SUSTENTABILIDADETURISMO

Turismo comunitário no Amazonas é pilar de sustentabilidade diante dos impactos da seca devastadora


Empreendedores ribeirinhos enfrentam desafios econômicos e sociais, mas reforçam o papel do turismo na conservação da Amazônia, mesmo diante da severa estiagem que afeta a região


O Turismo de Base Comunitária (TBC) tem se consolidado no Amazonas como uma das principais ferramentas para a geração de renda em comunidades ribeirinhas, além de ser um aliado na preservação da floresta, da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas. Em um cenário de intensas transformações ambientais, como a seca histórica que atinge o estado, esse modelo de turismo se mostra vital para a sustentabilidade econômica e ambiental da região.

Valorizando a floresta em pé, o TBC não só ajuda a diminuir o desmatamento como também combate à pobreza, dois dos principais desafios da Amazônia. Nesse sentido, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) tem desempenhado um papel crucial, promovendo iniciativas de empreendedorismo em comunidades da região. Por meio do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Amazônia e da Incubadora Negócios da Floresta, a FAS oferece apoio a mais de 20 empreendimentos, incluindo pousadas, restaurantes e artesanatos nas Áreas de Proteção Ambiental (APA) e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro e do Uatumã.

Entre os projetos de destaque está o programa “Uma parceria pela conservação da Amazônia: uma Aliança entre Natureza e Criatividade”, iniciado em 2023 e com previsão de conclusão até 2025. Essa iniciativa, realizada com apoio do grupo LVMH – Moët Hennessy Louis Vuitton, visa fortalecer negócios locais como forma de combater o desmatamento, promovendo o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente.

Segundo Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, o turismo de base comunitária desempenha um papel fundamental para a preservação do bioma amazônico. “Essa é uma das principais atividades econômicas para as famílias ribeirinhas. Além de gerar renda, contribui para manter a floresta em pé. No entanto, enfrentamos desafios cada vez maiores, como a severa estiagem, consequência das mudanças climáticas. Isso afeta diretamente o trabalho desses empreendedores que estão na linha de frente da preservação”, afirmou Valcléia.

A estiagem de 2023 foi uma das mais intensas já registradas no Amazonas, com o Rio Negro atingindo a marca de 12,70 metros, sua maior vazante em 120 anos. O impacto foi devastador para o turismo na região, com cancelamentos de reservas e prejuízos que superaram R$ 200 mil. Em 2024, a situação se agrava, com o Rio Negro atingindo 13,73 metros em setembro, próximo de bater o recorde do ano anterior. O governo do Amazonas decretou situação de emergência em todos os 62 municípios do estado.

Roberto Brito, proprietário da Pousada do Garrido na RDS Rio Negro, relatou os desafios impostos pela seca. “Ano passado, parei de trabalhar em setembro. Este ano, só atendi clientes até o início de setembro. Sem água, perdemos o acesso, o transporte de alimentos fica comprometido e as atividades de turismo param”, comentou. Roberto destacou que sua pousada é responsável pela geração de renda para 25 famílias da comunidade.

Outro exemplo é o empreendedor José Monteiro, dono da Pousada Mirante do Uatumã, na RDS Uatumã, que oferece ecoturismo e pesca esportiva. Ele relata os impactos diretos da seca na logística e nas operações. “Com a seca, a distância para buscar turistas triplica, e os pontos de pesca ficam reduzidos em até 80%. Isso compromete o faturamento e torna muito difícil manter a operação”, explicou.

Os empreendedores da floresta reforçam que, além de serem vitais para a conservação da Amazônia, suas atividades sustentáveis necessitam de maior apoio do poder público, não apenas em situações emergenciais. “Precisamos de um planejamento que vá além do socorro imediato. Sem água, sem acesso e com a floresta sendo destruída, o turismo comunitário não tem como prosperar. E é essa atividade que mantém a floresta em pé”, desabafou José.

Fotos: Divulgação/Assessoria

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