CACHO DE UVASDESTAQUE

O local onde se harmoniza vinhos finos, é uma sala de aula

Por Humberto Amorim

“O segredo é beber para conhecer e escolher bons vinhos ”

Impossível imaginar todas as revelações, descobertas e ensinamentos que colhi durante as degustações de vinhos, feiras temáticas, lançamentos de rótulos, palestras, visitação à vinícolas, festivas de confrarias e eventos focados na cultura de promoção dos vinhos finos, ao longo de tantos anos passados. Sabe o que é ainda mais fascinante? Continuo nessa vibe. Grazie dio!

É sempre gratificante, deixar o local dos encontros festivos que foram permeados pelos sabores e aromas dos sucos da bíblia, carregando na memória e no coração, além das lembranças dos instantes inesquecíveis do convívio saudável com pessoas que comungam comigo do mesmo gosto pelos nobres fermentados. Essas pessoas, são ávidas pelos conhecimentos que colhem nesses eventos, pois contribuem permanentemente. Para o aprimoramento do gosto pelos vinhos. Isso sem mencionar as incontáveis e inéditas ampolas que, como de hábito, levamos para casa, para manter esticado o prazer que os vinhos oferecem.

Vou falar uma coisa só pra ti. Nunca vi uma sessão dessas (algumas horas bebendo vários vinhos) em que alguém saísse sem aprender um pouco mais, e sem um estupendo bom humor.  Baseado nessas experiências todas, continuo dizendo sempre: se der, participa dos eventos vínicos, e prova de tudo que for oferecido, não deixa escapar nada. So existe lucro nisso.

No caso especifico da confraria cambada de edwine lovers manaus, a única confraria a desenvolver como prática as degustações às cegas, desde o nascedouro em 2009, cada confrade ao dar as dicas permitidas para facilitar o acerto dos aromas e castas do vinho da vez, assume o papel do professor que repassa na sala de aula o que sabe para os “alunos” que não perdem nenhum detalhe das explicações que levam à agradáveis revelações, até então, presas na garrafa.

O gosto, bem como os vinhos, evoluiu.  Em priscas eras, o vinho era degustado com a mistura de água e especiarias, isso já não acontece mais. Tem outro fator muito importante pra gente considerar, a oferta de rótulos é tão variada que a tendência é termos inúmeras preferências.

Acho que somente através da experimentação e conhecimentos colhidos nessas ocasiões coletivas é possível identificar os vinhos que agradam ao paladar, da mesma forma que convém ir memorizando aqueles que desagradam, para que sejam evitados. O apreciador curioso, que nem eu, terá cada vez mais prazer ao comprar uma garrafa daquele vinho que já sabe que aprecia, e, ao mesmo tempo, comprar uma que não conhece. É muito gostoso experimentar um vinho novo. Dependendo, vai entrar imediatamente na lista com aqueles que tu poderás repetir. Senão, vai direto pra lista negra, a “must have” de todo enófilo.

Sabes de uma coisa interessante? Com o passar do tempo vais perceber que muitos dos teus vinhos têm coisas em comum. Por exemplo: são argentinos uruguaios, portugueses, italianos ou gaúchos. Como cada país tem seu perfil climático, de terreno, de tradições de cultivo e produção, ocorre que seus vinhos tenham características comuns. Talvez tu prefiras a fineza dos vinhos franceses (sutis e delicados), a potência dos uruguaios (sempre marcantes), ou vice-versa. Outro exemplo: tu podes perceber que os vinhos que tu tendes a gostar são vinhos da mesma uva, ai então tu começas a descobrir as tuas quedas por essa ou aquela cepa.

Eu acho normal que as pessoas se afeiçoem à certas uvas, pois cada uma delas tem aromas e sabores bem típicos, muito embora, pessoalmente, eu seja totalmente infiel à todas elas.

A boa notícia é que nos últimos anos o brasil passou a importar e a produzir bons vinhos, contando hoje com um estoque invejável de produtos. A notícia que me incomoda é que sobrevive entre nós uma aura de esnobismo em relação ao vinho, indicando (falsamente) que para apreciar a bebida, é preciso ter muito dinheiro e conhecimento. Assim, muita gente desiste de experimentar só de imaginar que possam ser necessários anos de estudo para escolher o que beber.

A verdade é bem diferente: há vinhos bons e baratos, assim como é possível apreciar um bom vinho mesmo que não se tenha uma longa experiência na área. Será que não existe um atalho para que possamos escolher o que beber, sem que seja preciso carregar um gigantesco cabedal de conhecimento?

A resposta para essa indagação eu busco nos tempos em que ninguém degustava vinhos em Manaus o ano todo ou publicamente. Não existiam as adegas, bons restaurantes, ou vinhos finos em exposição nas prateleiras dos supermercados ou empórios, como acontece agora. Sabe o que tínhamos? Tínhamos o club do whisky liderado pelo saudoso e muito querido Benedito Lyra. Todos apreciávamos os destilados escoceses, e ninguém ficava constrangido ao pedir uma dose daquele famoso whisky do rótulo vermelho ou preto.  Sabíamos por causa do disse- me- disse que o “BLACK LABEL” era “melhor” do que o  “RED LABEL”. Mas, até hoje, francamente, não sei direito o porquê disso. Tinha outra coisa. A dose de um era um pouco mais barata que do outro. Nunca senti qualquer diferença de sabor nos dois. Pra mim era o autêntico whisky escocês do bom, servido com pedras de gelo, e bastava.

Como cheguei à essa conclusão? Fazendo cursos? Lendo uma extensa literatura? Claro que não. Bebia mais de uma marca famosa de whisky (Logan, White Horse, Old Parr, Dimple, Balanttines), e, através da minha experiência etílica pessoal, achava todos deliciosos uns mais fortes e outros menos. Era isso aí.

 acho que o mesmo funciona perfeitamente para os iniciantes no mundo dos vinhos. Aqueles que querem degustar vinhos com certa frequência, não precisam começar necessariamente pelos livros ou cursos (em alguns casos não passam de autênticos caça níqueis), mas pelo próprio prazer. É teu paladar, teu gosto, que dita aquilo que te agrada, e o tipo de vinho que prefere.

Meu conselho – cuidado com os enochatos, não dê atenção à eles!

Minha dica – o fundamental é experimentar e aprender, por si só, das suas preferências, e adota-las. O apreciador de vinhos finos terá mais emoção a medida que conseguir identificar os detalhes da qualidade da bebida que está sorvendo. Frequenta as salas de aula de uma confraria, palestra profissional, lançamentos de rótulos, dentre outros eventos, e te prepara para usufruir com a mente aberta, os grandes, deliciosos e aromáticos acontecimentos que irão mudar e marcar tua vida na companhia de enófilos muito especiais, que nem tu.

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