DESTAQUEEDUCAÇÃO

Cientistas fazem renúncia coletiva de medalha concedida pelo presidente Jair Bolsonaro

Gesto foi motivado pela exclusão dos cientistas Marcus Vinícius Guimarães Lacerda, pesquisador da Fiocruz, e Adele Schwartz Benzaken, diretora da Fiocruz Amazônia da lista de agraciados

Cientistas com condecorações da Ordem Nacional do Mérito Científico fizeram uma renúncia coletiva da medalha concedida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O gesto foi motivado pela exclusão de dois cientistas da lista de agraciados que haviam sido alvos de apoiadores do governo federal.

Mais de 20 cientistas assinaram a carta em apoio a Marcus Vinícius Guimarães Lacerda, pesquisador da Fiocruz, e Adele Schwartz Benzaken, diretora da Fiocruz Amazônia.

Nesta sexta-feira (5/11), em decreto publicado em edição extra do Diário Oficial da União, Bolsonaro anulou a admissão dos pesquisadores na classe de “comendador” por conhecimentos sobre ciências da saúde.

Os cientistas que assinam o documento afirmam estar honrados com a possibilidade de serem agraciados com “um dos maiores reconhecimentos que um cientista pode receber” no Brasil, mas salientam que a homenagem é oferecida por um governo que “não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva”.

“Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas”, declaram.

Lacerda foi o coordenador de um estudo no Amazonas feito em abril de 2020 que concluiu não haver benefícios no uso de altas doses de cloroquina em pacientes graves de Covid-19. Após a divulgação dos resultados da pesquisa, ele se tornou alvo de ameaças de morte e ofensas pessoais por parte de apoiadores do presidente, o que o fez andar com escolta armada no ano passado.

Já a diretora da Fiocruz Amazônia, Benzaken foi demitida do departamento que elaborava as políticas para prevenção, vigilância e controle de infecções sexualmente transmissíveis do Ministério da Saúde no início de 2019. A saída do cargo teria relação com uma cartilha voltada para a saúde de homens trans.

Os cientistas haviam recebido a condecoração por meio de um decreto presidencial publicado na última quinta-feira (4). Na ocasião, o próprio Bolsonaro recebeu a condecoração na classe Grã-Cruz.

Isso ocorreu, pois, as regras sobre a Ordem Nacional do Mérito Científico determinam que serão agraciados com a condecoração o presidente da República, o ministro da Ciência Tecnologia e Inovação, entre outros.

Antes da exclusão dos pesquisadores, o epidemiologista Cesar Victora já havia recusado o título de grão-cruz da ordem concedido pelo governo federal na última quarta-feira (3/11). Segundo carta-aberta escrita pelo médico, mesmo que seja um grande “reconhecimento para qualquer cientista brasileiro”, o deixou dividido por ter sido feito por uma gestão que “não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva”.

Pular para o conteúdo