DESTAQUEMEIO AMBIENTEREGIÃO AMAZÔNICA

Em meio ao aumento da atividade garimpeira, águas de Alter do Chão ficam turvas e preocupa pesquisadores

Cientistas e moradores suspeitam de contaminação no rio de uma área conhecida como o ‘Caribe Amazônico’. Quem visita o distrito paraense costuma se deleitar com as águas límpidas e azuladas do Tapajós

As águas que banham as praias de areia clara de Alter do Chão, município de Santarém, no estado do Pará, estão turvas e barrentas. O fenômeno tem alarmado moradores e agências de turismo, que temem prejuízos à principal atividade econômica do distrito e à saúde dos moradores do local.

O temor é de que a mudança na água seja uma consequência do aumento do garimpo no curso médio do Tapajós, o maior polo de mineração ilegal no Brasil. O garimpo contamina os rios com mercúrio, que pode provocar doenças neurológicas.

Imagens de satélite mostram que nos últimos anos houve um crescimento vertiginoso do garimpo de ouro no Médio Tapajós, região que fica a algumas centenas de quilômetros de Alter do Chão.

Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) monitora a área desde 2014 e identificou aumento nos níveis de mercúrio no sangue dos moradores de Santarém. De acordo com a Polícia Federal (PF), garimpeiros despejam 7 milhões de toneladas de rejeitos no Rio Tapajós.

“Não é só pela cor da água, mas também pela contaminação que vem junto com essa cor, que é o mercúrio que vem da exploração da atividade garimpeira no alto Tapajós”, diz o artesão Laudelino Sardinha.

Desde a última quarta-feira (19/01), o governo do Pará mandou uma equipe para sobrevoar Alter do Chão e diz que vai analisar a situação na área, que é de preservação ambiental.

“Começar a montar uma fiscalização específica para a área do Rio Tapajós, bem como fazer uma análise dos reais motivos dessa turbidez”, disse o secretário de Meio Ambiente do Pará, Mauro de Almeida.

“São centenas de quilômetros de praia no Rio Tapajós que agora estão sendo banhadas por águas barrentas. O transparente da água, que é um atrativo a mais, está comprometido”, afirma o morador Dórisson Lobato.

Os garimpos ilegais ficam a cerca de 300 quilômetros de Santarém. Antes, por causa da distância, a maior parte dos resíduos acabava armazenada no caminho. Mas com o aumento de áreas degradadas, a poluição chegou a Alter do Chão.

Segundo o Instituto Socioambiental, em apenas um ano, a área devastada pelo garimpo ilegal na terra indígena Munduruku cresceu mais de 300%.

“Esse problema da contaminação está atingindo praticamente toda a bacia do Tapajós e colocando em risco não só as populações tradicionais, mas todo o cidadão amazônida”, afirma Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz.

A Universidade Federal do Oeste do Pará monitora a área desde 2014 e identificou aumento nos níveis de mercúrio no sangue dos moradores de Santarém.

“Esses níveis de exposição, a gente considera elevados, considerando o limite que é estipulado pela Organização Mundial da Saúde, que é de até 10 microgramas por litros, e nós temos voluntários que apresentam até 10 vezes mais”, conta a pesquisadora Suelen Souza, da Ufopa.

Outro reflexo do desmatamento é a maior presença de algas e bactérias, que liberam substâncias tóxicas.

“Pode ser algo que está influenciando o aumento dessas bactérias, na coloração, assim como outros usos de solo que não são sustentáveis”, diz a pesquisadora Dávia Talgatti, da Ufopa.

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