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Grupo criminoso que comandava desmatamento e venda ilegal de madeira em Manacapuru era formado por empresários

Interceptações telefônicas ajudaram a revelar a cadeia de atuação do grupo criminoso, formado por empresários moveleiros, serralheiros, extratores ilegais, motoristas e agentes públicos que recebiam propina para liberar as cargas ilegais.

Deflagrada pelas Polícias Civil e Militar do Amazonas, a Operação Flora Amazônica desarticulou uma organização criminosa responsável por desmatamento e comércio ilegal de madeira no estado. Vinte e oito mandados de prisão foram cumpridos, oito pessoas foram detidas, além de 16 caminhões, cinco carmas de fogo, R$ 20 mil em espécie e mais de mil metros cúbicos de madeira apreendidas. A operação ocorreu, na nesta terça-feira (02/06), em Manaus e em Manacapuru, município distante 69 quilômetros da capital.

As investigações duraram cerca de quatro meses, conduzidas pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), da Polícia Civil.
Nesta terça, a ação foi coordenada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) e teve a participação do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente (Dema).

Histórica

O secretário de Segurança, coronel Louismar Bonates, afirmou que esta é a maior operação já realizada no Amazonas. “Temos certeza que mais de nove mil árvores centenárias foram derrubadas. Durante as investigações, isso foi apurado. Mais de 400 policiais participaram dessa operação bastante exitosa, em que conseguimos tirar de circulação pessoas que estavam suprimindo madeiras do nosso estado”, afirmou.

A delegada-geral da Polícia Civil, Emília Ferraz, destacou o apoio da Polícia Militar e da SSP-AM durante a ação. “O comandante (Ayrton) Norte disponibilizou quase 200 homens para cumprir conosco esses mandados. Agradecemos aos colegas policiais, de modo geral, que, mesmo em período de pandemia, continuam fazendo o seu trabalho. Também agradecemos ao apoio do secretário de segurança que esteve conosco em todo esse processo”, disse.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ayrton Norte, reafirmou que o compromisso da tropa é manter o Sistema de Segurança unificado. “Nosso trabalho, desde que assumimos o Comando, foi de estar integrado e, sem dúvida, esta é uma operação que marca na história do Amazonas”, disse.
Esquema de atuação

Interceptações telefônicas ajudaram a revelar a cadeia de atuação do grupo criminoso, formado por empresários moveleiros, serralheiros, extratores ilegais, motoristas e agentes públicos que recebiam propina para liberar as cargas ilegais.

O DRCO acompanhou, em sigilo, a apreensão de madeira transportada pela quadrilha, o que deu maior robustez ao conjunto de provas.
“Essa organização criminosa diariamente passava com caminhões de Manacapuru para Manaus. São diversas madeireiras em Manaus e serralherias, em Manacapuru, que estão sendo lacradas. Em todas elas, nós encontramos madeiras retiradas de forma ilegal. Alguns empresários compravam 10% de madeira legal e 90% de madeira ilegal”, explicou o diretor do DRCO, delegado Rafael Allemand.

O esquema criminoso envolve 12 serralherias de Manaus e Manacapuru, que misturavam a madeira ilegal com peças devidamente regularizadas a fim de burlar a fiscalização de órgãos ambientais.
Árvores centenárias

De acordo com a Polícia Civil, em dez meses, os membros da organização derrubaram em torno de nove mil árvores centenárias de regiões de mata nativa de Manacapuru. Espécies como Castanheira, Cupiuba, Seringueira, Angelim, Sumaúma, Cedro e Muiratingas eram extraídas e comercializadas ilegalmente nas duas cidades.

“Em Manacapuru, o núcleo empresarial dessa organização era forte, consolidado há vários anos. Não esperavam uma ação dessa magnitude”, afirmou o titular da Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Manacapuru, delegado Rodrigo Torres.

De acordo com a investigação, 95% da madeira vendida pelos empresários era de origem criminosa. O material abastecia o comércio das duas cidades e a liderança era exercida por um núcleo empresarial que fomentava a prática dos crimes ambientais e planejava represálias a delegados.

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