COLUNASOsíris M. Araújo da Silva

ZFM-2073, PRÉ-CONDIÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO PIM/BIOECONOMIA

Osíris M. Araújo da Silva (*)

O novo modelo ZFM-2073 transcende à matriz industrial consubstanciada no DL 288/67. Estudos de cientistas do INPA, professores da universidade, como também de amazonólogos de respeito mundial, como Samuel Benchimol e Bertha Becker apontam caminhos novos e desafiadores. Uma das maiores autoridades em geopolítica amazônica, a professora e pesquisadora Bertha Becker, a propósito, observa: a extraordinária riqueza da biodiversidade amazônica torna-se a menina dos olhos da ciência por codificar a vida abrindo novas fronteiras na biologia.

Becker é peremptória: “a ciência e tecnologia abrem amplas possibilidades para aproveitamento da biodiversidade em novos patamares atendendo à multiplicação das demandas sociais nos últimos 25 anos. O novo valor atribuído ao potencial de recursos naturais, aponta, “confere à Amazônia o significado de fronteira do uso científico-tecnológico da natureza e, em sintonia com a política da formação de grandes blocos supranacionais, revela a necessidade de pensar e agir na escala da Amazônia sul-americana”.

Não é, definitivamente, tarefa para amadores. Sobretudo levando em conta, ao que aponta Bertha Becker, a existência de três grande eldorados que “podem ser reconhecidos contemporaneamente: os fundos oceânicos ainda não regulamentados, a Antártida, partilhada entre as potências, e a Amazônia, única a pertencer, em sua maior parte, a um só Estado Nacional”. Aqui reside a chave do futuro da Amazônia e de nossa Zona Franca de Manaus turbinada pelas novas cadeias produtivas geradas por esse imenso e praticamente inesgotável potencial econômico de nossa biodiversidade. Mesmo exigindo tomadas de decisão via políticas públicas adequadas ao cenário conjuntural e à produção de eficácia, o processo ainda transcorre muito lentamente. 

O empresário Jaime Benchimol, presidente do grupo Fogás, é categórico: “precisamos explorar nosso vasto potencial ecoturístico e suas amplas variantes, desde hotelaria de selva, pesca e outros esportes aquáticos, como canoagem, observação de pássaros e animais silvestres; além da mineração, petróleo e gás, exploração florestal sustentável, etc.”. Entretanto, o tempo corre celeremente e continuamos aguardando o amanhã, que nunca chega. Manaus, todos concordam com a proposição de Bertha Becker, pode vir a se tornar a capital mundial dos serviços ambientais. As portas estão escancaradas, precisamos adentrar ao proscênio e exercer nosso papel, afirma Benchimol.

Análise do pesquisador do Inpa, Niro Higuchi, avalia: “como no Vale do Silício, nos Estados Unidos, berço da indústria de informática, a premissa é colocar gente talentosa, e inteligente para produzir conhecimento e soluções a partir de talentos locais e da bagagem de mais de 20 mil anos de relacionamento entre o homem e a floresta”. Sem qualquer dúvida, “o vale da biotecnologia, da bioengenharia genética, para equacionar os enigmas que atormentam a espécie humana é nossa maior vocação de negócios”, salienta. Nessa direção, universidade, pesquisa e classes empresariais precisam convergir propósitos e ajustar o discurso. Dessa conjunção nasceu o Silicon Valley, berço de gigantes globais como Apple, Facebook e Google.

Segundo a ONU, o mundo alcança uma população superior a 9 bilhões de habitantes até 2050. Para alimentar esse extraordinário contingente humano, a produção de alimentos deverá aumentar cerca de 40% em relação aos níveis atuais. A Amazônia, em particular, têm potencial para contribuir com esse esforço nos campos de produção de carnes, peixes, grãos, hortifrutis, além de matérias essenciais em estratégicos setores correlatos da bioeconomia, fertilizantes e defensivos agrícolas naturais; biofármacos, biocosméticos, etc. A hipótese, com efeito, sustenta-se na necessidade de desenvolver novo modelo de desenvolvimento em harmonia com as diretrizes governamentais de crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade socioambiental.

*Osíris M. Araújo Silva é economista, consultor empresarial e escritor. Membro do Inst. Geográfico e Hist. do Amazonas, do GEEA do INPA e do Corecon-AM

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