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Possibilidade de pavimentação da BR-319 atrai exploradores e põe em risco floresta, diz cientista

Biólogo Philip Fearnside, do Inpa, vem alertando para os riscos da pavimentação da BR-319

Mesmo antes da licença definitiva a ser dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as obras de pavimentação da BR-319 já são vistas no chamado Trecho do Meio, é o que mostra um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), destacando que a reconstrução da estrada põe em risco o equilíbrio climático global por ameaçar “o último grande bloco de Floresta Amazônica intocada”.

Em artigo divulgado nas suas redes sociais, o pesquisador do Inpa, biólogo Philip M. Fearnside, vem alertando para os riscos da pavimentação da BR-319.

“Os planos de pavimentação da velha estrada, um longo atoleiro abandonado há três décadas ao sul de Manaus, já vinham causando preocupação na comunidade científica desde o início do atual governo, época que se iniciaram os ‘serviços de manutenção e conservação’”, disse o pesquisador, para quem a pavimentação da rodovia irá permitir que desmatadores migrem livremente do Arco do Desmatamento, no sul da Amazônia Legal, para vastas áreas de floresta que sobrevivem em grande parte por conta da dificuldade de acesso.

Nos dados atualizados sobre a BR-319 em março deste ano, o biólogo afirma que a situação de destruição da Amazônia “foi agravada pelo desmonte dos órgãos e da legislação de controle ambiental durante o governo de Jair Bolsonaro e será um desastre social, econômico e ecológico”.

A rodovia foi inaugurada no início dos anos 1970, durante a ditadura militar, projetada para ser um eixo colonizador de 830 km entre Porto Velho e Manaus, uma região de floresta densa, muito pouco habitada.

Até os anos de 1980, o asfalto foi mantido pelo governo militar por toda a estrada, fase em que os viajantes gastavam cerca de 12 horas entre as duas capitais.

Abandonada desde a redemocratização, a obra não alcançou seus objetivos, pois sem reposição do asfalto por mais de 30 anos, metade da estrada foi consumida pela floresta, o que afastou os exploradores.

Entretanto, com os “serviços de manutenção e conservação”, implementados por Bolsonaro no fim de 2019, está voltando o tráfego na BR-319 e os piores tipos de exploradores, segundo o pesquisador.

Após o Ibama dar licença prévia à iniciativa de asfaltar os 405 km restantes da rodovia, abandonados há 30 anos, atraiu os exploradores.

Na semana passada, foi colocada em operação a primeira usina móvel de asfalto contratada pelo governo, dentro do Trecho do Meio, próximo à sede do município de Careiro Castanho (AM).

O Ibama emitiu uma nota em 15 de setembro enviada à agência Mongabay informando que a licença prévia emitida atesta a viabilidade do empreendimento para a etapa de planejamento do projeto e não autoriza, ainda, a realização de obras no trecho em licenciamento. “É importante destacar que o empreendedor precisa apresentar estudos que visem mitigar todos os impactos ambientais previstos”, destaca a nota.

Entretanto, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou 3.300 pontos incendiários dentro da Amazônia Brasileira, o pior cenário em 15 anos.

No Trecho do Meio da BR-319, quem viaja por terra pode ouvir ruídos de motosserra e ver caminhões carregados de toras deixando os ramais abertos na mata. Em alguns trechos, caçadores são vistos durante a noite, carregando animais abatidos ou ainda vivos. Entretanto, é o fogo que não encontra limites e se faz onipresente especialmente nesses últimos dias, consumindo toda a margem da questionável rodovia, dizem os pesquisadores.

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