, oficinas e visitas às comunidades quilombolas, promovendo um ambiente escolar mais inclusivo e enriquecedor.
Fábio Vaz, secretário de Estado da Educação, reforça a importância do programa: “Vivemos em um estado onde mais de 76% da população se identifica como negra ou parda. O Poder Afro é um marco na construção de uma educação que acolhe, conscientiza e prepara nossos jovens para combater as desigualdades históricas e sociais”, afirma.

Impacto nas escolas
Em Colméia, a Escola Estadual Serra das Cordilheiras desenvolveu o projeto “Escravo nem pensar!”, abordando o trabalho escravo contemporâneo. Para a professora Maria do Desterro, o material do Poder Afro trouxe um suporte inédito ao trabalho que realiza há 25 anos: “Agora temos direcionamento pedagógico e recursos para aprofundar a discussão e engajar os estudantes”, relata.
Já na cidade de Almas, a maior concentração de comunidades quilombolas do estado, a Escola Estadual Dr. Abner Pacini utiliza filmes e leituras para enriquecer a percepção dos alunos sobre a cultura afro-brasileira. “A ideia é proporcionar uma vivência plural que fortaleça a identidade e o respeito à diversidade”, explica a diretora Marizete Cardoso.

Conexão com o Enem
O Poder Afro também se mostrou essencial no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, cujo tema da redação foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Muitos estudantes da rede estadual relataram que as aulas baseadas no projeto foram fundamentais para a construção de seus argumentos.
“Aprendemos que não basta não sermos racistas, precisamos ser antirracistas. Isso foi essencial para mim no Enem e para a vida”, destacou Augusto Miguel, estudante da 3ª série de Palmas.

Premiação e reconhecimento
Como parte do Poder Afro, o Prêmio Escola Que Transforma incluiu pela primeira vez o eixo “Africanidade”. Entre os projetos premiados está o “Narrativas de letramento racial tendo a musicalidade afrodescendente no Brasil”, desenvolvido pela professora Simone Rodrigues, em Paraíso do Tocantins.
“Esse reconhecimento é um marco na luta por uma educação antirracista. Falar sobre africanidade em sala de aula não é apenas educativo, é transformador”, conclui Simone.

Consciência Negra como reflexão e ação
Com a oficialização do Dia da Consciência Negra como feriado nacional em 2023, as escolas estaduais também reforçaram a relevância da data, promovendo atividades de reflexão e conscientização ao longo do ano letivo.
Para o secretário Fábio Vaz, o Poder Afro é uma ação concreta que coloca o Tocantins na vanguarda da educação inclusiva: “Estamos formando uma geração consciente, capaz de construir um futuro mais justo e igualitário”.
As aulas retornam normalmente nesta quinta-feira, 21, mas os impactos do Poder Afro seguem transformando vidas e abrindo caminhos para uma sociedade mais inclusiva e equitativa.