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Jovens indígenas lançam podcast sobre covid-19 e outros temas que afetam os povos da Amazônia

Projeto denominado ‘Vozes Indígenas da Amazônia’ é realizado pela Coiab, em parceria com o Unicef e Fiocruz e envolveu 31 jovens de nove estados da Amazônia Brasileira

A rede de jovens comunicadores indígenas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) lançou o podcast ‘Vozes Indígenas da Amazônia’. A produção é resultado do projeto Povos Indígenas da Amazônia no Combate à Covid-19 (Piaac) realizado em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O material está disponível na plataforma de streaming Spotify.

A rede é composta por 31 jovens indígenas dos nove estados da Amazônia Brasileira. O podcast conta com seis episódios e aborda temas, como: vulnerabilidade, falta de assistência, não-luto; assédio e violências nas comunidades indígenas, fake news, acolhimento e escuta. A edição de áudio do projeto é de Cristian Wari’u e as ilustrações são de Júlia Ribeiro e Mariana Bentes.

O primeiro episódio do podcast foi criado pela equipe ‘Tucano’ e aborda o tema “Vulnerabilidade dos povos indígenas em meio à pandemia do novo coronavírus”, e relata como os povos indígenas têm enfrentado essa doença invisível nesse período e como seus parceiros e colaboradores têm atuado nesse enfrentamento. As lideranças entrevistadas nesse episódio foram Sílvia Puxcwyj Kritakati, Jackson Wywyhr Krikati, Otávio Kaxuyana Tiriyó, Miguel Wepaxi e Iternilza Pereira.

“Tivemos muitos desafios ao longo desse trabalho e quebramos muitas barreiras. Fomos os responsáveis por todas as etapas do processo, desde a criação do roteiro, elaboração das perguntas e organização do material. Dentro das nossas aldeias fomos muito bem recebidos e todos participaram. Depois que fizemos a gravação, organizamos todo o conteúdo para poder seguir para edição. Gostei muito de participar deste trabalho”, contou Pepyaká Krikati, do povo krikati, do sudoeste do Maranhão, que integrou a equipe Tucano.

O segundo episódio, da equipe ‘Boto’, destaca a “Falta de assistência e medicamentos durante a pandemia” e os desafios enfrentados frente à atuação do poder público, as alternativas desenvolvidas pela comunidade para combater o vírus, além dos apontamentos de mecanismos que minimizem os efeitos da pandemia. As lideranças entrevistadas nesse episódio foram Filó Baré, Juliana Karitiana, Luzirene Guajajara, Karapirijerã Waiãpi, Roque Tikuna e Tito Arcanjo Tariano.

O terceiro episódio fala sobre as mortes nas comunidades indígenas causadas pelo coronavírus. “Não-luto” retrata a dor da morte, o não luto e como os pajés lidaram com essas perdas.  A entrevistada desse episódio foi Rejane Kaingang, psicóloga indígena.

“A dor da perda junto à dor de não poder participar do funeral e dos ritos de passagem, geram um sentimento de revolta para nós povos indígenas. Em nosso episódio, falamos sobre como cada integrante passou por isso em sua comunidade. E o como estamos lidando com esse sentimento de ausência no nosso dia-a-dia. Falar sobre o “Não-luto” demonstra como a pandemia da Covid-19 deixou consequências muito dolorosas para todos. E esperamos que com a nossa fala, cada pessoa que nos ouvir possa entender um pouco das nossas dificuldades”, afirma Mariana Aikanã, que é de Rondônia e integrante da equipe Jacaré. 

Combate à violência e fake news

Abordando temas atuais, os três episódios seguintes que integram a série de podcast trazem conversas com profissionais e lideranças indígenas. “Assédio e Violências nas Comunidades Indígenas”, gravado pela equipe ‘Onça Pintada’ entrevistou Selma Karajá, coordenadora da escola indígena, o cacique Siriwen Xerente, Valdo Tembé, Neuci Baré, Marivelton Baré.

O episódio cinco, abordou as Fake News e suas influências na vida dos povos indígenas e as consequências negativas para as comunidades. Os jovens comunicadores apresentaram exemplos de fake news e, ainda, de como identificá-las e combatê-las. As lideranças entrevistadas foram Dassu Huni Kui e Hakakwyi Haraxare Kritatjê, Concita Gavião e Adilson Baniwa.

O último episódio da série “Acolhendo e Construindo Pontes de Escuta”, da equipe Macaco falou sobre a necessidade de colocar em debate o tema do assédio e violência e a importância de denunciar e criar pontes de acolhimento para as vítimas de todos os tipos de violência. A liderança entrevistada é Telma Taurepang, coordenadora da União de Mulheres Indígenas da Amazônia (Umiab).

Jama Wapichana, do povo Wapichana, mobilizadora do estado de Roraima, pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) integrou o projeto Piaac como mobilizadora e atuou na realização das entrevistas.

“A interação foi muito maravilhosa. Fazer parte desse projeto exigiu muita responsabilidade da nossa parte, em respeito à nossa instituição, às nossas comunidades onde trabalhamos, onde efetuamos questionários e ouvimos as populações. Eu aprendi bastante, ouvindo e podendo entender como funciona esse processo comunicacional desde sua construção. Tivemos situações difíceis onde ouvimos sobre violência contra as crianças, contra as mulheres, mas entendo que para nossa formação esse projeto foi essencial”, comentou Jama. 

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