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Casa dos Matacões preserva memória de povos ancestrais que viveram na Vila de Balbina

No local, estão protegidos e preservados quatro exemplares de matacões, que são grandes blocos de rochas parte do acervo resgatado antes do alagamento da área ocupada hoje pela UHE de Balbina

Ana Celia Ossame

A Casa dos Matacões foi idealizada e organizada pela Inside Consultoria Científica, empresa que atua em estudos direcionados à proteção do patrimônio arqueológico, financiada pela Eletrobras Amazonas Energia, com o apoio da Universidade de Integração Internacional de Lusofania Afro-Brasileira (Unilab) e Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

É a primeira do estado do Amazonas, situada na Vila de Balbina, no município de Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), onde foi instalada a polêmica usina hidrelétrica na década de 80 do século passado.  No local, estão protegidos e preservados quatro exemplares de matacões, que são grandes blocos de rochas parte do acervo resgatado antes do alagamento da área ocupada hoje pela Usina Hidrelétrica de Balbina (UHE).

Gravuras encontradas nos matacões salvos da área alagada da Usina Hidrelétrica de Balbina são registros deixados pelos povos que habitavam a região há centenas de anos

Os matacões contêm gravuras feitas pelos povos que viveram ali há centenas de milhares de anos. A solenidade de inauguração casa, ocorrida no último dia 11 de junho, foi realizada numa sala do Centro de Pesquisas e Reabilitação de Animais Silvestres (Cepras) localizada na Vila de Balbina.

Assim que for possível, por conta da pandemia, será aberta à visitação pública. O Centro recebia visitação pública antes da pandemia e com a Casa dos Matacões, terá ampliado o seu circuito de visitação.

Equipe de arqueólogos da Inside Consultoria responsável pela organização da Casa dos Matacões

A criação da casa foi idealizada e organizada pela Inside Consultoria Científica, empresa que atua em estudos direcionados à proteção do patrimônio arqueológico, financiada pela Eletrobras Amazonas Energia, com o apoio da Universidade de Integração Internacional de Lusofania Afro-Brasileira (Unilab) e Universidade Federal de Rondônia (Unir).

De acordo com o arqueólogo Wagner Veiga, sócio-diretor da Inside Consultoria, a importância da inauguração dá-se pela oportunidade de se preservar registros feitos pelos povos que ocupavam aquela área há milhares de anos, assim como dá uma satisfação para as pessoas que acompanharam o trabalho de salvamento do material e que ficou por muito tempo sem tratamento algum.

Os matacões estão entre os materiais arqueológicos resgatados entre 1987 a 1988, pelo Programa de Salvamento do Patrimônio Cultural e Arqueológico na Área do Reservatório da Usina Hidrelétrica de Balbina, que também estão sendo alvos de estudos pela Inside, explicou.

Fazem parte do material arqueológico recolhido mais de 1,5 mil fragmentos de antigos utensílios de cerâmicas usados pelas sociedades passadas, que a partir da contratação da Inside Consultoria, está recebendo tratamento adequado visando sua identificação e busca de informações para sua melhor compreensão. 

A sala do Cepras onde está Casa dos Matacões recebeu o nome de Sala Luiz Alexandre da Silva Barbosa, em homenagem a um dos arqueólogos que trabalhou no projeto desde o início dos trabalhos, em 2019, mas que faleceu ano passado.

Amostras

A Casa dos Matacões terá exposição permanente com amostras de quatro rochas selecionadas durante o período de salvamento. São pedras pesando toneladas que estavam acondicionadas no Centro de Proteção Ambiental (CPA), em Balbina.

“Pensei em como aproveitar o material para expor ao público e propus ao Iphan (Instituto de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) fazer a exposição e eles aceitaram”, explicou Wagner.

Os estudos dessas gravuras, vai permitir conhecer melhor a história da cultura da nossa região, disse Wagner, destacando ainda a exposição de uma maquete do Centro de Preservação Ambiental (CPA), projeto premiado do falecido arquiteto Severiano Mário Porto, conhecido como o “Arquiteto da Floresta”, além de flechas indígenas.

Preservação

Na inauguração, o representante da Secretaria de Cultura de Presidente Figueiredo, arqueólogo Marco Antônio Lima da Silva, destacou a importância do resgate da memória do salvamento arqueológico da área do reservatório de Balbina, onde ele trabalhou.

“Eu participei da primeira etapa do trabalho, que não teve continuidade, mas que agora, finalmente, pode ser o início da retomada do turismo em nível cultural de Presidente Figueiredo”, afirmou ele, chamando a atenção que o museu vai atrair um público mais qualificado e de maior conhecimento para conhecer o material exposto.

Jomara Braga, que trabalha no projeto de Balbitur, voltado para o turismo da Associação dos Moradores da Vila de Balbina, afirmou ser importante a inauguração da casa como forma de atração de turistas para o município.

Ela participou do curso de formação feito pela Inside visando a formação de moradores da Vila de Balbina, tiveram como ponte de discussão a educação patrimonial e as técnicas adequadas para trabalhar com o acervo arqueológico resgatado da área que seria alagada. Para ela, foi uma oportunidade ímpar para aprender mais sobre a história do município.

Também presente no evento de inauguração foi Maria Eliza de Souza Maia, que também fez curso de formação para trabalhar com material arqueológico no município. Formada em Ciências Biológicas, ela viu a inauguração da Casa dos Matacões como um marco importante para deixar registrada a história de Balbina.

Atualmente, por conta da pandemia do Covid-19, não há como abrir a casa para visitação. Quando isso for possível, a empresa divulgará como agendar a visitação por meio do seu site https://insideamazonia.com.br/.

Fotos/Imagens: Andreza Jorge

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